(Falsas) Estratégias de Crescimento para a Igreja

Dirigidos pelo Espírito ou Orientados por Propósitos? – Parte 01

por: Berit Kjos

Análise das Premissas Básicas

“Existem algumas coisas e pontos muito bons que Rick Warren apresenta. No entanto, eles parecem estar sempre misturados com tantos pontos confusos e teologicamente fracos que você acaba maluco ao tentar endireitar tudo. Você lê uma ótima frase, mas depois ele faz uma citação de Madre Teresa de Calcutá ou de Aldous Huxley e a sua mente fica confusa. Existe uma tendência para retratar Deus como um rosto sorridente no céu – mas você precisa ignorar Sua justiça e severidade! Além disso, quando você se torna o único ‘do contra’ em um grupo, fica chato – especialmente quando todos só têm elogios para o livro.” – Dave, um visitante em nosso site. [*]

Dave fala em nome de uma multidão de pessoas preocupadas. Enquanto o manual para a vida cristã do Pastor Warren tem cativado as igrejas ao redor do mundo, um número crescente de leitores com discernimento têm questionado suas distorções sutis, meias verdades, mensagens conflitantes ou sua permissividade pragmática: se funcionar (ou seja, se traz as pessoas para a igreja), está tudo bem! “Deus ama a variedade!” [2]

Como Dave, muitos acham difícil resistir ao consenso popular, especialmente quando as “regras para o crescimento” do pastor Warren, dizem: “Nunca critique aquilo que Deus está abençoando”. [3] Sugerindo que o crescimento das igrejas e as vidas transformadas provam a satisfação de Deus com nossos métodos humanos; esta regra cancela Seu chamado para “vigiar” e discernir a enganação. Alguns dizem: “Não toques no ungido de Deus”, mas não cremos que um líder seja tão “ungido” ao ponto de seus ensinos não poderem ser confrontados com a Bíblia. Embora somente Deus possa julgar o coração de uma pessoa, somos chamados a ajudar uns aos outros a seguir Suas diretrizes, não para sermos guiados pelos novos sistemas de administração atuais.

Rick Warren, pastor e fundador da Igreja da Comunidade de Saddleback, no sul da Califórnia, é um líder e pioneiro no atual Movimento de Crescimento de Igrejas. Com mais de 50.000 nomes no rol de membros de sua igreja, ele é o modelo de sucesso do processo de administração de igrejas que delineou em seu livro Uma Igreja com Propósitos. O texto abaixo resume seu ministério:

“Rick Warren é mais conhecido como o pioneiro do paradigma da Igreja com Propósitos para a saúde da igreja. Mais de 250.000 pastores e lideres de igrejas de mais de 125 paises assistiram aos seminários sobre Uma Igreja com Propósitos em 18 idiomas. Peter Drucker o chama de ‘o inventor do avivamento perpétuo’. O livro anterior de Rick, Uma Igreja com Propósitos, vendeu mais de um milhão de exemplares em 20 idiomas. Ganhador do prêmio Medalhão de Ouro do Livro do Ano Para o Ministério, o livro é utilizado na maioria dos seminários e foi selecionado como um dos 100 livros cristãos que mudaram o século XX” [4]

Observe a referência a Peter Drucker. O que esse lendário guru da administração comunitária começou a ensinar décadas atrás para grandes empresas, está sendo agora aplicado às igrejas de Deus, assim como em comunidades e governos em todo o mundo. Já que os novos métodos parecem “funcionar” igualmente bem tanto para igrejas como para as grandes empresas – e já que os resultados mensuráveis oferecem “provas” estatísticas de “sucesso” – pastores de inúmeros países estão adotando e implementando a abordagem do marketing de Peter Drucker para “fazer igreja”

Em um artigo de 2002 na revista Business Week intitulado “Peter Drucker’s Search for Community” [A Busca de Peter Drucker pela Comunidade], Ken Witty descreve a cosmovisão que guia os planos e propósitos de Drucker:

“Ele traz uma filosofia comunitária à sua consultoria … Ele disse que essa busca se resume na busca pela comunidade, a busca de onde as pessoas e organizações encontram o sentido de comunidade para obter satisfações não econômicas …”

“Muitas de suas ideias se tornaram tão aceitas que é difícil para qualquer um entender quão originais elas foram no tempo em que ele as apresentou. É mais ou menos como Freud e a psicanálise. Peter Drucker foi o primeiro, por exemplo, a ajudar os administradores de empresas a entenderem que deveriam definir seus negócios de acordo com a perspectiva do cliente.” [5]

O foco na “perspectiva do cliente” traz o sucesso. As pessoas se sentem satisfeitas. Elas vêm e compram. Quando esse processo é aplicado às igrejas, ele também funciona! Com pesquisas de opinião e questionários estatísticos, uma igreja pode facilmente descobrir as “necessidades sentidas” dos incrédulos na cidade ou bairro – e assim focalizar os serviços para seu público-alvo.

