(Falsas) Estratégias de Crescimento para a Igreja

Uma “Confissão” Chocante da Igreja da Comunidade Willow Creek

Bob Burney

Se você tem mais de 40 anos, o nome de Benjamin Spock é mais do que familiar. Foi Spock quem disse a toda uma geração de pais para não se importar, não disciplinar seus filhos e permitir que eles se expressem. A disciplina, ele nos disse, iria danificar o frágil ego da criança. Milhões seguiram este guru do desenvolvimento infantil e ele se manteve incontestado entre os profissionais da educação infantil. Contudo, antes de sua morte, o Dr. Spock fez uma surpreendente descoberta: ele estava errado. De fato, ele disse:

“Criamos uma geração de crianças mal-educadas. Os pais não são firmes o bastante com seus filhos, por medo de perder o seu amor ou ficar sujeitos ao seu ressentimento. Esta é uma provação que nós, profissionais, impusemos sobre mães e pais. É claro, fizemos isso com a melhor das intenções. Não compreendemos até que fosse tarde demais que a nossa atitude de “sabe-tudo” estava solapando a auto-confiança dos pais.”

Esta é uma declaração e tanto!

Algo de importância comparável a isto, em minha opinião, acaba de ocorrer na comunidade evangélica. Por mais de uma geração os evangélicos tem estado flertando com o movimento “sensível aos que buscam”, disseminado pela Igreja da Comunidade de Willow Creek em Chicago. O guru deste movimento foi Bill Hybels. Ele e outros estiveram nos dizendo por décadas para jogarmos fora tudo o que anteriormente pensávamos e que fora nos ensinado a respeito de crescimento da igreja e substituir tudo por um novo paradigma, uma nova forma de ministério.

Talvez de forma irrefletida, juntamente com esta “nova onda” de ministério veio uma redução da importância de assumir a responsabilidade pessoal pelo estudo da Bíblia, combinada com uma ênfase em “programas” baseados em necessidades pessoais e marketing barato.

O tamanho da multidão, em vez da profundidade de coração determinava o sucesso. Se a multidão era grande, então com certeza Deus estava abençoando o ministério. As igrejas eram construídas por estrategistas profissionais, com base em estudos demográficos, pesquisas de mercado, indo de encontro a “necessidades pessoais” e sermões consistentes com essas técnicas. Nos disseram que a pregação estava em baixa, a relevância estava em alta. A doutrina não importava, nem de perto, tanto quanto a inovação. Se [uma ideia] não fosse o “estado-da-arte” e amigável ao usuário, estava condenada. A menção a pecado, salvação e santificação eram tabus e foram substituídas por lojas de café, estratégia e sensibilidade.

Milhares de pastores ficavam embevecidos com cada palavra que emanava dos lábios dos especialistas em crescimento de igrejas. Seminários satélite estavam lotados com líderes eclesiásticos famintos por aprender o último método para “fazer igrejas”. A promessa era clara: milhares de pessoas e milhões de dólares não podem estar errados. Esqueça o que as pessoas precisam, dê a elas o que elas querem. Como argumentar com os números? Se você ousasse desafiar os “especialistas” seria imediatamente rotulado como um “tradicionalista”, um antiquado dos anos 50, um dinossauro teimoso, que não está disposto a mudar com a nova época.

Tudo isso mudou recentemente.

A igreja de Willow Creek divulgou os resultados de um estudo de vários anos acerca da eficácia de seus programas e de sua filosofia de ministério. As descobertas do estudo estão em um novo livro intitulado “Revelação: Onde Está Você?”, co-escrito por Cally Parkinson e Greg Hawkins, pastor executivo da Igreja da Comunidade Willow Creek. O próprio Hybels disse que as descobertas [resultantes deste relatório] seriam “de fazer a terra balançar” “de fazer o chão se abrir” e “de explodir a mente”. E não é de se admirar: parece que os “especialistas” estavam errados.

