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O Cristão e a Música Rock – Capítulo 11

por: Güenter Preuss

A Música Rock e o Evangelismo



Güenter Preuss trabalha atualmente, em tempo integral, como Diretor de Música da Conferência de Baden-Wuerttemberg dos Adventistas do Sétimo Dia na Alemanha. De 1985 a 1995 ele foi Diretor do Departamento de Música do Colégio Adventista e Seminário Teológico em Collonges-sous-Salève na França. Brevemente ele defenderá sua dissertação doutoral, a respeito de um hinário da reforma entre 1700 e 1870 na Universidade de Sorbonne em Paris.

Preuss escreveu vários estudos sobre a música na sinagoga, na igreja apostólica, e no evangelismo de jovens. Ele está ativamente envolvido em ajudar aos jovens a superarem sua dependência pela música rock e a fazerem boas escolhas musicais.


A citação de Shakespeare, “Ser ou não ser”, pode ser parafraseada hoje como “Balançar ou não Balançar.” A batalha sobre se a música rock deveria ou não ser usada para a adoração na igreja e no evangelismo está sendo travada para além das linhas denominacionais. Isto é verdade não apenas na América, mas também em muitos países Ocidentais, inclusive o meu próprio país, a Alemanha.

O uso da música rock, especialmente nos encontros da juventude adventista na Alemanha, está criando polêmicas enormes. Por exemplo, no dia 19 de junho de 1999, uma reunião de jovens foi organizada em Nurenberg, e assistida por 1.900 pessoas. Uma canção rap foi tocada como música especial antes do sermão.

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Enquanto alguns jovens se deleitavam com aquela música, outros enviaram cartas de protesto à Conferência e aos oficiais da União, que se desculparam pelo ocorrido. Infelizmente, este não foi um incidente isolado, já que bandas de rock adventistas se tornaram uma atração regular em reuniões de jovens.

Alguns artistas adventistas de Música Cristã Contemporânea (MCC) – cantores de rock, pop e gospel – defendem apaixonadamente o uso de sua música para adoração na igreja e em campanhas evangelísticas. 1 Outros protestam veementemente contra o que percebem ser a música de Babilônia. Os contendedores de cada lado do debate sobre a música estão ponderando suas estratégias de forma a ganharem conversos a sua causa.

O debate atual me afeta profundamente porque a música sempre foi a paixão de minha vida. Durante os últimos 15 anos servi, primeiro, como Diretor do Departamento de Música no Seminário Teológico Adventista em Collonges-sous-Salève na França (1985-1995), e, depois, como Diretor de Música da Conferência da IASD de Baden-Wuerttemberg na Alemanha (1995-2000). Sou um dos fundadores na Europa da “Adventist Music Society” (1999). A recente invasão da música popular de alto volume em nossas igrejas adventistas, especialmente em reuniões de jovens, me levou a passar incontáveis horas examinando a música rock sob as perspectivas social, moral, fisiológica, psicológica, e bíblica. Este artigo representa um breve resumo de alguns aspectos da minha pesquisa.

Objetivo Deste Capítulo. Este capítulo trata desta questão fundamental: Pode a música rock, em qualquer de suas formas, ser usada para manter a juventude dentro da igreja e também para alcançar as pessoas de mente secularizada fora da igreja?

Seria presunçoso assumir que este capítulo proveria a resposta definitiva a este assunto, que tem sido debatido tão calorosamente. O melhor que posso esperar é estimular um diálogo construtivo entre músicos na igreja, líderes de jovens, e administradores. Lidando com este assunto polêmico, é imperativo que aprendamos a discordar sem sermos desagradáveis uns com os outros.

O capítulo é dividido em duas partes. A primeira parte define os termos e as questões do debate atual sobre o uso da música rock. A segunda parte enfoca, especificamente, o uso da música rock para evangelizar as pessoas de mente secularizada, especialmente os jovens. Atenção especial é dada a alguns dos argumentos populares usados para defender o uso da música rock no evangelismo.

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Parte 1
Definindo as Questões

Uma análise significativa do debate atual sobre o uso da música rock para a adoração na igreja e para o evangelismo, pressupõe uma compreensão das questões envolvidas e do significado dos termos usados. Assim, tentamos definir primeiro os principais termos e conceitos envolvidos no debate.

Música Sacra. Um bom lugar para se começar está na definição de “música sacra.” Há aqueles que argumentam que a música por si só, não é nem sacra ou secular – é uma coisa neutra. 2 Para eles, o que faz música ser “sacra” não é seu estilo, mas sua letra. Esta visão popular é imperfeita, tanto histórica quanto teológica e cientificamente. Historicamente, ignora o fato de que a música executada no Templo, na sinagoga, e na igreja apostólica, era diferente da música tocada em eventos sociais para o entretenimento. Como mostrado no Capítulo 7, “Princípios Bíblicos de Música”, a música e os instrumentos associados com danças e entretenimento foram excluídos dos lugares de adoração judeus e cristãos.

Teologicamente, a noção de que a música é uma coisa neutra é negada pelo chamado cristão à santificação (I Tessalonicenses 5:23) – um chamado que abrange todos os aspectos da vida, inclusive a música. Santificação pressupõe uma separação do mundo, para ser colocado à parte e consagrado para o serviço de Deus. Tudo aquilo que é usado para o serviço de Deus é sagrado, isto é, posto à parte para uso santo. Isto é verdade não apenas na música, mas na linguagem também. A linguagem profana usada na rua é imprópria na igreja. Da mesma maneira, a música rock usada em bares ou boates para estimular as pessoas fisicamente, não pode ser usada na igreja para elevar as pessoas espiritualmente.

De uma perspectiva bíblica, a mistura do sacro com o profano é uma abominação ao Senhor (Provérbios 15:8; 15:26; Isaías 1:13; Malaquias 2:11). Usar a linguagem do rock na igreja ou no evangelismo é “fogo estranho perante a face do Senhor” (Levítico 10:1), ou, como a Nova Versão Inglesa o chama, “fogo não autorizado”. Paulo enfatiza este princípio: “E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as.” (Efésios 5:11).