Por que enfocar as necessidades sentidas dos incrédulos em vez de as verdadeiras necessidades da família de Deus? Essa estratégia não vira pelo avesso os princípios de Deus? Sim, mas também atrai a diversidade espiritual necessária para o processo dialético – a causa das transformações atuais nas igrejas e nas empresas, na educação, nos governos e em outras organizações. O Dr. Robert Klenck resume em seu texto O Que Há de Errado com a Igreja do Século 21?:

“Neste movimento, é fundamental que os incrédulos sejam trazidos à igreja; de outra maneira o processo de mudança contínua não poderá começar. Tem de haver uma antítese (incrédulos) presente para se opor à tese (os crentes), para que se possa mover em direção ao consenso (a contemporização) e levar os crentes para longe de seus absolutos morais (a resistência à mudança). Se todos os membros da igreja ficarem firmes na Palavra de Deus e em sua autoridade final sobre toda doutrina e tradição, a igreja não poderá e não irá se transformar. Essa é a fé comum. Em breve, veremos por que esses “agentes de mudança” estão pressionando tanto para as mudanças ocorrerem na igreja.”

O atual tutor do pastor Warren neste processo gerencial é a CMS, uma “agência de prestação de serviços personalizados de marketing e comunicação sediada em Covina, na Califórnia”. O website mostra a missão da empresa:

“Na CMS, temos como missão ajudar nossos clientes a crescerem em seus negócios. Fazemos isso trabalhando com cada cliente na identificação das oportunidades e desenvolvendo serviços inovadores, criativos e lucrativos que os auxiliarão na execução de um marketing efetivo, nas vendas e no programa de comunicações… Servimos melhor aos clientes quando eles nos permitem atuar como seus parceiros… A CMS é formada por uma equipe de indivíduos talentosos dos quais a dedicação e habilidade os fizeram merecedores de uma sólida reputação na obtenção de resultados.” [6; ênfase adicionada]

Não deveríamos dar crédito a Deus, e não a boas estratégias de marketing, pela “obtenção de resultados”? Afinal, a Bíblia diz que “A sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus“. Os caminhos “sábios” do homem podem servir aos nossos propósitos humanos, mas entram em choque com os propósitos de Deus. [I Coríntios 3:19-20; Provérbios 3:5-7]

Embora os parceiros da CMS incluam gigantes seculares como a Quaker e Isuzu Motors, ela também presta serviços a clientes como a cidade de West Covina, Ministérios Propósitos, Igreja da Comunidade de Saddleback, Centro de Relacionamentos Smalley e o “Walk Thru the Bible.” [7] Este último foi fundado e é dirigido por Bruce Wilkinson, o autor do livro de grande sucesso de vendas A Oração de Jabez.

Parte do sucesso da CMS baseia-se em pesquisas e acompanhamentos que caracterizam os sistemas gerenciais do século 21:

“Coletar, organizar e gerenciar informações é essencial para entender, avaliar e planejar qualquer promoção de sucesso. É por isso que desenvolvemos nosso CMS Intelligent Redemption System. É um sofisticado software patenteado que nos permite programar e iniciar os dados… Nossos padrões de compra e procedimentos de efetivação incorporam rastreamento e contabilidade… O CMS Fulfillment Center é especializado em projetos de mala direta, lançamento de novos produtos e de promoções.” [8]

Não é de se maravilhar que visitantes curiosos estão indo aos montes às igrejas com propósitos e que pastores de todo o mundo estão assistindo e ouvindo, prontos para imitar.

Neste segundo trimestre, “mais de 13.000 ministros e estudantes” ouviram o pastor Warren explicar os modos de uma igreja com propósitos na Super Conferência 2003, que aconteceu na Universidade Liberty, de Jerry Falwell. Falando sobre o tema ‘Atraindo uma Multidão Para a Adoração’, o pastor Warren compartilhou alguns princípios básicos por trás do crescimento de igrejas. Ele direcionou suas palavras àqueles que estão “presos no passado”:

“Acredito que uma das principais questões da igreja [do futuro] será como iremos alcançar a próxima geração com nossa música”, ele disse, admitindo: “Você pode deixar mais pessoas insatisfeitas com a música do que com qualquer outra coisa na igreja…”

“Insistir que a única música boa é a que veio da Europa duzentos anos atrás – há um nome para isto – racismo … Incentive os membros a fazerem novos arranjos e a reescrever. As novas canções dizem que Deus está fazendo algo extraordinário.” [9 – ênfase adicionada].