O relatório revela que a maioria das coisas que eles fizerem por todos estes anos e o que eles ensinaram a milhões de outros [pastores e líderes eclesiásticos] a fazer não estava produzindo discípulos formes para Jesus Cristo. Números sim, mas não discípulos. E fica pior. Hybels lamenta:

“Algumas das coisas nas quais investimos milhões de dólares, pensando que realmente ajudariam nosso povo a crescer e a se desenvolver espiritualmente, quando os dados realmente chegaram [vimos que] não estavam ajudando as pessoas tanto assim. Outras coisas nas quais não investimos tanto dinheiro e não designamos tantas pessoas, são as coisas pelas quais nosso povo está clamando.”

Se você quer simplesmente uma multidão, o modelo “sensível aos que buscam” produz resultados. Se você quer seguidores de Cristo sólidos, sinceros, maduros, [este método] é um engodo. Em uma confissão chocante, Hybels afirma:

“Cometemos um erro. O que deveríamos ter feito quando as pessoas cruzavam a linha da fé e se tornavam cristãos [é que] deveríamos ter começado a dizer e ensinar às pessoas a assumir a responsabilidade de alimentarem a si mesmas. Deveríamos ter feito as pessoas entender, ter ensinado a essas pessoas como ler as suas Bíblias entre os cultos, como realizarem práticas espirituais por si próprias, de uma forma muito mais agressiva.”

Incrivelmente, o guru do crescimento da igreja agora nos diz que as pessoas precisam ler as suas Bíblias e assumir a responsabilidade por seu crescimento espiritual.

Assim como o “engano” de Spock não foi um erro insignificante, da mesma forma o erro do movimento “sensível aos que buscam” é monumental em sua abrangência. Descobre-se agora que o alicerce de milhares de igrejas americanas é simplesmente areia. O indivíduo que talvez exerça a maior influência sobre a igreja americana em nossa geração admitiu agora que a sua filosofia de ministério foi, em grande parte, um “erro”.  A extensão deste erro desafia nossa capacidade de mensurá-la.

Talvez a coisa mais chocante de todas nesta revelação que vem da igreja de Willow Creek é a declaração resumida por Greg Hawkins:

“Nosso sonho é que alteremos de maneira fundamental a forma de fazer a igreja. Que tomemos uma folha de papel em branco e repensemos todas as nossas antigas suposições. Substituí-las por novas visões. Visões que estejam embasadas pela pesquisa e enraizadas nas Escrituras. Nosso sonho é realmente descobrir o que Deus está fazendo e como Ele está nos pedindo para transformar este planeta.”

Não foi isso que nos falaram quando toda essa coisa de “sensível aos que buscam” começou? Os gurus do crescimento da igreja querem mais uma vez jogar fora suas antigas suposições e “tomar uma folha de papel em branco” e presumivelmente, descobrir um novo paradigma para o ministério.

Isto deveria nos encorajar?

Por favor, note que “enraizadas nas Escrituras” ainda segue-se a “repensar”, novas visões” e “embasadas pela pesquisa”. Alguém, ao que parece, pode ainda não ter compreendido. A menos que haja um retorno aos princípios bíblicos simples (e relevantes), um novo esquema falho substituirá o existente e outra geração seguirá o último toque da flauta.

O que deveríamos considerar como encorajador, pelo menos, nesta “confissão” vinda dos mais altos níveis da Associação de Willow Creek é que eles estão chegando à compreensão de que seu atual “modelo” não ajuda as pessoas a crescer e se tornarem seguidores maduros de Jesus Cristo. Devido à massiva influência que esta organização tem sobre a igreja americana de hoje, oremos para que Deus se agrade em estabelecer estruturas na igreja de Willow Creek que não promovam apenas crescimento numérico, mas sim crescimento em graça.


Fonte: http://www.crosswalk.com

Tradução de Levi de Paula Tavares em dezembro de 2007


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