A Forma da Adoração

Há Realmente Critérios Para a Música Sacra?

por: Pr. Douglas Reis

Os adventistas creem possuir “luz especial”, dada pelo Senhor, a fim de anunciar ao mundo a segunda vinda de Jesus (veja o capítulo 2). [1] Sua visão de mundo os identifica como o povo de Deus – existem para cumprir a missão, a qual consiste em convidar o mundo a adorar corretamente o Deus verdadeiro (Apocalipse 14:7). Entretanto, o contexto cultural no qual surgiu o adventismo difere da nossa época (veja o capítulo 12). Vivemos o período conhecido como pós-modernidade, caracterizado por um relativismo avesso à verdade absoluta. [2] O choque entre a visão adventista e o espírito desta época afeta a questão da adoração. Afinal, como admite o teólogo Sproul, “[…] quando chegamos na beleza, nós seguimos o ritmo imposto pelos pós-modernistas. Quando a beleza é relegada a uma simples questão de gosto, quando o pós-modernismo insiste que não há um padrão transcendental para a beleza, a Igreja responde com um ressoante ‘amém’”. [3]

Justamente por isso, recentemente, muitos adventistas passaram a negar que a adoração seja pautada por princípios imutáveis ou mesmo que seria impossível determinar se uma forma de adorar é mais adequada do que outra. Some-se a isto que boa parte da produção fonográfica denominacional sofre a influência de músicos cristãos de outros segmentos, que, obviamente, não são orientados por supostos princípios adventistas. Por quais razões isso se dá? Muitos adventistas jamais consideraram que sua visão de mundo deve selecionar e produzir música que reflita identidade singular da denominação. Assim, tais pessoas formam critérios pessoais sobre o que envolve a música (como música para a adoração, para entretenimento, para a devoção pessoal, etc.), com base na própria experiência (anterior ou posterior à conversão) e em valores propalados por algum tipo de mídia (secular ou cristã).

Em meio a essa realidade cultural complexa, cabe a pergunta: teríamos critérios claros e específicos para nos orientar na escolha e execução de músicas adequadas à visão adventista? Encontraríamos na revelação feita por Deus princípios-guia sobre adoração? O capítulo oferece uma proposta de critérios filosóficos/teológicos para nortear a música adventista contemporânea. Para tornar a apresentação mais clara, decidimos primeiro enunciar algumas tendências contemporâneas que negam tais princípios, seguida pelas considerações que os defendem.

A) Os critérios filosóficos/teológicos para nortear a música cristã contemporânea são subjetivos

Em toda espécie de arte, [4] a forma geralmente reflete a concepção artística. Tratando-se da música, temos que atentar que, como forma de arte, produto da cultura humana, ela reflete a cosmovisão de um indivíduo ou grupo de pessoas – ou seja, “a música carrega traços de história, cultura, e identidade social, que são transmitidos e desenvolvidos através da educação musical”. [5] Para os grupos religiosos, o culto em geral, e o tipo de música em especial, é conduzido de acordo com a visão que se tem da divindade. [6]

Dois exemplos do influxo das crenças sobre a forma de culto: os mulçumanos são extremamente formalistas, consistindo seu culto na recitação de textos árabes, porque veem a Deus quase como um Ser impessoal, um Absoluto distante do homem; [7] já a música reggae surgida na Jamaica, era uma expressão mística do rastafarianismo, movimento político-religioso, também de caráter étnico, surgido na Jamaica, que reinterpretou a promessa bíblica da Terra Prometida, localizada agora na “Etiópia/África”. O reggae está profundamente ligado com substâncias alucinógenas, produtoras de “estados de consciência”. Não à toa, o cantor de reggae Peter Toshem em entrevista à revista High Times em 1981 afirmou que “[a] espiritualidade e a inspiração são decorrentes da capacidade do reggae de ‘hipnotizar’ e fazer o ouvinte ‘sair de si’, isto é, a música é capaz de provocar no ouvinte o acesso a outros ‘estados de consciência’”. [8]

Tais exemplos reforçam o conceito de que não há um divórcio entre forma e conteúdo, o que garante a eficácia de determinada escolha musical para um fim específico. A adoração deixa transparecer que conceitos foram internalizados pelo adorador. Ou, em outras palavras: “Aquilo com que você se deleita transparece quando dirige o louvor.” [9]

Em decorrência das mudanças na música cristã, é recorrente o debate Forma x Conteúdo. Para alguns, toda manifestação musical se restringe a uma (ou a algumas) determinada(s) forma(s); outros argumentam que a forma não é importante. [10] Geralmente, a música cristã contemporânea segue a segunda tendência, se valendo da premissa de que “todo louvor seja aceitável a Deus”.

Realmente toda forma de adoração seria válida? Se encararmos a adoração como um reconhecimento do caráter amoroso de Deus e uma homenagem sincera a Seus atributos, seríamos levados a reconhecer que a adoração tem de agradar-Lhe. É dever do adorador apresentar algo agradável ao ser adorado. [11] O próprio Jesus disse à mulher samaritana que Deus, o Pai, busca aqueles que O adoram em “espírito e verdade” (João 4:23). Para Jesus, a adoração é tanto um fenômeno espiritual – portanto, não diretamente dependente do local, do ambiente, dos objetos cúlticos, etc. – quanto algo coerente com a Revelação, ou, nas palavras dEle, com a “Verdade”.

Também nos escritos de Ellen G. White encontramos a constatação de que o louvor agradável a Deus, em qualquer esfera (quer pessoal, quer pública), é o que está coerente com Sua Revelação (portanto, para além da competência de sentimentos e intenções norteados pelo coração não regenerado pela graça divina). [12] Talvez se faça necessário esclarecer algo: deve haver interação entre nós e Deus, em todos os níveis de nossa pessoa – emocional, intelectual, social, etc. – que implique em transformação integral. Isso não passa de uma forma mais sofisticada de fazer a tradicional dicotomia entre o que é carnal X o que é espiritual. Limitar isso ao nível dos sentimentos é apequenar o plano de Deus para o homem.