Cientificamente, a noção de que música é neutra é desacreditada pela pesquisa dos efeitos fisiológicos, psicológicos, e sociais da música. Os “neutralistas” poderiam ser comparados a membros da “Sociedade da Terra Plana.” Eles deveriam testar suas teorias com os terapeutas de música, psicólogos,

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cientistas de comportamento, ou até mesmo com os cirurgiões e dentistas que usam a música como um anestésico. O poder da música para alterar a mente e afetar o corpo é um fato científico bem estabelecido.

A música sacra reflete a majestade, a harmonia, a pureza, e a santidade de Deus em sua melodia, harmonia, ritmo, texto, e práticas de execução. Seu objetivo não é entreter ou chamar a atenção à habilidade do artista, mas glorificar a Deus e inspirar os crentes para se amoldarem à imagem de Deus. Isto também é verdade na música evangelística que enfoca Deus na graça salvadora de Deus e no seu poder transformador na vida de pecadores penitentes.

Música Rock. Definir a “música rock” é uma tarefa das mais difíceis porque durante seu meio século de existência, ela gerou uma tribo inteira de crianças e netos. Os velhos ‘Stones ainda estão ‘rolando’, tornando-se os avôs literais dos mais novos adeptos do techno e do rap. O velho, chamado ‘Rock ‘n’ Roll’, casou-se com todos os tipos de mulheres famosas, as quais deram a luz a bebês café com leite, como jazz-rock, classic-rock, rock latino, rock político, entre outros.

Nenhuma droga foi deixada intocada, levando ao rock psicodélico, ácido, e às festas ‘rave’, animadas com ‘ecstasy’. Os adeptos do techno reivindicam que sua música é um mundo próprio, e não apenas um outro estilo de ‘rock’. Na realidade, contudo, a música techno compartilha as características da música rock e marca novos recordes de ruído, tempo e efeitos extáticos.

Os elementos musicais básicos do rock, incluindo ‘o rock cristão’, são volume, repetição e batida. É uma música desenvolvida para não ser ouvida, mas para ser sentida, para afogar-se nela. ‘Ligar, mergulhar e viajar’, este é o lema e o efeito procurado. Seus instrumentos principais são guitarras elétricas amplificadas, baixo elétrico, bateria com uma batida constante, freqüentemente acentuada no segundo e quarto tempos. Teclados instrumentais como pianos e sintetizadores são freqüentemente acrescentados.

A música rock carrega uma sensação fisicamente dirigida chamada de “barato.” (N.T. – O termo original em inglês, “groove” é uma gíria que indica uma sensação prazerosa e que poderia, na gíria em português, ser chamada de “barato”, como nas “viagens” movidas a alucinógenos.) Este sentimento é causado por uma leve diferença de tempo entre o “golpe” principal do primeiro tempo na bateria e do efeito “contra-golpe” dos outros instrumentos ou dos cantores. Esta “sensação de barato” compele as pessoas a dançarem. Alguns são estimulados com todo o corpo.

O canto rock não usa as técnicas da música clássica, baseada em uma laringe relaxada e ricos sobre-tons harmônicos. Ao invés disso, ele emprega uma vocalização forçada, em registros agudos, usando técnicas como “gritar e balbuciar” (N.T. – o termo original, traduzido por “balbuciar” é “scat”, que é uma técnica dos cantores de jazz, na qual sílabas sem sentido são cantadas, de forma improvisada, sobre uma melodia) para obter um elevado nível de toque emocional. A letra é secundária à música.

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Pesquisadores falam sobre uma ‘audição indicativa’, 3 que significa que a menção de uma palavra ou de uma frase curta é suficiente para evocar o assunto e incitar as emoções do ouvinte. Cada uma das centenas de grupos diferentes da cultura jovem tem sua própria ‘audição indicativa.

A maior parte da música rock não busca um equilíbrio entre composição, melodia, harmonia, e ritmo. A música é dominada por uma batida rítmica implacável, e um alto volume geral, que são projetados para invadirem os corpos dos ouvintes com estímulos emocionais, enquanto desconectam, pelo menos em parte, o cérebro superior. 4 Gotthard Fermor, um teólogo protestante alemão, que é um forte defensor do rock “cristão”, reconhece que todos os elementos da música rock são projetados para gerar um transe agitado. 5

A capacidade da música rock em alterar a mente e estimular o corpo, suscita uma pergunta importante: Pode a linguagem do rock, em qualquer versão, ser usada, legitimamente, para adorar a Deus na igreja e evangelizar os não salvos de fora da igreja? A conclusão desta investigação é NÃO, pela simples razão de que o meio afeta a mensagem. O meio que usamos para adorar a Deus e proclamar o evangelho determina a qualidade de nossos esforços evangelísticos e a natureza da mensagem para a qual as pessoas são ganhas.

Música Cristã Contemporânea. Definir Música Cristã Contemporânea (MCC) não é uma tarefa fácil, porque ela possui uma variedade de tipos, como as 57 marcas famosas da sopa Heinz. Nem toda a MCC é música rock, embora as duas sejam freqüentemente confundidas. Calcula-se que, aproximadamente, noventa por cento da MCC tem uma grande variedade de estilos de rock. O espectro multicolorido desta indústria vai desde os tons ‘pastéis’ do folk, música coral de jovens, country, chanson, balada, gospel, até os ‘tons mais brilhantes’ do folk rock, country rock, gospel rock, e finalmente para as incríveis ‘cores ofuscantes’ do hard core, heavy metal e techno cristãos.