Dizem mesmo? Ou as novas canções poderiam refletir o desejo do homem de agradar às multidões? É muito fácil justificar nossas tentativas de atender as “necessidades sentidas” e demonstrar sucesso. Basta reinventarmos o caráter e a vontade de Deus, declarando que nossos propósitos são os Seus propósitos. Se assumirmos que Ele ama as mesmas coisas que amamos, atribuímos a Ele uma imagem mais parecida com a nossa. Mas no Salmo 50:21, Deus nos adverte contra essas suposições míopes sobre Sua natureza: “… pensavas que era tal como tu, mas eu te argüirei…”, Ele disse ao Seu povo.

O pastor Warren mais uma vez afirmou a aprovação divina durante o seminário “Construindo uma Igreja com Propósitos”, que ocorreu na Igreja da Comunidade de Saddleback, em janeiro de 1998. Baseando as estratégias de crescimento de igrejas nas necessidades pessoais, não nos ensinamentos da Palavra de Deus, ele disse:

“Na Igreja de Saddleback, somos assumidamente contemporâneos … Distribui um cartão para todos na igreja dizendo: ‘Escreva os nomes das estações de rádio que você ouve.’ Eu não perguntei isso aos incrédulos, mas para as pessoas da igreja: ‘Que tipo de música você ouve?’ Quando recebi as respostas, nem uma única pessoa respondeu: ‘Ouço música de órgão.’ Nem uma … Então, tomamos a decisão estratégica de sermos uma igreja de música contemporânea. Logo depois que tomamos essa decisão e deixamos de tentar agradar a todos, a Igreja de Saddleback experimentou um crescimento explosivo…”

“Serei honesto com você, somos barulhentos. Somos muito barulhentos em um culto de fim de semana… Eu digo, ‘Não vamos abaixar o volume.’ A razão é que a geração com menos de cinqüenta anos quer sentir a música, não apenas ouvi-la… Deus ama a variedade![2]

Deus realmente ama a “variedade” cultural dos dias de hoje? Duvido que Deus se agrada quando alimentamos nossos desejos e fortalecemos nossas “necessidades” de estímulos emocionais. Quando o Israel antigo se enfadou da Palavra de Deus e adotou uma grande variedade de sensações culturais e espirituais, Deus os disciplinou severamente. Ele até comparou Seu povo obstinado a uma “jumenta montês … que, conforme o desejo da sua alma, sorve o vento…” [Jeremias 2:24]

Quando os líderes da igreja passam a fazer uso de músicas excitantes, estímulos emocionais e de pequenas e leves mensagens para satisfazer a carne com suas “necessidades sentidas”, tendem a obscurecer nossas necessidades espirituais mais profundas. Alimentados com uma dieta de sermões simplificados, feitos para agradar a todos, tanto buscadores quanto crentes podem perder o apetite pelo ensino bíblico sólido, o qual – pelo Espírito Santo – produz convicção do pecado, arrependimento genuíno, regeneração, verdadeira renovação espiritual e contínua alegria em caminhar com Jesus.


Notas

1. Rick Warren, Uma Vida com Propósito, Editora Vida.

2. Rick Warren, citado citado por Dennis Costella na revista Foundation Magazine, Março-Abril de 1988. O próprio Rick Warren escreve uma mensagem semelhante, em um artigo intitulado “Selecting Worship Music” [Selecionando a Música de Adoração] em http://www.pastorport.com/ministrytoday.asp?mode=viewarchive&index=18 (visitado em 02/04/08). A Bíblia nos adverte sobre um “tipo” de música ou costume que serve ao paganismo: “No mesmo instante em que todos os povos ouviram o som da buzina, da flauta, da harpa, da sambuca, do saltério e de toda a espécie de música, prostraram-se todos os povos, nações e línguas, e adoraram a estátua de ouro que o rei Nabucodonosor tinha levantado.” [Daniel 3:7]

3. Rick Warren, Uma Igreja com Propósitos, Editora Vida, p. 62.

4. http://www.saddlebackresources.com/en-US/Pastors/SermonsandTranscripts/RickWarrenBio.htm (visitado em 02/04/2008)

5. Ken Witty, “Peter Drucker’s Search for Community,” Business Week Online, 24 de dezembro de 2002. Disponível em https://www.bloomberg.com/news/articles/2002-12-23/peter-druckers-search-for-community (visitado em 02/04/2008)

6. Publicado originalmente em: http://www.christian-ministry.com/aboutus_who.htm

7. Publicado originalmente em: http://www.christian-ministry.com/clients.htm

8. Publicado originalmente em: http://www.christian-ministry.com/services_promo.htm

9. Rick Warren, SuperConference 2003, na Universidade Liberty. Citado em http://www.cephas-library.com/purposedriven/purposedriven_quotes_by_rick_warren.html (visitado em 02/04/2008)


Notas dos editores do Música Sacra e Adoração

[*] – Obviamente, a autora está se referindo ao espaço virtual Kjos Ministries, mantido por ela em http://www.crossroad.to/


Fonte: A Espada do Espírito

Tradução: Maria Stella Tupynambá


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