Novamente, tal perspectiva não se restringe à música e, ao mesmo tempo, é temperada com a constatação de que nem tudo em nossa cultura é mal e pecaminoso e deve ser rejeitado apenas por ser amplamente aceito. Por exemplo: o violão é um instrumento extremamente popular no Brasil. É óbvio que ele tem espaço em nossa música devido à influência cultural; contudo, isso não pode ser tido como inerentemente mau em si. Pode se tornar negativo quando um instrumentista se vale de adaptações da música secular para produzir música cristã (ou seja, usa modelos seculares com letras de conteúdo cristão).

Voltando ao ponto, encontramos nos textos de Ellen G. White ecos com os conceitos fundamentais da resposta de Jesus à samaritana (o binômio “espírito/Verdade”):

Quando os seres humanos cantam com o espírito e o entendimento, os músicos celestiais apanham a harmonia, e unem-se ao cântico de ações de graças. Aquele que nos concedeu todos os dons que nos habilitam a ser co-obreiros de Deus, espera que Seus servos cultivem sua voz, de modo que possam falar e cantar de maneira compreensível a todos. Não é o cantar forte que é necessário, mas a entonação clara, a pronúncia correta, e a perfeita enunciação. Que todos dediquem tempo para cultivar a voz, de maneira que o louvor de Deus seja entoado em tons claros e brandos, não com asperezas, que ofendam ao ouvido. A faculdade de cantar é um dom de Deus; seja ela usada para Sua glória. [13]

Há um desdobramento do conceito de adorar em “espírito e verdade” em ações específicas, como a entonação “clara”, “branda”, sem “asperezas”, etc.; com essas características citadas em mente, dificilmente se poderia concluir que Deus aceita qualquer música. O conteúdo do louvor musical deve ser considerado tanto quanto a sua forma.

Um desafio a essa interpretação estaria na afirmação de que nosso louvor deveria refletir o “testemunho de nossa própria experiência”; [14] afinal, se essa experiência “difere essencialmente” da de outros, então seríamos “livres” para usar critérios pessoais e subjetivos em nossa maneira de louvar a Deus por intermédio da música. No entanto, o contrapeso a essa conclusão imediata está em outros dados da Revelação sobre o assunto.

Assumindo que a Revelação não se contradiz, admitiremos que o testemunho de uma experiência iluminada por Cristo se aproximará em cada ponto das ações específicas mencionadas nos diversos textos que abrangem o assunto, embora conserve particularidades, fruto da experiência pessoal do adorador com Deus. Dois exemplos seriam a “dança” de Davi (II Samuel 6:14) e o paralítico curado por João e Pedro, o qual entrou no templo “saltando e louvando a Deus” (Atos 6:8). As experiências desses homens jamais foram sancionada pelo Senhor como um modelo a ser seguido; em verdade, constituem exemplos autênticos de pessoas que adoraram de forma bastante particular. Se olharmos o relato das circunstâncias de ambos, seríamos levados a concluir que não faz sentido pularmos ou “coreografarmos” como ambos, porque a experiência deles difere bastante da nossa – ademais, se copiarmos as ações sem a experiência, ofereceríamos a Deus algo dramatizado e sem sentido.

Em contrapartida, a posição dos evangélicos em geral difere completamente do que foi dito acima. Um dos mais influentes líderes evangélicos, Rick Warren, reconhece que o poder da música leva a mensagem “diretamente para o coração”. Por isso, segundo ele, temos a oportunidade de utilizar a música contemporânea, com seu poder de alcance, para espalhar “valores de Deus”; do contrário, utilizando o mesmo tipo de música, “satanás vai ter acesso a uma geração inteira”.

Embora Warren reconheça que o tipo de música determine a identidade da igreja e seu posicionamento na comunidade em que estiver inserida, ele alerta os cristãos de que deve-se “admitir que não existe um estilo de música em particular que é ‘sagrado’”. Segundo o seu parecer: “O que faz uma música sagrada é a sua mensagem [letra]. A música não é nada mais do que um arranjo de notas e ritmo. […] Não existe música cristã, mas sim, letras cristãs. Se fosse tocada uma música sem palavras, você não saberia se é cristã ou não.” [15] Essa opinião é bem aceita nos círculos evangélicos, [16] embora não seja unânime. [17] Entre os adventistas, têm despontado críticas às concepções de Warren. [18]

Acredito que a “chave da questão” seja: qual a linha divisória se Deus ama todos os tipos de música? Do Rock ao Axé, qualquer gênero seria aceitável! Mas se a variação musical é uma das consequências da mutabilidade da Filosofia Ocidental, estaria a adoração sujeita a tantas mudanças, sendo que ela se fundamenta na Revelação de um Deus que não muda? Ou estamos tentando acompanhar as tendências seculares para agradar os não cristãos?

Até que ponto um culto contemporâneo realmente atrai pessoas preocupadas em servir a Deus e lhes provê instruções suficientes para promover um crescimento espiritual coerente com a Revelação, em todos os seus variados matizes? Será que fazer “concessões” quanto à adoração não nos leva a “amenizar” os demais mandamentos e orientações das Escrituras?