Entre esses extremos está o “resplendor” do rap, hip-hop, latino, reggae, e tudo “santificado” por letras “cristãs” e uma platéia cada vez maior de crentes e não crentes. As principais livrarias cristãs especializadas possuem, normalmente, uma grande seleção de MCC dividida nas seguintes categorias: Contemporâneo que inclui todo tipo de música popular; Adoração e Louvor que abrange uma gama extensa de estilos de rock; Rap, Country, Hard, Alternative, Techno-Drive, sendo que os três últimos incluem estilos de rock pesado como punk, metal, ska, retro, industrial, etc.; Southern Gospel e Black Gospel, que incorporam uma ampla variedade de música com batida pesada.

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Musicalmente falando, o rock “cristão” não é diferente do rock secular, com exceção da letra. Todos os vários estilos de rock desde o soft rock até o hard rock, acid rock, punk rock, metal rock, rap, etc., estão disponíveis em versão “cristã.” O engano é evidente por si mesmo. Cristãos dependentes da batida do rock secular podem satisfazer seu desejo pelo rock, apenas escutando uma versão “cristã.”

“Relacionada com a MCC e dependente a ela, é a Música Contemporânea de Adoração (MCA). Muitos dos mesmos artistas envolvidos na MCC também são ativos na MCA, gravando, freqüentemente, nas mesmas corporações seculares. A diferença significativa está nas letras, que são mais bem fundamentadas biblicamente. Um exemplo é a canção “How Majestic Is Your Name” de Michael W. Smith. Ela é apresentada, principalmente, num tipo de rock suave. Os dois problemas principais com a MCA é que ela geralmente incorpora ritmos rock com uma linha de baixo pesado e é muito repetitiva. Jesus advertiu contra o uso de vãs repetições na adoração (Mateus 6:7). Este tipo de música é adotado por um número cada vez maior de jovens adventistas que estão organizando conjuntos e que em alguns casos alcançam status profissional”. 6

Liberais x Conservadores. O debate sobre o uso da música rock modificada para a adoração na igreja e no evangelismo envolve dois grupos. De um lado estão os chamados “Liberais” que dizem: “Temos que manter nossa juventude na igreja”; “Temos que nos atualizar”; “Precisamos usar novos métodos para alcançar as mentes secularizadas”. Os Liberais estão dispostos a enfatizar demasiadamente o amor de Deus e Seu perdão para justificar o uso de métodos questionáveis no evangelismo.

Do outro lado do debate estão os chamados “Conservadores” que dizem: “A juventude determina o que devemos fazer?” “Onde fica a mensagem da Bíblia quando rebaixamos nossos padrões?”; “Poderemos converter o mundo trazendo música mundana para a igreja?”

“Liberais” acusam os “Conservadores” de serem “Puritanos que odeiam o corpo.” “Vocês não conseguem sentir prazer”, eles dizem. Em alguns casos, a crítica é válida. Alguns “conservadores” vêem a vida cristã como trevas e destruição. Eles rotulam como pecaminosa qualquer expressão legítima de excitamento jovial. Isto não está certo porque cristãos que experimentaram a graça redentora de Cristo, têm razão em exultarem de alegria.

O verdadeiro assunto por trás de todo debate é o método de interpretação da Bíblia. Enquanto os “Conservadores” são, às vezes, acusados de

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interpretarem as advertências de Paulo contra o mundanismo de forma muito estreita, os “Liberais” podem ser acusados de tirar a dança de Davi do contexto para justificar o evangelismo pelo rock. Cada lado tende a encontrar razões racionais e bíblicas para suas posições.

Parte 2
Música Rock e Evangelismo

Definir o papel da música no evangelismo é problemático por duas razões principais, uma bíblica e outra contemporânea. De uma perspectiva bíblica, a música nunca foi usada como meio para evangelizar os gentios. O único texto da Bíblia que poderia ser torcido para apoiar uma forma de evangelismo musical é Atos 16:25, onde nos fala que Paulo e Silas, enquanto penavam em uma prisão em Filipos, “oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam.”

Não nos é dito se o canto foi planejado como um testemunho para os prisioneiros ou como uma expressão de confiança na proteção de Deus. Muito provavelmente ambos os motivos estavam presentes. Quaisquer que sejam os motivos, este texto oferece pouca percepção do uso apostólico da música para o evangelismo.

No restante da Bíblia, a música é sempre apresentada no contexto da adoração a Deus e não no esforço evangelístico para os gentios. Como mostrado no Capítulo 7, a música no Templo era “centrada no sacrifício”, louvando a Deus pela provisão de salvação através da oferta sacrifical. Na sinagoga, a música era “centrada na Palavra”, louvando o Senhor recitando as próprias palavras da Escritura.

Na igreja apostólica, a música era “centrada em Cristo”, exaltando os feitos redentores de Cristo. Qualquer impacto evangelístico da música de adoração era indireto. Gentios que ouviam o povo de Deus cantando em alguns momentos, podiam ter sido atraídos e convertidos à adoração do verdadeiro Deus. Porém, nenhuma indicação explícita, sugere que a música jamais fosse usada como meio para atrair gentios à fé cristã.

Música Ecumênica. De uma perspectiva contemporânea, o papel da música no evangelismo é um problema, porque o ecumenismo desencoraja o proselitismo entre igrejas cristãs. Hoje o evangelismo está definido mais em termos de comunhão interconfessional do que da proclamação do evangelho, como é entendido por diferentes denominações. Artistas de rock cristão

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surgem de diferentes igrejas esposando, virtualmente, a mesma expressão de um evangelho mínimo. Diferenças doutrinárias realmente não importam e não deveriam ser expressas nos cânticos. O que importa é se reunir em louvor ao Senhor. Até mesmo “o estilo de vida popular” é, freqüentemente, considerado pelos teólogos como algo “autêntico” e que isso deveria ser aceito ao invés de ser condenado. 7

A música evangelística, em vez de trazer as pessoas do mundo para Cristo, freqüentemente traz a agenda do mundo para a igreja, minando assim a identidade e a missão da igreja. A música, em geral, e a música rock evangelística, em particular, estão em perigo de se tornar um marco da época, participando na destruição dos próprios valores cristãos que querem comunicar.

