Pragmatismo Nas Igrejas

Mac Dominick

Igreja Com Propósitos – Este termo foi inventado pelo pastor Rick Warren, da Igreja da Comunidade de Saddleback, no sul de Los Angeles. A ideia é que uma igreja deve colocar sua visão nos seus propósitos finais e estruturar sua metodologia de modo a alcançar esses propósitos. O termo “dirigida por propósito” é sinônimo de “orientada para resultados”. Em seu livro “Uma Igreja com Propósitos”, Rick Warren relaciona o processo de se tornar “dirigida por propósitos”. Para os objetivos desta análise, a palavra “resultado” foi substituída por “propósito”. O significado é o mesmo. O plano dele é como segue:

  1. Defina o resultado
  2. Exija o resultado
  3. Baseie as atividades de modo a alcançar o resultado
  4. Inicie o programa para alcançar o resultado. O resultado nesse caso é o crescimento exponencial da igreja.

De acordo com os “especialistas em crescimento de igrejas”, a população (de um modo geral) está se tornando cada vez mais espiritual. A nova espiritualidade não é a espiritualidade coerente com os ensinos da Palavra de Deus, mas é mais uma busca interior por felicidade, realização verdadeira e propósito na vida. Os mesmos especialistas também revelam que o homem perdido sem-igreja mediano demonstra interesse e amizade em relação a Deus, mas sente-se repelido pela igreja. Esse indivíduo então está buscando um caminho para Deus, mas quer evitar a igreja tradicional. Ele acha que a igreja é irrelevante e fracassou em atender às necessidades de seus membros. Ele acha que a igreja não pode relacionar-se com ele onde vive e, portanto, não consegue se sentir à vontade em um culto da igreja. A despeito de todas as inibições criadas pela igreja, ele ainda está buscando a Deus e a paz interior resultante que encontrar Deus trará à sua vida.

As conclusões naturais obtidas a partir desse dilema é uma condenação da igreja por aqueles que desejam um novo paradigma. Eles defendem a ideia que a falha não é do indivíduo que está buscando a Deus, e certamente não é do próprio Deus. Portanto, de acordo com os proponentes do novo paradigma, o velho modo de “fazer igreja” não serve para o homem moderno. O homem moderno está buscando realização e felicidade, mas aqueles que são rígidos no modo antigo de pensar estão, na realidade, condenando a cultura atual por meio de uma completa falta de identidade e empatia com o mundo desse homem moderno. Assim, há realmente a necessidade de um novo paradigma — um novo modo de pensar, e um novo modo de “fazer igreja” que seja sensível às necessidades daqueles que buscam a Deus. A igreja precisa se tornar “sensível aos que procuram”, ou então esta geração atual será perdida.

Em muitos modos, a igreja têm realmente falhado. A igreja falhou em cumprir a Grande Comissão. A igreja falhou em viver uma vida separada ao ponto em que os perdidos não podem ver Jesus Cristo exemplificado nas ações diárias da igreja. A igreja falhou em não estabelecer um padrão elevado de piedade. A igreja tornou-se tão distraída e enamorada com o mundo que é muito difícil discernir a maioria dos cristãos de seus vizinhos incrédulos. Os membros da igreja estão tão ocupados com seu emprego, com a família e com as atividades de lazer que não têm mais tempo para o Senhor. Sim, a igreja precisa mudar, mas essa mudança está longe de se tornar “sensível aos que procuram”. Os membros da igreja de Jesus Cristo precisam obedecer as Escrituras. Em particular, os membros da igreja precisam obedecer ao mandamento “… sede santos porque eu sou santo.” Esse é o mandamento mais repetido em toda a Palavra de Deus, porém a maioria dos cristãos o ignora completamente. A santidade pessoal é exemplificada por uma vida correta e separada. Se esse é o caso, os cristãos não devem se tornar como o mundo para ganhar o mundo. A abordagem “sensível aos que procuram” exige que o buscador sinta-se confortável quando vier à igreja. Como a igreja garante que o buscador sinta-se confortável?