Notemos o que o Espírito de Profecia afirma sobre o impacto da adoração em “espírito e Verdade” sobre os não cristãos:

Vi que todos devem cantar com o espírito e com o entendimento também. Deus não Se agrada de algaravia e dissonância. O correto é sempre mais agradável a Ele que o errado. E quanto mais perto o povo de Deus se puder aproximar do canto correto, harmonioso, tanto mais é Ele glorificado, a igreja beneficiada e os incrédulos favoravelmente impressionados. [19]

O binômio que mencionamos anteriormente, referindo-nos a João 4:24, “espírito/Verdade”, encontra um correspondente neste novo binômio: “espírito/entendimento” – sendo o aspecto espiritual, como já o afirmamos, ligado ao próprio fenômeno da espiritualidade, enquanto o “entendimento” relacionado à apreensão da Revelação, ou seja, da “Verdade” bíblica objetiva. Quando temos a preocupação de ser coerentes com a Revelação, além de glorificar a Deus, somos beneficiados como povo e impressionamos os “incrédulos”. [20]

Não devemos estar tão preocupados em ser conhecidos como uma “potência musical” quanto em “alcançar a norma mais alta”. Isso se torna real quando “a simplicidade de Cristo” é mantida, e “os membros da igreja são participantes da natureza de Cristo”. Se estamos em comunhão com Cristo e mantivermos obediência à Sua Revelação, apresentaremos uma adoração cujo impacto criativo atingirá os corações, não porque essa seja a preocupação principal, mas porque a presença de Deus produzirá impressão duradoura nos corações. [21]

B) Não existe relação causal entre a escolha da música e seu efeito sobre os adoradores ou sobre a adoração

Uma vez que a música parte de uma cosmovisão, ela reflete determinados princípios. Muitos cristãos pós-modernos argumentam que a letra é a única parte responsável por transmitir uma mensagem cristã, independentemente do gênero musical a que esteja veiculada. Um argumento contra essa abordagem, conforme já vimos, é a questão da coerência no que tange aos princípios da Revelação. Se nos pautarmos pelos princípios da Bíblia e do Espírito de Profecia, deveríamos buscar música mais elevada, que possua uma clara distinção da música secular (principalmente, da música popular).

Tão fundamental quanto reconhecer que a concepção de mundo e do Ser adorado exercem papel decisivo no tipo de adoração e na música empregada durante o momento cúltico, é admitir que a música causa efeito direto em nossa mente – assim, ou a música favorece a atmosfera de reverência, entrega, submissão, louvor, gratidão e compromisso durante o processo de adoração ou deturpa a adoração, comunicando uma mensagem independente, não correlacionada com os princípios de verdadeira adoração.

A pós-modernidade contribui para a construção de um novo paradigma religioso, o da “modernidade religiosa”, cuja marca de identificação é “a tendência geral para a individualização e a subjetivação da vida religiosa”. Embora esse paradigma afete as “religiões tradicionais”, “não cancelou as formas de crer, que são cada vez mais individuais, subjetivas, dispersas e feitas de diversas combinações, ou, em uma única palavra, fluidas”. [22]

Nota-se que tais influências originam critérios bastante subjetivos e, por isso, incompatíveis com o modo de Deus agir. Se, ao longo da História, o Senhor tem sido bem específico ao revelar Sua vontade para cada área da vida humana, [23] fica evidenciado que há uma verdade específica no que tange à música.

Outra razão para rejeitarmos a combinação do sagrado com o profano está no fato de que a linguagem musical, como produção cultural, é carregada de conteúdo semântico em si mesmo, independente de uma “letra”. Ou seja: a música comunica um conteúdo mesmo sem o auxílio de palavras. [24] Pesquisas recentes apontam que a fala de bebês e a linguagem musical são indistintas nos primeiros anos de vida. [25]

A música não somente parte de uma cosmovisão, como sua linguagem também pode moldar uma determinada cosmovisão, revolucionando toda uma cultura. [26] Isto tem comprovação se analisarmos os efeitos, em escala global, da música popular contemporânea. Como em nenhum outro período da História, podemos falar hoje de uma “cultura globalizada”, para cuja existência, sem dúvida, a música vem dando importante contribuição. [27]

No contexto de um culto, a música deve expressar a conceituação correta segundo os referenciais da Revelação, e influir na esfera em que a adoração coletiva aconteça de maneira a contribuir para que se atinja o fim apropriado – a glorificação de Deus. Imaginemos se, num sermão, um pregador proferisse que a ressurreição de Cristo não é um fato histórico. O conteúdo de sua linguagem verbal estaria prestando um desserviço ao culto, negando um aspecto fundamental da Revelação (a Verdade bíblica da Ressurreição do Senhor). A música, enquanto linguagem, também pode prestar um desserviço, negando aspectos fundamentais da natureza de Deus. Como no caso do sermão cético, a música, consequentemente, pode formar um conceito errado na cabeça dos ouvintes, por aquilo que ela está comunicando através de uma linguagem não verbal.

Neste ponto, entra a perspectiva teleológica sobre a música no culto (ou seja, de seu propósito). A presença da música num culto cristão é distinta do uso musical feito pelo paganismo; enquanto que para os cristãos, canta-se para expressar a adoração (incluindo o louvor, a submissão, a gratidão, o rendimento ao Eterno, etc.), os pagãos cantam, dançam e usam tambores para provocar experiências de transe, necessárias para que a divindade se “conecte” aos adoradores.

Essa conexão entre adorador e ser adorado se torna necessária porque os deuses são entidades imanentes, identificadas com a natureza parcialmente (o deus das pedras, das águas, do céu, da colheita) ou totalmente (como no panteísmo, no qual Deus se torna uma essência difusa imiscuída na criação). Dorneles explica que: “A relação direta entre espírito (mundo sagrado) e o homem e a natureza (mundo profano), quer seja pela gênese dos espíritos como descendentes dos humanos, quer seja pelo fenômeno de possessão, influencia a aproximação, senão a integração entre o sagrado e o profano.” [28]

Mas como o modelo pagão de adoração, que admite a “integração entre o sagrado e o profano” passou a ser seguido pelos modernos seguidores de Cristo? Na tradição protestante, houve uma luta contra a visão católica, que apresentava Deus como inacessível, originando a necessidade de muitos mediadores (os sacerdotes, os santos, os anjos, a virgem Maria) para representar o homem diante desse Deus. Contudo, em algum momento o pêndulo correu para o outro lado: um Deus representado como presente e interagindo constantemente com o ser humano, como no moderno pentecostalismo. [29] Esse “Deus do Aqui e agora” é um Deus com quem se barganha e de quem se pode solicitar ou mesmo exigir bênçãos materiais. Ele também Se manifesta por meio de “dons” (glossolalia), milagres (curas) e revelações. [30]

O cristianismo pentecostal deriva sua ênfase emocionalista da bênção de Deus da visão wesleyana em uma “concepção imediata da salvação”, dentro da qual os sentimentos servem de “termômetro da experiência espiritual”. [31] Nesse contexto, a música emocional e de características populares é fundamental para levar cada adorador a um estado de experiência que lhe permita “sentir” Deus e receber Suas bênçãos e dons.