Música Evangelística x Música de Igreja. Muitos acreditam que a música evangelística deveria ser diferente da música de igreja, porque seu objetivo é alcançar as pessoas onde elas estão. Isto cria uma separação entre música evangelística e música de adoração o qual, se não controlada corretamente, pode resultar, no final das contas, no estabelecimento de novas igrejas caracterizadas por seus novos estilos de adoração. O processo pode ser descrito graficamente.

Primeiro, há a convicção de que pessoas secularizadas devem ser alcançadas através de meios familiares a eles (“trazendo-os de onde estão”). Fazendo-se isto, cria-se uma brecha entre o serviço de música na cruzada evangelística e no culto semanal de adoração na igreja. Isto leva ao segundo passo, o qual envolve mudar estilo à moda antiga da adoração na igreja para um novo estilo “moderno” de forma a acomodar as pessoas de mente secular que estão sendo trazidas para a igreja.

O resultado é o passo três, quando as tendências da sociedade preparam a agenda da igreja, a qual é pega numa corrida interminável na tentativa de se manter atualizada com o estilo mais recente. Hoje a igreja escolhe a música rock “cristã”, amanhã adotará a dramatização “cristã”, e no dia seguinte loteria ou jogos de azar “cristãos”. Circunstancialmente, todas estas atividades já estão acontecendo dentro de algumas igrejas. O resultado final é que a música rock evangelística, que fora designada para alcançar e mudar as pessoas do mundo, no decorrer do tempo, transforma a própria igreja à semelhança do mundo.

Mas a espiral de mudança não pára aqui. O quarto passo acontece quando o pluralismo se desenvolve dentro de cada denominação. Grupos que compartilham os mesmos gostos se organizam em congregações separadas. Então vem o último passo quando igrejas diferentes, com os mesmos estilos de adoração, aproximam-se para formarem a uma nova denominação.

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Denominações Com Novo Estilo de Culto. Hoje um grande número de novas denominações têm surgido, não em razão da descoberta de novas verdades bíblicas, mas por causa de novos estilos de culto que melhor satisfazem as expectativas da geração atual. As “igrejas-caçadoras” com motivação mercadológica e os movimentos carismáticos com “expressão corporal”, constituem-se em novos ramos de evangelismo e que se arrogam em ser modelos a serem seguidos pelo mundo cristão.

A questão não é mais a unidade dogmática, mas unidade na adoração. 8 A música se torna mais importante que ensinamentos bíblicos, porque o objetivo é dar ao povo o que eles querem experimentar agora, em lugar daquilo que eles precisam saber para se tornarem cidadãos do Reino do Deus eterno.

Este processo nos ajuda a entender por que a adoção da música popular está se tornando um assunto quente dentro da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Muitos de seus membros temem que a adoção de um novo estilo de adoração, impulsionado pela música popular, no final das contas, enfraqueça a proclamação profética da igreja. Eles estão preocupados que se a tendência atual continuar, os Adventistas, que são conhecidos como “o povo da Bíblia” serão conhecidos, com o passar do tempo, como “o povo do rock”, como muitas igrejas evangélicas contemporâneas.

A solução para o dilema deve ser encontrada não na eliminação de qualquer distinção entre música evangelística e música para a igreja, mas em manter as duas em íntima proximidade. Há uma necessidade de um “diminuendo” nos estilos musicais em cada reunião evangelística, de um tipo de música mais vívido para uma música mais meditativa, que predisponha as pessoas refletirem nas verdades da Palavra de Deus apresentada nas reuniões.

Duas Estratégias. O debate sobre “balançar ou não balançar” no evangelismo deriva, em grande parte, de duas estratégias opostas. Uma estratégia é a “Mensageira” – a igreja tem que pregar a mensagem de salvação sem esperar por resultados que possam ser gerados pelo uso da música popular. A segunda estratégia é a “Caçadora”, que acredita que a igreja tem que adotar a linguagem do povo a ser alcançado.

Os cristãos “caçadores” defendem o uso da música rock no evangelismo porque acreditam que o rock faz parte da cultura atual e assim é necessário para penetrar a geração do rock. Eles justificam sua estratégia, referindo-se a Jesus que nos enviou ao mundo (João 17:18), e a Paulo que disse: “Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse.” (I Coríntios. 9:21). Infelizmente, eles ignoram a segunda metade do verso: “não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei” (I Coríntios. 9:21).

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“A lei de Cristo” não permitiu que Paulo usasse canções corais gregas populares ou as peças de teatro romanas para alcançar as massas.

Se Paulo tivesse sido um estrategista “caçador”, determinado a alcançar as massas usando sua linguagem filosófica ou musical, ele teria se tornado um evangelista popular, atraindo platéias superlotadas onde quer que fosse. Mas este não foi o caso. Em suas cartas ele nos fala que quase em todos lugares ele sofreu oposição, perseguição, e algumas vezes, até mesmo apedrejamento. Para sobreviver, fugia freqüentemente de lugar em lugar. A razão é que Paulo escolheu pregar o evangelho, não o expressando em linguagem popular da cultura romana, mas o proclamando em palavras claras e persuasivas.

Com percepção profética Paulo advertiu que nos últimos dias alguns adotariam estratégias comprometedoras. “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos” (II Timóteo 4:3). A menção de “coceira nos ouvidos” lembra-nos do uso da música popular de hoje ao satisfazer a “coceira nos ouvidos” da geração rock.

Do lado oposto, temos hoje os cristãos “Mensageiros” que analisam cuidadosamente qualquer método inovador antes de usá-lo, porque para eles o que importa é a proclamação da mensagem. “Nós pregamos, não para obter algum sucesso”, eles dizem. Jesus também estava quase sozinho no final, contudo Sua derrota aparente tornou-se Sua maior vitória.

