Como Lidar com os Jovens

Entrevista com o Pastor Baraka Muganda

Diálogo e amor são os segredos de um bom relacionamento


Nascido na Tanzânia, África, o Pastor Baraka Muganda sente-se feliz em dizer que faz parte da sétima geração de adventistas em sua família. Estudou na Universodade Solusi, no Zimbábue e, depois, na Universidade Andrews, EUA, onde fez mestrado em Religião e doutorado em Educação Religiosa.

Já trabalhou em todos os níveis da Organização Adventista. Atualmente, é diretor do Departamento de Jovens da Associação Geral. Casado com Anne Muganda, tem três “lindas filhas”, como costuma dizer.

Em sua última visita ao Brasil, concedeu esta entrevista a Rubem M. Scheffel.


Revista Adventista: Quantos jovens adventistas há no mundo?

Baraka Muganda: Atualmente a Igreja Adventista tem 14 milhões de membros e, deste total, 75% são jovens com menos de 30 anos de idade. Em algumas divisões, a proporção chega a 90%, como na África. Na América do Norte e mesmo na América do Sul, há lugares em que há mais jovens do que adultos, mas quando consideramos a porcentagem global, chegamos a 75% de jovens com menos de 30 anos.

RA: Qual é o foco do Departamento de Jovens?

Baraka Muganda: Salvação e serviço. Precisamos levar os jovens à cruz do Calvário. Precisamos nos certificar de que os jovens estão amadurecendo espiritualmente. E, depois, desafia-los a sair e participar na missão da igreja. Temos dito que todos os jovens precisam adotar um estilo de vida de evangelismo. Incluímos aí todos os tipos de atividades. Se alguém não deseja dar estudos bíblicos, poderá fazer alguma outra coisa. Estamos desenvolvendo um forte projeto, um programa voltado ao serviço. Nosso foco, naturalmente, é levar os jovens a Jesus Cristo e desafia-los a participarem ativamente na missão da igreja.

RA: O que a igreja pode fazer pelos jovens? Deve baixar as normas a fim de atraí-los?

Baraka Muganda: Não, não e não. Pesquisas demonstram que, onde a igreja baixa as normas, ela perde seus jovens. Eles querem uma igreja que tenha princípios e normas, querem ser orientados. Talvez você me pergunte: “Mas, Pastor Muganda, estamos vivendo no século 21. Por que deveríamos nos ater aos princípios antigos?” Bem, o que precisamos fazer é educar os nossos jovens. Por que estamos ensinando estes valores? Por que ensinamos estas normas? Meu conselho a todos é: Não rebaixem as normas da igreja; pelo contrário, fortaleçam estas normas e eduquem os jovens. Infelizmente, em alguns lugares, os pastores já não mencionam mãos os bons valores antigos. Não podemos baixar as normas e padrões da igreja.

RA: Como aproximar os jovens da liderança?

Baraka Muganda: Sou pai de três adolescentes e aprendi uma coisa: para poderme aproximar, estar mais perto de minhas filhas, preciso ser transparente, preciso ser franco com elas, preciso me sentar para trocar ideias, permitir que façam perguntas e devo dar-lhes respostas. Na geração de nossos dias, os jovens não querem ouvir sermões – faça isso, faça aquilo, ou não faça isso, não faça aquilo. A liderança da igreja deve se aproximar dos jovens, conversar com eles, educa-los e permitir que façam perguntas. E todas as vezes que lhes dermos uma resposta, os jovens perguntarão: “Mas por que?” Não devemos nos aborrecer. Não pensemos que eles estão desafiando a liderança. Querem saber mais. A igreja e os líderes precisam ser tolerantes com os jovens, precisam ser transparentes, francos e devem falar-lhes com amor. Não devem condena-los, nem usar o púlpito para censura-los. Que o púlpito seja um lugar de amor, a fim de que os jovens sejam atraídos a Jesus. Usem o método de conversar pessoalmente, cara a cara. Se um jovem tem um problema, não generalizem a situação dizendo que todos os jovens da igreja têm problemas. Visitem esse jovem, conversem com ele, e verão coisas maravilhosas acontecerem.

RA: Como passar de pais para filhos os valores da religião em épocas tão diferentes?

Baraka Muganda: A Associação Geral tem escrito muito sobre a maneira de ensinar nossos valores no mundo atual. Se você entrar em nosso website, verá uma grande quantidade de material sobre isso. A Divisão Sul-Americana também tem livros sobre questões sociais e estilo de vida jovem. Acho que, como pai, precisamos falar aos nossos jovens de maneira que eles entendam. Podemos mudar a embalagem, mas não podemos alterar o conteúdo. Podemos mudar o método de ensinar aos nossos jovens, mas não podemos mudar o conteúdo de nossos valores e normas cristãos. Existem pastores em nosso igreja que, infelizmente, continuam usando os métodos de 1940 para ensinar nossos jovens. Isso não funciona. É necessário mudar a embalagem da apresentação.

RA: Quais os principais desafios que nossos jovens enfrentam?