Na história do adventismo, certos “ventos” pentecostais sopraram em determinados momentos. O episódio mais conhecido é o que envolveu o “Movimento da Carne Santa”. Através de um relato in loco, [32] é observável como o uso de música popular foi fundamental para fomentar o “clima” necessário a fim de levar os envolvidos à experiência de transe, similar a que se dá entre os pentecostais modernos. A introdução de um tipo de adoração próxima a dos movimentos pentecostais levou um grupo oriundo do adventismo a ter “experiências” pentecostais. [33]

Com base nesta fatídica experiência, nos perguntamos se, ao copiarmos as músicas cristãs contemporâneas e as empregarmos em nossa adoração, não correríamos o risco de ser influenciados por tais músicas de tal maneira que nosso culto se modifique, o que inevitavelmente interferiria, em longo prazo, em nossa conceituação do Ser adorado. Isso só aconteceria, de fato, quando os adventistas abandonassem os princípios da revelação, como constatou certo teólogo adventista: “Por exemplo, o eclipse da Escritura e seu impacto no pensamento dos líderes adventistas torna-se aparente nas recentes mudanças litúrgicas centradas no uso de música popular e no rock na adoração.” A incoerência disso se agrava com a constatação de que, oficialmente, a denominação adventista continua a rejeitar o uso de “jazz, rock” e demais formas de música “híbridas” (entre as formas sagrada e secular). [34]

Alguns dos cristãos que utilizam a música gospel contemporânea para garantir o “clima” de seus cultos são altamente influentes nos círculos evangélicos. A conhecida cantora e compositora do ministério Hillsong, Darlene Zschech, expressa em livro recente que não concorda que a adoração apenas trate de “provocar emoções nas pessoas para prepará-las para um culto guiado pela emoção”. Entretanto, ela descreve como utiliza o grito nos momentos em que “dirige o louvor”, não “para tentar fazer as pessoas ficarem empolgadas, nem ‘estimuladas’’, mas a fim de incentivar “as pessoas a por a fé em ação, a clamar e mudar a atmosfera que envolve a vida delas”. Por isso, ela descreve seu grito como “um grito de fé”. O mais curioso são as expectativas de Darlene Zschech para o futuro: “Tenho uma convicção pessoal a respeito de criar a próxima geração de músicos adoradores nas coisas de Deus […] fornecer-lhes uma plataforma espiritual rica de onde se lancem, vendo-os explorar o que jamais ousamos.” [35]

Será que como adventistas não estamos, mais do que nunca, correndo o risco de assimilar a cultura religiosa de nossa época, esquecendo-nos de que temos uma identidade singular, da qual, caso abramos mão, não teremos condições de reclamar as bênçãos de Deus para cumprir a nossa comissão? A música, aos poucos, vai sendo responsável pela mudança paradigmática no culto adventista.

É claro que, olhando os eventos dentro do contexto de um grande conflito cósmico, entre Cristo e Satanás, a compreensão adventista das profecias nos leva a pensar na relação de toda essa mudança com o fortalecimento do movimento ecumênico. Creio que Wolfgang H. M. Stefani, melhor do que ninguém, observou essa relação já insinuada e que continua em crescente marcha:

Será que, ao se promover um estilo musical global homogeneizado – estilo cada vez mais visível na cultural musical cristã – não estaria sendo preparado um palco para uma reação de identidade religiosa global? Tal reação permitiria que pessoas de todas as nações, de todos os antecedentes religiosos, viessem a dizer: ‘Sim, esta é a minha música, assim sou eu […] esta é a minha música pelo fato de ela me tornar feliz e religioso, eu sou parte dela; agora me sinto em casa’ [36]

C) Em última instância, a cultura é determinante para se estabelecer o que é música sacra:

Notas musicais são tão profanas quanto as pinceladas de um artista plástico – como aquelas vistas na arte sacra de Rubens e nos quadros eróticos de Picasso. O que faz a diferença entre um quadro e outro, ou entre uma música e outra? A forma como a obra é organizada, a intenção que dispõe dos elementos “neutros” para lhes dar um sentido, uma mensagem. Mesmo elementos da música de um país ou cultura podem ganhar um sentido novo, um tratamento diferenciado e integrar o trabalho de um artista sacro.

Pensemos na seguinte ilustração: que há entre a escola dos profetas e a escola adventista? Obviamente, as duas instituições têm muitas diferenças, até por estarem inseridas em contextos culturais abissais. Mas sua proposta metodológica é mutuamente excludente? Não. Em ambas se valoriza a natureza, se estuda história inspirada, há a ênfase em cantar com os alunos e se busca preparar os alunos para servirem a Deus e à sociedade. A cultura muda, as orientações permanecem.

Para resgatar o contexto em que Ellen G. White escreveu sobre música, é mister entender que o século XIX constituiu-se de uma era de despertamentos religiosos em solo americano. Ainda em 1800, Francis-Asbury, considerado o primeiro pregador itinerante, iniciou as reuniões campais de reavivamentos, chamadas de Camp meetings. [37] Visando a alcançar o povo individualista e isolado que vivia na fronteira, os evangélicos daquela época mudaram sua abordagem, focalizando-se na “experiência de conversão profunda”; a religião passou a ser redefinida “em termos de emoção, ao mesmo tempo em que contribuía para negligenciar a teologia, a doutrina e o elemento cognitivo da crença”. Notoriamente, essa mudança no paradigma religioso levou a uma reestruturação do sistema de culto, que passou a incorporar “linguagem simples do povo e músicas populares”. [38]

Quando Ellen G. White comenta os efeitos danosos que a “música popular” de seus dias causava sobre os jovens, desviando-lhes “a mente da verdade”, [39] temos de entender sua orientação dentro de uma “época em que o ‘jazz’ começava a se generalizar”. [40] Daí se pode constatar que Ellen G. White era uma crítica social, não alguém que recomendasse o uso indiscriminado de influências culturais com objetivos evangelísticos.