Uma atitude negativa com relação aos métodos inovadores, que podem enriquecer a adoração na igreja e melhorar a eficácia do esforço evangelístico é deplorável. O próprio Cristo foi um observador atento da cultura de Seu povo e tomou emprestado dela valiosas parábolas para o Seu ensino. Da mesma forma que Cristo, precisamos ser sensíveis à cultura contemporânea, inclusive na música, e tomar emprestado tudo que pode ser usado, legitimamente, para alcançar homens e mulheres com a mensagem de salvação.

Música e Cultura. A música usada na igreja e no evangelismo deve ser sensível à cultura. Isto não é verdade somente nos países Ocidentais, mas também em países em desenvolvimento onde, às vezes, os missionários ignoram a música nativa e esperam que as pessoas aprendam e adotem hinos ingleses. Isso suscita uma pergunta: A música de nossos cultos de adoração e campanhas evangelísticas serve apenas à cultura prevalecente ou também melhora o conteúdo da mensagem? Nossa meta deveria ser atender a ambos os objetivos. Precisamos analisar cuidadosamente a cultura e tomar emprestado aqueles elementos que possam melhorar a pregação da mensagem como um todo. A mensagem de Deus precisa ser

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ouvida de modo que seja relevante às pessoas, mas não pode ser distorcida através de linguagens como a música rock que contradiz seus valores.

A música evangelística precisa do tipo “caçador” e também do tipo “mensageiro”. Precisa ser compreendida pelo ouvinte, mas não pode distorcer a mensagem. A música evangelística pode tomar emprestado material valioso de todos os lugares (do passado e de outros países), mas tem que evitar a música que não retrate a beleza do caráter de Cristo e a seriedade do plano da salvação. A maior parte das músicas rock não dá um “arrepio sagrado”.

A música evangelística deve refletir a coragem de Cristo ao confrontar a cultura de Seu tempo com os princípios do Reino de Deus. Cristo não satisfez as expectativas de Seus contemporâneos, nem mesmo de Seus discípulos. Semelhantemente, Paulo conclama os crentes a confrontarem o mundo com os princípios do evangelho, em vez de se conformarem com seus valores (Romanos 12:1).

O uso da música rock no evangelismo deveria ser evitado, porque lembra aos jovens o seu passado rebelde. Pode servir como uma ferramenta de regressão à sua própria infância, como os psicólogos explicam. 9

Usando o rock no evangelismo, os cristãos contribuem para o aumento generalizado das excitações físicas e da agressividade. 10 A felicidade se mistura com sugestões eróticas e a alegria com agressividade. 11 Deveríamos ser os mensageiros da verdadeira alegria e paz de Deus.

O uso do rock no evangelismo é impróprio, não só porque seus valores são hostis à fé cristã, mas também porque representa uma forma de religião panteísta e sincrética, que convida seus seguidores a se ligarem ao sobrenatural por meio de dança, sexo, e drogas. Usar tal tipo de música no evangelismo é o mesmo que introduzir “fogo estranho” na Casa de Deus.

A Música Rock Atrai as Multidões. O principal argumento para defender o uso da música rock no evangelismo é o fato de que ela atrai grandes multidões a concertos pop de música gospel. Ninguém contesta este fato. Mas isto não surpreende, uma vez que o rock se tornou parte indispensável da cultura da juventude atual. Muitos adolescentes estão tão imersos na música rock que um concerto gospel onde esta música é tocada lhes proporciona uma saída para apreciar a sua música sem a condenação de seus pais ou da igreja.

Concertos gospel populares não apelam muito por um comprometimento moral ou espiritual. Principalmente oferecem aos jovens o que eles querem – entretenimento. O músico pop-evangélico John Allen reconhece o perigo de

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tais concertos: “Parece inegável que a maioria da platéia está lá simplesmente para desfrutar a música, e não para pensar com profundidade sobre qualquer outra coisa: e há um real perigo do surgimento de ‘cristãos de parque’, consistindo de adolescentes semi-convertidos, superficialmente comprometidos, cujo cristianismo significa pouco mais que o prazer de ir aos festivais.” 12

Vivemos hoje em uma sociedade orientada pelo prazer, aonde as pessoas têm um apetite muito maior por aquilo que é divertido e prazeroso do que pelo que é edificante. Uma pesquisa empírica demonstrou que os adolescentes tendem a ouvir com cada vez menos atenção até mesmo sua própria música. 13 Está se tornando cada vez mais difícil motivar as pessoas a comparecerem a reuniões onde a única atração seja Deus e o estudo de Sua Palavra. Mas isto nunca deve ser desculpa para darmos ao povo o que ele quer.

Nossa ordem bíblica é apresentar ao povo o que ele precisa ouvir: O plano e as expectativas de Deus para suas vidas. A afirmação de que a música rock atrai as multidões é irrelevante de uma perspectiva bíblica. Nossa real preocupação é sermos fiéis ao princípio, e não sermos populares.

Se o cristianismo apostólico fosse julgado pelo número de pessoas convertidas, dificilmente seria um movimento próspero. Por que? Porque ao final do primeiro século, todos os esforços evangelísticos conduzidos em um período de quase setenta anos, haviam convertido apenas aproximadamente 0.6 por cento da população do império romano. Isto significava um total de um milhão de cristãos numa população de cerca de 181 milhões. 14 Por contraste, no quarto século quando o cristianismo se tornou um movimento popular e os pagãos entraram na igreja aos milhares, o resultado foi o declínio espiritual e a apostasia da igreja. Isto mostra que números podem ser enganosos. Conversões em massa, às vezes, indicam declínio espiritual e apostasia.

Apenas a Música Rock Alcança os Adolescentes. Ouvimos pessoas dizerem constantemente: “Os adolescentes de hoje não virão para igreja. Nós só poderemos alcançá-los com a música rock”. Isto é verdade? Surpreendentemente, há muitas igrejas evangélicas nas quais nenhuma música rock é tocada, e ainda assim elas estão cheias de jovens. Seria o caso que os que estão clamando pela música rock não sejam os perdidos, afinal de contas?