  1. A igreja não deve ter bancos no estilo tradicional, nem parecer ser muito formal.
  2. Os buscadores são incentivados a “virem como estão”. Não há um código específico de traje apropriado e o uso de roupas casuais é incentivado.
  3. Os trajes da equipe ministerial e do pastor também devem ser casuais.
  4. O recinto deve incluir os recursos mais modernos em vídeo e áudio.
  5. Produções dramáticas com temas espirituais devem ser usadas para sutilmente transmitir uma mensagem religiosa ou de conteúdo moral.
  6. A pregação sobre o pecado, sobre mortificar o velho homem e sobre examinar a si mesmo realmente deixaria o buscador em desconforto. Portanto, os sermões devem ser voltados mais para as aplicações da vida, a redução do estresse, em atender às necessidades sentidas, os relacionamentos diários, a educação de filhos, a auto-estima, e outros assuntos baseados mais na psicologia moderna do que no “Assim diz o SENHOR”.
  7. A música tocada no serviço deve imitar o estilo musical que o buscador ouve diariamente em sua estação de rádio preferida.
  8. A Bíblia na tradução de João Ferreira de Almeida, versão Corrigida e Fiel (Bíblia da Reforma, equivalente à King James Version, em inglês) não deve ser usada, mas uma das várias traduções modernas, que deixarão o buscador mais à vontade.
  9. O buscador precisa ver que a mensagem da igreja é relevante para sua vida diária.
  10. O buscador precisa ver que o cristianismo funciona e que lhe trará resultados imediatos.

A verdade da questão é que as respostas procuradas pelo buscador não são as respostas fornecidas na Palavra de Deus. Deus nunca promete ao crente (muito menos ao homem perdido) que ele viverá em perpétua felicidade. Sim, o crente recebe os frutos da alegria, mas a verdadeira alegria e felicidade humanas não são termos sinônimos. De uma perspectiva humana, a felicidade e realização que o buscador deseja tão fervorosamente podem não ter nenhuma conexão com Deus ou até com a realidade. Portanto, o único método pelo qual a igreja pode atender às necessidades percebidas do buscador é pela manipulação emocional e/ou pelo engano. Em outras palavras, a igreja precisa se conformar à cultura do buscador para tornar-se “sensível aos que procuram”. A Palavra de Deus, porém, diz, “.. não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tiago 4:4). Essa advertência das Escrituras exige a abordagem exatamente oposta para o ministério e, quando uma igreja desafia os mandamentos das Escrituras, essa igreja está simplesmente brincando com o jogo de igreja.

Evangelismo

Os proponentes da Igreja do Novo Paradigma não estão totalmente errados quando dão uma alta prioridade à Grande Comissão. Como afirmado anteriormente, a igreja falhou na obediência a essa ordem do próprio Jesus Cristo. Entretanto, aqueles que estão envolvidos na Religião Orientada Para Resultados não compreendem os verdadeiros propósitos e missão da igreja. A missão da igreja é a edificação e capacitação dos santos, alcançar os perdidos para Cristo e, subseqüentemente, nutrir esses convertidos para que alcancem a maturidade espiritual. O terceiro ponto dessa afirmação de missão poderia ser resumido como “evangelismo”. O centro da questão vem à luz quando se percebe que a Igreja do Novo Paradigma transforma toda a missão da igreja em evangelismo e subjuga a edificação e a capacitação ao ponto da virtual eliminação. O ingrediente que falta nessa fórmula é a distinção da missão da “igreja reunida” e a missão da igreja “dispersa”. Depois da santificação, a missão principal da igreja dispersa é o evangelismo: levar outros a Cristo. Entretanto, o evangelismo deve receber uma baixa prioridade quando a igreja está reunida. A igreja NÃO está ali reunida para o propósito de evangelismo, mas para a edificação, capacitação e fortalecimento de seus membros. Isso torna a afirmação de Rick Warren de “uma igreja para os sem-igreja” um total oxímoro. Qualquer organização para os sem-igreja não é uma igreja. Qualquer pastor que afirme liderar tal “igreja” está simplesmente brincando com o jogo da igreja.

Pragmatismo

O pragmatismo cristão é a filosofia que declara, “Se algo funciona, está funcionando como resultado direto das bênçãos de Deus.” Embora esse seja certamente o caso em muitas situações, uma afirmação ampla e genérica desse tipo simplesmente não é verdade. Se fôssemos assumir que esse é o caso, a Igreja Católica Romana e a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (os Mórmons) seriam as duas organizações mais abençoadas na face da Terra.

O teste do ácido para qualquer organização religiosa é muito simples: Essa organização ou metodologia obedece aos princípios da Palavra de Deus? Se esses princípios são violados, o sucesso, crescimento, ou qualquer outra medida positiva da perspectiva humana são resultantes de outra fonte que não a “mão de Deus” nesses assim chamados ministérios.