No aspecto positivo, vale ressaltar que há trabalho para aqueles que aceitam a Revelação. Os conceitos devem ser considerados e aplicados de forma coerente. As descrições dos escritos de Ellen G. White, as quais não usam expressões técnicas, precisam ser pensadas e compreendidas à luz de seu contexto literário-cultural a fim de serem colocadas em prática por músicos competentes em seus respectivos contextos culturais. “Uma compreensão adequada da adoração deve reconhecer a influência do contexto cultural na forma e nos estilos de culto, porém, propriamente submetidos aos princípios gerais permanentes da revelação bíblica”, afirma Plenc. [41]

Semelhantemente, a autora escreveu sobre educação, mas jamais deixou um plano de aula para ser imitado pelos professores. Também encontramos entre seus escritos, firmes declarações a respeito da reforma de saúde – conquanto ela jamais deixasse um cardápio sugestivo! Em todos estes casos, a falta de um modelo sugestivo mais específico para se aplicar a orientação profética não invalida a orientação em si. Os próprios profetas bíblicos exigiam reformas sociais sem elaborar planos político-sociais; clamavam por justiça, sem se dedicarem a tratados de jurisprudência. A revelação divina, por vezes, trata de princípios gerais, que dependem da inteligência humana, guiada pela santificadora ação do Santo Espírito, para adequá-los aos mais diversos contextos.

Alguns afirmam que a música sacra provém da vertente secular. Em sentido restrito, a declaração é aceitável. Em partes isso é coerente, porque, quando uma determinada cultura começa a se expressar, dificilmente produz algo sacro (a não ser uma cultura permeada de forte senso religioso, seja de qual orientação for). Nesse caso, a religiosidade surge com o tempo, tomando aspectos legítimos da própria cultura para se expressar. Sob este prisma, não seria ofensivo a Deus que, no caso dos brasileiros, a poética da música popular influenciasse nossos letristas ou que os músicos adventistas brasileiros tivessem o gosto por orquestrações. [42] Há aspectos da cultura que podem ser aproveitados. Mas, como já asseverou B. B. Beach, o culto é transcultural, porque ultrapassa os valores da cultura e os transforma. [43] Claro que Beach não é o único autor adventista a destacar esse ponto: “O cristão entra em decadência ao depreciar seus valores ou subordiná-los aos valores culturais”, afirma Cerdá. [44]

Por outro lado, corre-se o risco de assumir uma perspectiva estritamente sociológica (e sob a ótica secular), que admite que a música, como qualquer outra manifestação cultural, parte do ser humano apenas. Na Bíblia, já existia música antes de haver seres humanos (Jó 38:7). E o que dizer da música sacra produzida pelos nossos primeiros pais no Éden? E o povo de Israel seria influenciado pelos seus vizinhos pagãos em sua adoração? Felizmente, apenas os teólogos liberais hoje fariam concessões assim. As ideias possuem filiação e temos que atentar com quem nos associamos por meio da concordância com determinados conceitos.

Aliás, eis um dos pontos de tensão mais sensíveis entre os adventistas contemporâneos: [45] acatar aspectos da Revelação que tratam do entretenimento ou que ferem gostos pessoais. No fundo, é como se disséssemos: “Tudo bem crer na inspiração de Ellen White, desde que eu continue indo ao McDonalds. Posso aceitar que ela não respirava quando estava em visão, desde que não deixe de frequentar o cinema. Até gosto do Caminho a Cristo, mas quero continuar ouvindo Jeremy Camp, Jars of Clay ou Chris Tomlin.”

Evidentemente pode-se defender ardorosamente tudo o que a Bíblia ou o Espírito de Profecia fala sobre um tema e ignorar aquilo que afeta a preferência pessoal. Contudo, será que essa recusa de membros adventistas em aceitar os aspectos normativos da mensagem do profeta não é uma sutil forma de descredenciá-lo? Quando se escolhe apenas a parte agradável da mensagem profética, não se deixa de atender à vontade de um Deus tão amoroso, que foi capaz de providenciar orientações seguras para cada indivíduo?

Partindo para a ação

Por tudo quanto apresentamos, surge a premente necessidade de que o padrão bíblico para a adoração seja mais bem compreendido pelo adorador adventista; faz-se necessário que pastores e líderes locais, bem como os diretores de instituições e membros esclarecidos da denominação estudem cautelosamente e com humildade tudo quanto envolva a adoração, em geral, e a música, em particular.

Enquanto critérios subjetivos (e mesmo relativistas) dominarem o cenário do adventismo brasileiro no que se reporta à música (apresentada durante os cultos, congressos, reuniões de líderes, concílios e grandes eventos ou veiculada em programas de rádio ou televisão), dificilmente se poderá estar à altura da comissão, porque a identidade como povo peculiar de Deus terá sido perdida.

É o tempo de nos mobilizarmos para estudar maneiras de crescer enquanto adoradores: grupos de estudo ou comissões especiais podem ser formados nas igrejas a fim de formar uma declaração local ou distrital sobre o assunto, a qual deverá ser expressa na forma de princípios claros e bem definidos. Tal declaração tem ainda de ser apresentada à igreja e votada pela comissão. Uma vez que determinada igreja ou distrito pastoral adquira a sua compreensão da adoração, esta visão precisa ser compartilhada sistematicamente, para que haja uma reeducação do adorador que frequentar a congregação ou o distrito. [46] E, sobretudo, precisamos ser reavivados, nos deixando submergir em uma atmosfera de adoração genuína, submissa a Deus, não durante as poucas horas dos cultos sabáticos; quando o culto acabar a adoração deve prosseguir, renovada a cada dia de nossa existência. Temos de praticar sinceramente o que é certo, como expressou certo autor adventista:

Fazer a coisa certa sem genuína sinceridade de coração é uma abominação a Deus (Amós 5:21-24), mas o corolário da afirmação é também falso – sinceridade em si própria não é suficiente (Caso de Davi e Uzá: I Crônicas 13:7-10, II Samuel 6:5, I Crônicas 15:12-22). [47]

Assim, podemos aplicar o contexto oportuno do apóstolo: “E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:2).