John Blanchard levanta estas questões incisivas: “É verdade que o descrente é que insiste na música? Ou está mais próximo da verdade dizer que os cristãos jovens, que a apreciam tanto, é que acabam insistindo nela? É verdade que os amigos não convertidos dos cristãos recusam-se obstinadamente a assistir qualquer apresentação evangelística. exceto as musicais? Ou é mais verdadeiro dizer que

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eles quase nunca são convidados? Não é verdade que os jovens cristãos convidam os amigos para concertos gospel como primeiro recurso e não como último recurso?” 15

Se as informações de que milhares de jovens são salvos todos os anos através da música rock “cristã” estão corretas, então alguém poderia perguntar, onde estão eles? Se as afirmações a respeito das conversões em massa feitas por tantos grupos de rock estiver correta, então deveríamos ver um declínio significativo da violência, do uso das drogas, da desobediência civil, e do sexo pré-marital. Infelizmente, este não é o caso. A realidade é que esta música de entretenimento confirma padrões de agressividade e violência.

A Música Rock Produz Excelentes Resultados. Promotores da música rock “cristã” afirmam que Deus está abençoando seus esforços e milhares de jovens são salvos. Mylon LeFevre, conhecido como “O Roqueiro Firme”, declara que dezenas de milhares de adolescentes assinaram seu cartão de decisão em seus concertos: “Há 52.000 pessoas que assinaram uns pequenos cartões que dizem, ‘Hoje à noite, pela primeira vez, eu entendi quem é Jesus e como Ele fez todas as coisas, e eu quero que Ele seja meu Senhor'”.16

A imprensa popular cristã relata contas semelhantes de “decisões” em massa registradas em concertos pop-gospel. Somos agradecidos por cada alma que é salva, a despeito do método de evangelismo. Não há nenhuma razão para duvidar de que alguns dos grupos de rock estão genuinamente preocupados com a salvação de jovens através de sua música e concertos. Mas o fato de que Deus usa tal meio para salvar pessoas não é em si mesmo uma indicação de que todo os meios que funcionam sejam biblicamente válidos. Eu acredito que pessoas são salvas, não por causa do rock cristão, mas apesar dele.

Franky Schaeffer, com grande percepção, aponta: “A desculpa de que ‘às vezes as pessoas são salvas’ não é de forma alguma uma desculpa. Pessoas foram salvas em campos de concentração, porque Deus pôde tirar bem do mal, mas isto não justifica o mal”. 17 Moisés obteve excelentes resultados quando golpeou a pedra em Cades-Barnéia e produziu água em abundância para todos os Israelitas e o seu gado. (Números 20:1-20). Contudo, Deus o puniu por ter feito isto.

Os métodos evangelísticos devem ser testados, não pelos seus resultados, mas por sua fidelidade aos princípios bíblicos. Quando o evangelismo não é controlado pelo ensinamento bíblico, então se torna uma exibição de habilidades de manipulação, em vez de ser uma manifestação do poder da verdade. A verdadeira salvação passa pela proclamação da verdadeira doutrina. Uma apresentação corrompida ou diluída do evangelho através de um concerto de rock torna essas decisões suspeitas.

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Paul Blanchard relata a respeito de uma pesquisa com 1.829 jovens realizada por sua organização na Inglaterra, País de Gales, Escócia, e Irlanda do Norte. Os jovens eram oriundos de sete principais denominações. “A votação indicou que dos 1.829 jovens entrevistados, apenas trinta e nove, ou 2,1%, haviam se convertido em um concerto evangélico. (Mesmo este resultado ínfimo nos dá, quase que certamente, um quadro exagerado; a pesquisa não perguntou se a apresentação musical foi o meio específico da conversão).” 18

Os relatos de “decisões” em massa para Cristo feitas nos concertos gospel populares são suspeitos, não apenas por causa da mensagem, mas também por causa da atmosfera criada pela própria música. Uma música poderosa pode produzir decisões emocionais, mas uma conversão bíblica não é o resultado de uma resposta emocional, irrefletida. Envolve um genuíno arrependimento causado pelo Espírito Santo através da pregação do evangelho bíblico.

Na maioria dos concertos gospel populares, a música é tão alta e estridente que as palavras dificilmente são ouvidas. Como o evangelho pode ser apresentado em seu poder de mostrar o erro, quando as palavras dificilmente podem ser ouvidas? Isto expõe a contradição dos defensores do rock “cristão”. Por um lado, eles afirmam que as letras tornam a música cristã, porém, por outro lado, as letras dificilmente podem ser ouvidas. Se eles fossem sérios sobre suas reivindicações, reduziriam o volume da música instrumental de forma que a mensagem das canções pudesse ser ouvida clara e distintamente.

A grande pergunta é se a música rock realmente comunica o evangelho sem distorção. Afinal de contas, é de vital importância que o evangelho seja biblicamente recebido. A aceitação do evangelho pressupõe o uso da razão. “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força.” (Marcos 12:30). Em vista do fato de que na psicologia bíblica, coração, alma, e mente são usados de modo intercambiável, referindo-se ao intelecto, a resposta mental a Deus é suprema. Porém, a música rock, é projetada para ser sentida, e não para ser ouvida. Seu apelo é físico e não mental. Como então uma pessoa pode entender o evangelho através do rock quando sua música passa por cima da mente? O fã do rock pode entender os sinais do rock (seja o que for que eles signifiquem), mas dificilmente poderá entender o evangelho.

Sugestões Práticas para as Reuniões de Jovens. No planejamento de reuniões de jovens como concertos ou festivais de música, deveríamos ter em mente várias considerações. Em primeiro lugar, a motivação do evento não deveria ser imitar o cenário do rock popular. Precisamos buscar alternativas

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saudáveis à música tocada em discotecas e boates. Naturalmente, os amigos podem e devem ser convidados, mas eles deveriam ser informados sobre a natureza especial do evento.

