Música, e Músicas…

por: Luiz Waldvogel

Consulta:

Escreve c.c.c., inteligente menina de 9 anos, já cursando a quarta série: “Queria que o senhor respondesse a minha querida irmã. Ela tem quinze anos, e pede para o senhor falar alguma coisa sobre como esquecer as músicas mundanas. Ela sabe que não deve ouvir e cantar essas músicas, mas não sabe como deixá-las. Às vezes ela não quer ligar o rádio, mas sempre é tentada e volta a escutar.

Muitas vezes os vizinhos ligam alto o rádio, a vitrola, etc., e ai ela sem querer começa a cantar e ás vezes até dança. Ela queria tanto deixar essas coisas de lado! As vezes pensa que seria muito bom morrer ou não ter nascido. Ela acha que os cantores mundanos têm voz mais bonita que as dos nossos cantores. Que acha o senhor que ela deve fazer? E pergunta mais: Por que na nossa igreja não existem músicas românticas (só que diferentes das músicas mundanas) e também livros de amor?”

Resposta:

Se a irmã da missivista ainda gosta de ouvir essas musiquinhas reles que agradam aos ouvidos incultos do povo de gosto artístico pervertido, então é tempo de reeducar essa tendência. Faça uma comparação imparcial das músicas modernas (que de música só tem o nome), com as músicas clássicas, as cantatas, corais, fugas e oratórios de, por exemplo, Bach, Beethoven, Mozart, Chopin, Paderewski, Schubert Schumann, Brahms, Liszt, Wagner, Strauss, Carlos Gomes, etc., e verá qual delas é mais nobre, mais harmoniosa, mais calmante, mais enternecedora e mais condizente com as altas aspirações da alma cristã, em busca da perfeição e da comunhão com o Céu.

Deleite o ouvido e empolgue a alma com músicas como, por exemplo, “A Criação”, de Haydin; “O Messias”, de Haendel; “Jesus, Alegria dos Homens”, de Bach; o oratório “Elias”, de Mendelsohn; músicas de Crechaminov, Tchaikowski, etc. Compare essas músicas e essas letras com as músicas e letras das produções profanas, muitas vezes indecentes, cujos nomes e classificação não sei nem se me dá saber.

Quem já não vibrou e não se comoveu ao ouvir o “Aleluia” de Haendel? Quem não percebeu na melodia de “Jesus, Alegria dos Homens” a insistente repetição de uma sentida súplica? Quem não tem ouvidos para as sonatas, sinfonias, oratórios, cantatas, fugas e corais dos grandes clássicos?

Não digo que rejeite todas as produções do folclore, que oferece numerosas canções de melodia aprazível e letra de conteúdo poético e sentimental, sem insinuações dúbias e obscenas.

No rádio, restrinja seu repertório às músicas sadias, que não tendam a movimentar os membros inferiores, num ensaio de dança. Para a vitrola existem muitos discos bons, religiosos e mesmo seculares. A “Voz da Profecia”, cuja sede é mesmo na cidade em que você reside, tem uma coleção de ótimos discos. Os nossos escritórios e as livrarias evangélicas têm à venda discos excelentes, na letra e na melodia.

Quanto às músicas românticas, muitos de nossos hinos são bem sentimentais, românticos mesmo, na letra e música. A diferença está em que esses hinos desabafam seu sadio romantismo na Pessoa de Jesus e não em seres humanos. Folheie de principio a fim o Cantai ao Senhor e encontrará inúmeros hinos, ricos na música e na letra. Para citar alguns apenas: “Deus vos guarde até nos encontrar”; “Perto do lar”; “Não há amor igual”; “Tudo é paz”; “Houve Alguém”; “O mais sublime amor”; “Abrigo na Rocha”; “A ovelha perdida”; “Guarda, vê se muito falta”; “Quase persuadido”; “Saudades do lar”; “Conta a feliz história”; “Ao tomar minha frágil mão”; etc. (Alguns dos hinos “Cantai ao Senhor”, como os últimos três mencionados, a meu ver sofreram no sentimento poético da letra, por exigências da música. Nesses e em alguns outros hinos, acho preferível a letra antiga, do “Hinário Adventista”.)

Quanto a “livros de amor”, a própria Bíblia tem tocantes exemplos, como o livro de Rute, as parábolas de Jesus (especialmente a do filho pródigo), o Cântico dos Cânticos. A Casa Publicadora tem numerosos livros de biografia de intenso interesse: Ana Sthal; José Amador dos Reis, Pastor e Pioneiro; Leo Halliwel na Amazônia; Quando Meus Deuses Ruíram; Heróis de Todas as Épocas; Influência transformadora de uma Jovem; Mundos Maravilhosos; Andando por Onde Andou Jesus; A Vitória de Maria No Reino dos Animais; Aventura nos Andes e Amazonas; Páginas Preciosas Pérolas Esparsas; Pelas Sendas da Vida; Pelos Meandros do Mal; Serões de Tio Silas, que termina numa história de amor; entre outros.

Há nas livrarias evangélicas e mesmo em outras, livros recomendáveis, como o comovente Quo Vadis; A Donzela Valdense; Os Irmãos Espanhóis; Livingstone; Abraão Lincol; Seara em Fogo; Homens Renascidos; Profeta das Selvas; Madame Curie; A Vida de John Paton; Fabiola, ou a Igreja das Catacumbas; George Mueller; etc., etc.

A consulente deve dar uma reviravolta no seu conceito quanto a arte e literatura. Se cultivarmos o amor às coisas seculares, profanas, elas com o tempo se tornarão nossa segunda natureza, e ficamos escravos de um gosto pervertido. Nosso conceito sofre então uma inversão de valores. Mas é perfeitamente possível, e muito desejável e compensador, fazer essa reviravolta. Quando, no rádio, procuro alguma música que valha a pena ouvir, fico às vezes horrorizado com o que ouço: ritmo bárbaro, ruído, guinchos e berros e gemidos horripilantes. Mas se insistisse em ouvir essa “música”, depois de algum tempo a acharia a coisa mais linda e melodiosa do mundo. Tudo está em educar nosso gosto.

Simpatizo com a inteligente missivista, pelas lutas que sofre para vencer o gosto das músicas e literatura do século. Mas estou certo de que, com seu decidido empenho e oração, logo mais as achará insulsas, indigestas, nauseantes – pois é o que elas são.


Fonte: Revista Adventista; resposta a uma pergunta feita à Consultoria Doutrinária da Revista Adventista. Setembro de 1981. Págs. 41 e 42. (Resposta dada pelo Pastor Luiz Waldvogel).