Bibliografia

[1] Sobre desenvolvimento doutrinário adventista, consultar Alberto R. Timm, O Santuário e as três mensagens angélicas: Fatores integrativos no desenvolvimento histórico das doutrinas adventistas (Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária Adventista, 2002). (voltar)

[2] Para uma crítica ao pós-modernismo, ver Douglas Reis, Marcados pelo Futuro: vivendo na expectativa do retorno do Senhor (Niterói, RJ: ADOS, 2011), especialmente o cap. 5, “A Verdade ou a vida”. (voltar)

[3] R. C. Sproul, Atlas encolheu os ombros: adorando na beleza da santidade, in Douglas Wilson (org.), Eu não sei mais em quem tenho crido (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2006), p. 49. (voltar)

[4] Para considerações sobre a arte a partir da estética cristã, consultar Wolfgang H. M. Stefani, “Música: Força Ecumênica?”, disponível em https://musicaeadoracao.com.br/19647/musica-forca-ecumenica/ – Acesso: 9 de jul. de 2013. (voltar)

[5] Beatriz Ilari, “A música e o desenvolvimento da mente no início da vida: investigação, fatos e mitos”, disponível em http://www.rem.ufpr.br/_REM/REMv9-1/ilari.html – Acesso: 9 de jul. de 2013; cf.: Gino Stefani, “Uma Teoria de Competência Musical”, disponível em http://musicaecultura.abetmusica.org.br/artigos-02/MeC02-Competencia-Musical.pdf – Acesso: 9 de jul. de 2013. (voltar)

[6] Uma análise mais detalhada pode ser achada em Wolfgang Stefani, Música sacra, cultura e adoração (Engenheiro Coelho, SP: UNASPRESS, 2002). (voltar)

[7] Sobre a influência do misticismo neoplatônico sobre a religião islâmica, veja: (a) Nancy Pearcey, Verdade Absoluta: Libertando o Cristianismo de seu cativeiro cultural (Rio de Janeiro, RJ: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2006), 1ª ed, apêndice 2, p. 431-435; (b) Mansour Challita, As mais belas páginas da literatura árabe, (Rio de Janeiro, RJ: Ingraf, s/d), p. 23. (voltar)

[8] Olívia Maria Gomes da Cunha, “Fazendo a ‘coisa certa’: Reggae, rastas e pentecostais em Salvador”, em http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_23/rbcs23_09.htm – Acesso: 9 de jul. de 2013. (voltar)

[9] Darlene Zschech, Adoração Extravagante (Belo Horizonte, MG: Editora Atos, 2006), 2ª reimpressão da 2ª ed, p. 83. Embora o conceito seja válido, temos de deixar claro que não concordamos com todas as opiniões expressas no livro pela criadora da banda gospel Hill Song. (voltar)

[10] Em nossa opinião, a primeira perspectiva é incompleta, portanto, limitada, correndo o perigo de dar a determinado gênero musical o caráter de uma Revelação normativa, o que se aplica apenas aos cânticos bíblicos, escritos por homens inspirados por Deus, e jamais a nenhum hino de hinários cristãos; quanto a segunda posição, além de ignorar a coerência entre forma e conteúdo, ignora os efeitos da música em si mesma, efeitos esses que independem da letra que a acompanhe. (voltar)

[11] Veja o artigo de Daniel Plenc, O culto como adoração: uma perspectiva de Ellen White,Dialogue, 20(2), 15, 16, disponível em http://dialogue.adventist.org/articles/20_2_plenc_p.htm – Acesso: 9 de jul. de 2013. (voltar)

[12] Ellen G. White, Testemunhos Seletos (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1984), vol. 1, p. 45. (voltar)

[13] Idem, Mensagens aos Jovens (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004),p. 294, grifos supridos. É possível avaliar se determinada expressão musical é coerente com aquilo que temos na revelação dentro de um determinado contexto cultural. Na verdade, proponho que se entenda o termo Verdade como a matriz e a cultura como a variável: uma música adventista produzida na África terá diferença de outra produzida por adventistas brasileiros – e não há problema nenhum com isso! Mas os princípios gerais devem se achar representados e ajudar a selecionar na cultura o que é ou não apropriado na produção musical. (voltar)

[14] Ibidem, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007),p. 347. (voltar)

[15] Rick Warren, Uma igreja com Propósito (São Paulo, SP: Editora Vida, 2002), 2ª Ed., 7ª reimpressão, p. 272, 273. (voltar)

[16] Jairo de Souza Santos Júnior, A música evangélica de adoração: uma análise de sua identidade (Revista Teologia Hoje, 2003), vol. 1, nº 2, art. 4, Também disponível em: http://www.ftsa.edu.br/revista/TeologiaHoje.htm – Acesso: 3 de ago. de 2007. Para um exemplo da influência de Warren entre os adventistas, ver Regina Mota, “Música cristã no século 21: um ‘cântico novo’ ou repetição do passado?”, disponível em http://eoqha.net/lab/reflexoes/musica-crista-no-seculo-21-um-%E2%80%9Ccantico-novo%E2%80%9D-ou-repeticao-do-passado/ – Acesso: 3 de ago. de 2007. (voltar)

[17] Berit Kjos, “Igreja Dirigida pelo Espírito ou Orientada por Propósitos? – Parte 1: Análise do livro Uma Vida com Propósitos, de Rick Warren”, disponível em http://www.jesussite.com.br/PurposeDriven1.asp, originalmente: http://www.crossroad.to/articles2/006/pd-deception.htm – Acesso: 3 de ago. de 2007. (voltar)