No planejamento do programa musical, deveríamos ter em mente duas considerações. Que associações mentais a música produzirá e qual será o possível impacto físico? Os organizadores deveriam se assegurar de que a música seja tocada com volume moderado. 19 Uma atmosfera agradável, mas sóbria, deveria caracterizar a reunião. A ênfase deveria estar em uma mensagem espiritual forte, e no canto congregacional, em vez da apresentação de bandas. Alegria criativa deveria ser um fato patente e real. Os jovens precisam de experiências. Temos que inspirar e desafiar a juventude, e estarmos abertos a alguns resultados inesperados. Mas os líderes de jovens nunca deveriam abandonar sua responsabilidade de prover uma orientação amável.

O volume dos instrumentos que acompanham o canto deveria ser bastante moderado. Eles deveriam apoiar o canto e não o suplanta-lo. Tenho visto freqüentemente que os jovens não se envolvem com entusiasmo no canto porque a música é muito alta e eles não conseguem ouvir suas vozes. O líder dos cânticos que dirige o canto congregacional deveria se assegurar que os músicos seguem suas instruções mantendo o volume sob controle.

Aplaudir, bater a ponta dos pés e se balançar estão fora de lugar na igreja, mas poderiam ser permitidas, de forma moderada, em reuniões ao ar livre. Grande cuidado deveria ser tomado, porém, para se evitar comportamento desordenado que é característica nos concertos de rock, como bater os pés com força, assobiar e gritar, etc. Os instrumentistas, o líder do cântico e os pregadores deveriam trabalhar para assegurar que o canto e as mensagens faladas reflitam as características distintivas das reuniões adventistas. Momentos de alegria deveriam se alternar com momentos de meditação e mesmo quietude.

O programa deveria começar com música viva e vibrante para despertar interesse e estabelecer um bom contato com as pessoas. A função da música é servir como guia à Palavra. Uma pregação simples e franca com mensagens bíblicas curtas, deveriam ser a ênfase principal em qualquer programa evangelístico jovem. No final, a música deveria ser mais tranqüila e meditativa, convidando a juventude para renovar seu compromisso com o Senhor.

As culturas jovens dividem-se em um número cada vez maior de células globais, como motoqueiros, surfistas, amantes do esporte, etc. Cada uma tem sua própria linguagem musical. Isto oferece uma oportunidade para criar uma sub-cultura musical específica cristã ou evangélica ou adventista. Apresentações convincentes alcançarão pelo menos os que procuram sinceramente [a verdade], entre a juventude de hoje.

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Músicos, pastores, e professores deveriam reunir os jovens ao redor de si e planejar como criar um autêntico programa de música adventista que seja apropriado ao culto na igreja e ao evangelismo. Deveriam tomar tempo para escolherem juntos a música apropriada para cada ocasião. A música clássica apresentada com entusiasmo e qualidade ainda pode impressionar aos jovens. O mesmo se aplica aos estilos folclóricos, cuidadosamente executados. 20

Conclusão

A procura por uma maneira eficaz de alcançar as pessoas de mente secularizada com o evangelho, tem levado muitos líderes da igreja e músicos a adotarem várias versões de música rock para comunicarem a mensagem cristã. Nós louvamos os motivos destas pessoas, mas questionamos a legitimidade de seu método por várias razões.

A música rock não é um veículo neutro para letras cristãs. A música em si mesma é uma linguagem poderosa. A música rock no evangelismo trabalha na imaginação, em associações mentais, como qualquer música. Mas a música rock representa mal o evangelho ao encorajar valores mundanos. Leva as pessoas crerem que está tudo bem com elas, quando na realidade elas precisam desesperadamente de uma mudança radical em suas vidas – uma experiência de conversão. Sendo um meio que promove a satisfação imediata, violência, drogas, sexo e uma auto-redenção panteísta, a música rock perverte a mensagem do evangelho, simplesmente porque o meio afeta a mensagem.

A música rock no evangelismo arruína o esforço para construir uma base moral forte na juventude. Em vez de promover autocontrole, temperança, respeito pela autoridade, e pureza, ensina a indulgência, a intemperança, a desobediência, a busca do prazer, e um comportamento imaturo.

A música rock prejudica o senso distintivo do certo e errado edificado dentro de nossa consciência. O incitamento constante das emoções destrói as barreiras de culpa. Envolve as pessoas numa satisfação pessoal sem culpas e sem vergonhas que, no final, torna impossível o reconhecimento do mal. Cristo apela ao reconhecimento de nossa perdição para que possamos receber Sua provisão gratuita de salvação. Os ouvintes deveriam captar um relance do temor divino de modo a sentirem o chamado de Deus para um compromisso completo, para uma mudança no estilo de vida, inclusive nos hábitos de música.

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O rock no evangelismo confirma a “religião do rock” a qual nutre uma mistura de sentimentos religiosos meio-conscientes e comportamentos que tendem ao êxtase e ao oculto. É imperativo para os cristãos manterem uma distância segura de tais práticas idólatras.

A música rock também tem um forte impacto físico, principalmente através de seu volume e intensa batida. A música precisa ser alta para ser “sentida” pelos ouvintes. A intensa batida do rock leva à dança, ao bater de pés, ou aos golpes de cabeça. O resultado desta carga pesada de energia sonora é que a mente se apaga e deixa o campo livre para que as emoções assumam o controle. Os cristãos não deveriam permitir que suas mentes fossem prejudicadas por sons ou drogas, porque é através de suas mentes que eles honram a Deus vivendo sobriamente e com mente sã.

O método aprovado por Deus para o evangelismo é a ‘estupidez da pregação’ (I Coríntios 1:21). Ele nos deu o ministério da reconciliação. (II Coríntios 5:18). Nossa responsabilidade é não contaminar esta mensagem com linguagens mundanas, como a música rock. Não há nenhuma necessidade da manipulação e excitação da música rock para salvar as pessoas. O evangelismo tem sido grandemente auxiliado por uma música semelhante a Cristo apresentada por executantes semelhantes a Cristo, mas no final das contas é a proclamação da Palavra de Deus, acompanhado pelo poder convincente do Espírito Santo que traz as pessoas para uma relação de salvação com Jesus Cristo. Que nossos esforços evangelísticos sejam centrados na Rocha Eterna, em lugar da música rock de nossa época.