Relevância Cultural

A Igreja de Jesus Cristo é definida e recebe suas instruções da Palavra escrita de Deus. A Bíblia é muito concisa em sua avaliação que a igreja deve se manter separada e não contaminada pelo mundo:

“Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.” (I João 2:15-17)

“E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12:2)

“A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo.” (Tiago 1:27)

Essas e outras escrituras traçam uma linha distinta de demarcação entre o cristão e o mundo. É esse argumento que levanta bandeiras vermelhas ao avaliar as estratégias de marketing do movimento do novo paradigma. Na busca por relevância para alcançar o resultado do crescimento da igreja, a cultura do mundo começou a definir a igreja em lugar da Palavra de Deus.

A maioria da população tem a cultura do “EU PRIMEIRO” e suas principais questões são: “O que há para mim?” “Como posso me sentir melhor comigo mesmo?”… Tudo o que importa sou EU e ninguém mais.

Ao dizer que a cultura está preocupada com o EU, existem diversos aspectos de agradar o EU que precisam ser explorados. Um membro da geração do EU pode ser alcançado por meio dos seguintes métodos:

  • Solucione os problemas dele atendendo às suas necessidades.
  • Ajude-o a alcançar seus objetivos
  • Construa seu ego
  • Mantenha-o entretido e satisfeito

Os três primeiros aspectos podem ser tratados utilizando-se os instrumentos da psicologia moderna ou por meio da manipulação emocional. O aspecto do entretenimento e da satisfação é o mais fácil, por que existem muitos indivíduos talentosos que estão muito ansiosos para exibir seus talentos para qualquer público que esteja disposto a assistir. Adaptar o equilíbrio desses métodos nos serviços da igreja requer somente uma mudança na filosofia da verdadeira adoração para a gratificação da carne. Subitamente, Deus torna-se mais uma “fada madrinha dos contos infantis” que o Deus das Escrituras. Como resultado, a igreja torna-se subitamente relevante para o indivíduo dessa geração do EU, mas será se essa igreja continua sendo uma verdadeira igreja? Evidentemente, tais questionamentos no novo paradigma de hoje são irrelevantes, pois o resultado já foi alcançado — o crescimento exponencial da igreja.

Crescimento

Essa promoção está tentando vender a ideia que chegou o tempo de pular para dentro do vagão e provocar uma transição em sua igreja de uma posição tradicional e separada para o modelo do novo paradigma porque Deus está abençoando o novo sonho de como fazer igreja com números que estão levando países inteiros ao reavivamento! Agora, quem em sã consciência não quereria receber esse derramamento das bênçãos de Deus? Qual cristão não gostaria de ver milhares de pessoas convertendo-se a Cristo? Qual pastor não gostaria que sua igreja fosse a maior igreja na história do cristianismo? Além de fazer essas perguntas, deve-se também ser muito cuidadoso para não ser nem um pouquinho crítico desses sucessos porque tal espírito crítico seria o mesmo que criticar o derramamento do Espírito de Deus.

Além disso, se alguém conclui que Crescimento = Bênção, a lógica diz que Nenhum Crescimento = Maldição. Com base na conclusão que “nenhum crescimento é o resultado da maldição de Deus sobre um dado ministério”, existem milhares de pastores e missionários que trabalharam fielmente durante anos sem ver frutos visíveis de seus esforços que foram, sem dúvida, amaldiçoados por Deus. Poderia essa possibilidade ser verdadeira? Se o crescimento numérico deve ser a base para as bênçãos de Deus, não seriam a Igreja Católica Romana e a Igreja Mórmon as duas organizações mais abençoadas que “usam” o nome de Jesus Cristo na face da Terra? Isso significa que qualquer pequeno trabalho é um triste fracasso à vista de Deus? Todos devem brincar de igreja com os números ou arriscar incorrer na maldição de Deus? Todos os verdadeiros pastores tementes a Deus estão sonhando esse “novo sonho”? De onde esse novo sonho se originou? Esse “sonho” é o resultado da liderança do Espírito Santo de Deus, ou é a tática de marketing que alguém esquematizou para obter um determinado resultado?

Se os cristãos avaliassem honestamente o Jogo da Igreja do Novo Paradigma com base unicamente na Palavra de Deus, ninguém mais participaria nesse passatempo frívolo. O ponto crucial do problema reside no fato que a vasta maioria dos cristãos professos prefere seguir a visão que algum homem teve do que aquilo que Deus falou de forma bem clara em Sua Palavra.


Este artigo é um resumo do capítulo 8 do livro on-line Pragmatismo na Igreja: Uma Religião Orientada Para Resultados e Que Abre a Porta Para o Anticristo