[18] Ver (a) Daniel Oscar Plenc, “Leia com atenção”, in: Ministério Adventista, ano 81, no 6. “Essa postura é absolutamente discutível, considerando-se que a música é uma linguagem que diz muito, independentemente de sua letra. Por outro lado, a Bíblia fala dos instrumentos que eram usados na adoração do templo, e temos uma ideia de suas características.” p. 26; (b) Herbert E. Douglass, Truth Matters: An Analysis of the Purpose Driven Life Movement (Nampa, Idaho: Pacific Press, 2006). (voltar)

[19] Usando a mesma citação, segui raciocínio semelhante em meu artigo “Shows cristãos: culto, entretenimento ou mundanismo?”, disponível em https://questaodeconfianca.blogspot.com/2007/07/shows-cristos-culto-entretenimento-ou.html Dito de outro modo: o “correto” seria equivalente a “coerente”, no caso, à revelação. Obviamente, devemos cantar de nossa melhor forma, mas não se trata de ter méritos técnicos para louvar. Outro exemplo: Ellen White fala de usar corretamente a língua vernácula quando trata de oratória (Evangelismo, p. 666). Não acredito que a autora queira dizer que somente pessoas com estudos formais devam falar do púlpito (afinal, ela mesma não concluiu sua educação formal!). Entretanto, considerando o próprio exemplo dela, percebemos sua crença no desenvolvimento pessoal – suas ideias sobre o assunto podem ser verificadas quando ela trata da parábola dos talentos, no capítulo “Talentos que dão êxito”, no livro Parábolas de Jesus, p. 366ss. (voltar)

[20] Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1997),p. 508. (voltar)

[21] Idem, 512. Ver também Ellen G. White, Testemonies for the Church, Nampa, Idaho; Oshawa, Ontario, Canada: Pacif Press Association, 1948), vol. 9, p. 143. (voltar)

[22] Carlos Eduardo Sell e Franz Josef Brüseke, Mística e Sociedade (Itajaí, SC: Universidade do Vale do Itajaí; São Paulo, SP: Paulinas, 2006), p. 190, 189. Os autores sintetizam as ideias de Daniéle Hervieu-Leger. (voltar)

[23]Ver: (a) Ellen G. White, Caminho a Cristo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007), p. 89; (b) Idem, Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007), p. 463, (c) Ibidem, Conselho sobre Mordomia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001), p. 38. (voltar)

[24] “A competência musical se desenvolve através de dois eixos ou dimensões: a ‘dimensão artística’ e a ‘densidade semântica’. Tomando estes termos no seu sentido óbvio, sublinhamos o fato de que o tipo de competência é definido pela interseção desses dois eixos.” Gino Stefani, “Uma teoria da competência musical”, disponível em http://musicaecultura.abetmusica.org.br/artigos-02/MeC02-Competencia-Musical.pdf – Acesso: 5 de ago. de 2007. Stefani fala de competência musical em termos de “um conjunto de níveis de códigos [dentro dos quais são analisados os eventos sonoros com o que se relaciona a eles]”. (voltar)

[25] Beatriz Ilari, “A música e o desenvolvimento da mente no início da vida: investigação, fatos e mitos”, disponível em http://www.rem.ufpr.br/_REM/REMv9-1/ilari.html, acesso: 21 de ago. de 2007. A mesma autora observa que “[…] a música e a linguagem compartilham algumas propriedades acústicas como altura, ritmo e timbre, que podem ser traçadas no decorrer de toda a vida”. (voltar)

[26] Falando sobre a influência do reggae na sociedade soteropolitana, a partir da década de 70, Cunha afirma: “Mas foi principalmente com o advento do reggae na cidade [Salvador, BA] – tocado em bailes da periferia, feiras, reuniões e ensaios de blocos afro desde o final da década de 70 – que tudo começou. A música reggae tem se caracterizado, conforme Nettleford (apud Owens, 1989: xi), por ser uma espécie de ‘púlpito secular’. Todavia, o reggae não se resume a tematizar as pregações acerca da fé no Messias Negro e na África/Etiópia como lugar da redenção: ele fala dos ‘sentimentos’ do rasta. Ao mesmo tempo, a música funciona como elemento ‘sugestivo’, ao suscitar a adoção de práticas a ela relacionadas no imaginário da juventude.”, Olívia Marinha Gomes da Cunha, em “Fazendo a coisa certa”. (voltar)

[27] Wolfgang H. M. Stefani, Opus cit. Ele está citando Deanna Campbell Robinson et. al., Music at the Margins: Popular Music and Global Cultural Diversity (London: Sage Publications, 1991), X – XI. (voltar)

[28] Vanderlei Dorneles, Cristãos em busca do êxtase (Engenheiro Coelho, SP: UNASPRESS, 2006), 3ª Ed, p. 9. O trabalho de Dorneles é, muito provavelmente, a mais rica contribuição na área da adoração de um autor nacional. (voltar)

[29] Para maiores detalhes, consultar Wolfgang Stefani, Música sacra, cultura e adoração. (voltar)

[30] Não apenas os cristãos pentecostais partilham desta concepção. Os católicos carismáticos também fundamentam sua experiência na busca do êxtase. Para um relato curioso de um sociólogo, ver Raymundo Heraldo Maués, “‘Bailando com o Senhor’: técnicas corporais de culto e louvor (o êxtase e o transe como técnicas corporais)”, in: revista de Antropologia, vol. 46, n° 1, grifos suprimidos. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ra/article/view/27172 – Acesso: 21 de jul. de 2007. Em seu trabalho, Maués afirma que a glossolalia (ou o falar em línguas), praticada pelos carismáticos (e, acrescentaríamos, pelos pentecostais) é “um fenômeno muito mais amplo”, usado inclusive na música “profana”; ele faz aproximações entre os carismáticos e pentecostais e o xamanismo. (voltar)

[31] Dorneles, Opus cit., p. 87. (voltar)

[32] Relatório de S. N. Haskell a Sara McEntenfer, 12 de setembro de 1900, citado em Ellen G. White, Música: Sua influência na vida do cristão, p. 37. No mesmo contexto, há esse outro relato de Burton Wade a A. L. White, 12 de janeiro de 1962, idem, p. 38. (voltar)