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Notas

1. Os testemunhos individuais são impressionantes. Jeff Trubey, “Making Waves”, Adventist Review (17 de julho de 1997), pp. 8 -13.

2. John Blanchard, Pop Goes the Gospel: Rock in the Church (Durham, Inglaterra, 1991), pág. 24.

3. Veja, Dörte Hartwich-Wiechell, Pop-Music (Koln, 1974), pág. 30. Ela fala das pequenas unidades que as pessoas precisam para serem estimuladas através da música pop.

4. Wolf Muller-Limmroth, “Neurophysiologische und psychomentale der de Wirkungen Musik” (“Efeitos Neurofisiológicos e Psicomentais da Música”), em Musik und Medizin 2 (1975), pág. 14.

5. Gotthard Fermor, “Das religiöse Erbe in der Popmusik-musik-und religionswissenschaftliche Perspektiven” (“A Herança Religiosa na Música Pop – Perspectivas da Musicologia e da Sociologia Religiosa”), em: Wolfgang Kabus (ed.), Popularmusik, Jugendkultur und Kirche (Música Popular, Cultura Jovem e Igreja) (Frankfurt, Alemanha, 2000), pág. 44. (Conferência ao Seminário de Música Jovem em Friedensau, 8 de maio de 1997).

6. Veja, Jeff Trubey (nota 1).

7. Veja várias contribuições ao volume na música popular, cultura jovem, e igreja, ed. Wolfgang Kabus, um adventista alemão e professor de música na igreja: Popularmusik, und de Jugendkultur Kirche (Berna, Suíça, 2000).

8. Michael S. Hamilton, “The Triumph of the Praise Songs,” Christianity Today (12 de julho de 1999), pp. 29-30.

9. Josef Hoffmann (psicanalista), “Popmusik, Pubertät, Narzissmus”, Psique 11 (1988), pp. 961-980. Ele vê a música rock, e também o narcismo (egocentrismo) e a união com o cosmos, como ferramentas positivas para o desenvolvimento do adulto. A voz tenor alta e o grito dos cantores de rock expressam um “egocentrismo grandioso”, a mistura do pai, mãe, e bebê, e a intensa batida conduz o mundo industrializado para sua maioridade.

10. Michael Kneissier, “Unser Gehirn baut sich soeben radikal um! ” (“Nosso cérebro está se reconstruindo radicalmente!), P.M. (um jornal semanal) 11 (1993), pp. 14-20, relatando a pesquisa de mais de 25 anos do Münchner für Gesellschaft Rationelle Psychologie [Sociedade para Psicologia Eficiente, Munique] sob a direção de Henner Ertel.

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11. Microfones permitem ao cantor entrar diretamente na zona íntima do ouvinte. Veja em erotismo, Frank Garlock & Kurt Woetzel, Music in the Balance (Greenville, SC, 1992), pp. 92-97.

12. John Blanchard (nota 2), pág. 98.

13. Klaus-Ernst Behne, um musicólogo alemão, realizou um estudo reconhecido internacionalmente de 150 adolescentes entre as idades de 11 a 17, e descobriu uma tendência alarmante para um declínio de sensibilidade à música. “The development of ‘Musikerleben’ [‘a percepção e experiência de música’] in adolescence—How and why young people listen to music,”, em I. Deliege e J. Sloboda, Perception and Cognition of Music (Hove, Inglaterra, 1997), pp. 143-159. O gosto musical já está bem já estabelecido aos 11 anos de idade e não muda consideravelmente. A audição concentrada e consciente de música declina rapidamente com o passar do tempo.

14. Veja, David B. Barrett, ed., World Christian Encyclopedia: A Comparative Study of Churches and Religions in the Modern World A. D. 1900-2000 (Oxford, England, 1982), p. 3.

15. John Blanchard (nota 2), pág. 145.

16. Citado por John Styll, “Mylong LeFevre: The Solid Rocker,” CCM Magazine (Março de 1986), p. 6.

17. F. Schaeffer, Addicted to Mediocrity (New York, 1965), p. 22.

18. John Blanchard (nota 2), p. 109.

19. Minha própria medida do volume em reuniões de mocidade cristãs indica que os níveis freqüentemente alcançam além de 100 decibéis. Isto é mais alto que os 90 a 95 decibéis que a comissão do governo alemão recomenda como o limite superior para discotecas. Veja, Zeitschrift für Lärmbekämpfung [Jornal da Luta Contra a Poluição Sonora] 42 (1995), p. 144.

20. Pierre and Gisela Winandy, “Not All Youth Want Rock,” Adventists Affirm (Primavera de 1998), pp. 25-29; John Thurber, “Adventist Youth Prevail with Calm, Dignified Music,” Adventists Affirm (Primavera de 1999), pp. 41-47.

21. Durante os últimos anos examinei a literatura produzida tanto pelos defensores quanto pelos que atacam o rock “cristão.” Algumas das publicações significantes que defendem o uso do rock “cristão” são: Steve Miller, The Contemporary Christian Music Debate:Worldly Compromise or Agent of Renewal? (Wheaton,IL, 1993); Dan Peters, Steve Peters, e Cher Merrill, What About Christian Rock? (Minneapolis, MN,1986); John M. Frame, Contemporary Worship Music:A Biblical

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Defense (Phillipsburg, NJ, 1997); Wolfgang Kabus (Professor adventista de música na igreja, agora aposentado; ed.), Popularmusik, Jugendkultur und Kirche (Música Popular, Cultura Jovem e Igreja), (Frankfurt, Bern, 2000, “Friedensauer Schriftenreihe” – série de publicações da Universidade Adventista de Friedensau/Alemanha, vol. 2). Esta é uma aproximação altamente sociológica ao estudo da música rock.

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Capítulo 12

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