Baraka Muganda: Creio que são os estilos de culto e adoração. Os jovens de nossos dias querem adorar a Deus e prestar culto de maneira diferente da geração de adultos, com músicas de valores e normas questionáveis. Precisamos capacitar os jovens e envolve-los na missão da igreja. Mas, quando falamos de capacitação e envolvimento de jovens nas atividades da igreja, não nos referimos necessariamente ao evangelismo. Capacitar os jovens consiste em fazer com que sejam os donos da missão da igreja. Como tratamos nossos jovens ns igreja local? Sentem que essa é a igreja deles? Quando entram na igreja, ela é suficientemente calorosa, para que se sintam bem? Esses são os desafios. Hoje em dia vivemos o desafio da globalização. Os jovens, em todos os lugares do mundo, comportam-se da mesma maneira, não importa se são da África, Chicago ou Curitiba. Vestem-se da mesma maneira e ouvem o mesmo tipo de música. Todos esses desafios nos surpreendem e precisamos fazer alguma coisa para resolvê-los.

RA: A música tem dividido algumas igrejas. Como lidar com este problema?

Baraka Muganda: Essa é uma boa pergunta. A Associação Geral nomeou uma comissão para estudar este tema e desenvolver diretrizes para a igreja mundial. Não é só no Brasil ou na América do Sul que a música está dividindo congregações: é no mundo inteiro. Esta é uma nova geração e os jovens estão apresentando uma nova mentalidade quanto à música. O que estamos dizendo, novamente, é que precisamos ter princípios. Não dá para abordar todo o assunto agora, pois seria um novo discurso. Mas creio que os pastores e os líderes da igreja em geral precisam educar os membros da igreja. Os mais idosos e os mais jovens devem trabalhar juntos e conversar sobre os princípios da boa música cristã. Qual é o objetivo? O que se deseja alcançar? Queremos exaltar a nós mesmos? Ou queremos louvar e glorificar a Deus? Há músicas, atualmente, que não conseguimos sequer apreciar. Não dá para ouvi-las, porque há muito barulho. Qual é o objetivo disso? A quem estão tentando louvar? Essas são coisas que, como igreja, precisamos debater.

RA: Quando convidamos um cantor ou um instrumentista, deveríamos procurar saber, com antecedência, o que vai apresentar?

Baraka Muganda: Ah, sim, sim. Eu estava assistindo a um congresso de jovens, e eles haviam convidado cantores de outro país. Não fizeram uma avaliação prévia; simplesmente pegaram seus nomes, pagaram as despesas de viagem e hotel. Quando eles se apresentaram naquela noite, todos nós nos retiramos, por causa da maneira como se vestiam e do tipo de música! Então eles começaram a discutir uns com os outros, na liderança. Por que não verificaram antes? Alguém respondeu: Fulano disse que era um bom grupo. É muito importante verificar com antecedência. Antes de convidar alguém, é preciso analisar e conhecer seu trabalho, considerar se é realmente aquilo que você deseja. Se sou pastor ou líder de jovens, não trarei um grupo que venha confundir os jovens de minha igreja. Procurarei um grupo que cante para inspirar e fortalecê-los.

RA: Quando um jovem se envolve em problema, comete algum pecado, como a igreja deve agir?

Baraka Muganda: Creio que muitas igrejas têm errado neste aspecto. Somos muito severos com nossos jovens. Eles estão em processo de desenvolvimento. Precisamos demonstrar amor para com eles. Se uma jovem fica grávida, ou se algum jovem se envolve no uso de drogas ou bebidas alcoólicas, precisamos demonstrar amor, precisamos abraçar esta pessoa, visitá-la e conversar com ela. Permitir que sinta que é amada pela igreja, que a igreja ora por ela e a ama. Não devemos usar o púlpito para condenar este jovem. A igreja deve ser uma comunidade que ama as pessoas. Os jovens desejam sentir nosso amor. A menos que demonstremos amor para com eles, nós os perderemos.

RA: Então, antes de levar os nomes desses jovens à comissão da igreja, devemos visitá-los e demonstrar-lhes amor?

Baraka Muganda: Sim, devemos visitá-los, mostrar-lhes amor e explicar-lhes quão tristes estamos e como lamentamos levar seu nome para a comissão da igreja. Às vezes, os jovens olham para nós como se os estivéssemos castigando. Como se estivéssemos limpando a casa de Deus. Não estamos aqui para isso, e sim para amá-los e ajuda-los a crescer. Quando isso acontece, as pessoas envolvidas no problema dizem: “Muito obrigado, nós entendemos.” E você, então, tem a oportunidade de chorar e orar com elas.

RA: Uma mensagem especial para os jovens adventistas brasileiros.

Baraka Muganda: Amem a Jesus Cristo de todos o coração. Ele voltará muito em breve. É meu desejo que todos façam tudo como se este fosse seu último dia, como se realmente Jesus estivesse voltando. Que todos estudem bastante, trabalhem bastante e estejam habilitados como membros da igreja. Finalmente, desejo que sejam os melhores jovens do país, da comunidade, da igreja local. Onde quer que estejam, sejam os melhores, aspirem coisas elevadas, pois Deus os criou à Sua imagem. Apóiem sua igreja, envolvam-se na missão da igreja, façam alguma coisa para Deus. Este é o ano do evangelismo jovem.


Fonte: Revista Adventista, Setembro de 2004, págs 5-6.