[33] Obviamente, o processo pode ter seguido uma mão dupla: crenças equivocadas produziram um comportamento cúltico alterado, que, por sua vez, influíram na mudança de conceitos da experiência religiosa. (voltar)

[34] Fernando Canale, “The eclipse of Scripture and the protestantization of the adventist mind”, part 1, p. 136, 137. Canale cita em seu apoio o manual da igreja: General Conference of Seventh-day Adventist, Church Manual (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2005), 17h ed., p. 180. (voltar)

[35] Darlene Zschech, Opus cit.,, p. 122, 57, 58, 156. (voltar)

[36] Wolfgang H. M. Stefani, “Música: Força Ecumênica?”. Se a própria “modernidade religiosa”[…] leva a um ecumenismo de valores, na medida em que respeita todas as religiões” (Carlos Eduardo Sell e Franz Josef Brüseke, Mística e Sociedade, p. 190), não poderíamos esperar que as músicas religiosas modernas expressassem o tipo de atitude respeitosa o suficiente a ponto de promover ideais ecumênicos, como, por exemplo, a ênfase na espiritualidade subjetiva preferida a uma religiosidade mais concreta, apoiada em uma tradição objetiva? (voltar)

[37] Dario Pires de Araújo, Música Adventismo e Eternidade, p. 14. (voltar)

[38] Nancy Pearcey, Verdade Absoluta, p. 296. (voltar)

[39] Ellen G. White, Testimonies, vol. 1, p. 496-497. (voltar)

[40] Ver, por exemplo: (a) Roberto Muggiati, Blues: da lama à fama (São Paulo, SP: Editora 34, 1995), 1ª reimpressão, p. 10, 11; (b) François Billard, A vida cotidiana no mundo do Jazz (São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2001), p. 17. (voltar)

[41] Daniel Plenc, “Cultos evangelizadores y contextualización”, p. 347. (voltar)

[42] Veja a entrevista do maestro adventista Jetro Meira de Oliveira à revista Kerigma, disponível sob o título Identidade ameaçada, em http://www.unasp.edu.br/kerygma/entrevista04.asp – Acesso: 9 de jul. de 2013. (voltar)

[43] Bert B. Beach, “Estilos adventistas de culto”, in: Diálogo Universitário, vol. 14, no 1. Beach fala de cinco aspectos do culto; para ele, o culto adventista é transcultural, contextual, contracultural, intercultural e multicultural. “O evangelho, por sua própria natureza, transforma e chama à transformação de cada cultura (incluindo a nossa – a minha e a sua!).” Barry D. Oliver, Can or Should Seventh-day Adventist belief be adapted to culture? In John L. Dybdahl (ed.), Adventist Mission in the 21st Century: the joys and challenges of presenting Jesus to diverse world (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association, 1998), p. 74. (voltar)

[44] Carlos H. Cerdá, Relación entre Laodiceia y la sociedad posmoderna, p. 383. “A adoração legítima é, de certo modo, ‘contracultural’”. Daniel Plenc, “Cultos evangelizadores y contextualización”, p. 345. (voltar)

[45] O estudo Valuegenesis, patrocinado pela Divisão Norte-Americana, “[…] tratou do modo como a juventude adventista vê questões de estilo de vida. Pela análise de fatores, os pesquisadores descobriram que estas questões compreendiam três grupos. O primeiro grupo, chamado ‘Drogas’, tratou de normas da igreja sobre drogas ilegais, tabaco, cerveja, álcool e vinho. O segundo grupo, ‘Cultura Adventista’, incluía normas próprias dos adventistas — tais como a observância do sábado, carnes imundas, exercício diário, sexo somente dentro do casamento, e vestuário modesto. O terceiro, ‘Cultura popular’, incluía joias, bebidas cafeinadas, música rock, dança e frequência ao teatro.

“A pesquisa revelou que a maioria da juventude adventista cria firmemente nos dois primeiros grupos, mas só uma minoria cria no terceiro. Os pais obtiveram notas melhores, mas questionaram as mesmas normas que os jovens. Professores adventistas revelaram a mesma tendência. Diretores de escolas tiraram notas um pouco mais altas que os professores, mas mostraram atitude semelhante. Os pastores obtiveram a nota mais alta de todos os grupos, mas revelaram a mesma tendência, mostrando que eles questionam as mesmas normas que os diretores, professores, pais e jovens.” Steve Case, Podemos dançar?, Diálogo, ano 6, vol. 2, p. 16, 17, 29. (voltar)

[46] A Igreja Adventista possui documentos oficiais que servem de parâmetro para decisões locais: (a) Filosofia Adventista de Música (Diretrizes Relativas a uma Filosofia de Música da Igreja Adventista do Sétimo Dia), Associação Geral – IASD, Concílio Outonal – 1972, disponível em https://musicaeadoracao.com.br/28999/filosofia-adventista-de-musica/ – Acesso: 3 de ago. de 2007; (b) “Filosofia Adventista do Sétimo Dia com Relação à Música” (Documento Oficial da Associação Geral, votado no Concílio Anual em 13 de outubro de 2004, com o acréscimo de um adendo elaborado pela Divisão Sul Americana da IASD, com diretrizes específicas para as Igrejas da América do Sul)”, disponível em http://downloads.adventistas.org/pt/institucional/documentos-oficiais/filosofia-adventista-do-setimo-dia-com-relacao-a-musica/ – Acesso: 9 de jul. de 2013. (voltar)

[47] Wolfgang H. M. Stefani, “The language of Praise: what the Bible says about music” in Samuel Koranteng-Pipim (ed.), Here we stand: evaluating new trends in the church (Berrien Springs, Michigan: Adventism Affirm, 2005), p. 446. (voltar)


Fonte: Este material é o capítulo 14 do livro “Explosão Y – Adventismo, pós-modernidade e gerações emergentes” de autoria do pr. Douglas Reis.

Os editores do Música Sacra e Adoração agradecem ao autor pela disponibilidade em ceder este material.


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