A Música na Adoração – Parte 2a

por: Adrian Ebens

Fontes Para um Modelo Cristão de Música na Adoração – As Escrituras

Um dos muitos legados deixados ao cristianismo por João Wesley é o seu modelo para a determinação de uma correta teologia. Conhecido como “Quadrilátero Wesleyano”, este modelo sugere quatro fontes para o desenvolvimento de uma teologia cristã. Eles são: As Escrituras (a Bíblia, dentro de uma exegese apropriada), A Razão (as descobertas da ciência e do raciocínio humano), A Experiência (encontros individuais e coletivos com a vida) e A Tradição (os ensinamentos da igreja através da história).(16) Estas quatro fontes sugerem uma base apropriada para o desenvolvimento de um modelo cristão para a música na adoração.

AS ESCRITURAS

“Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele conduz à morte.”(17) A partir de uma perspectiva Bíblica seria tolo abordar a música com base puramente no gosto pessoal. Deve haver uma revelação exterior para guiar a dirigir a criação e o consumo da criatividade humana. (18) Este pondo é duplamente enfatizado pelo dilema atual da cultura ocidental. (19) Desde o tempo da reforma houveram muito poucos trabalhos teológicos a respeito da música na igreja Protestante. (20) Raimo Lehtinen esboça uma teologia para o ministério da música conforme desenvolvida por Calvin M. Johansson e a compara com escritos de autoridade respeitada na IASD. Esta comparação é muito favorável e estes formam uma forte base para uma Filosofia Adventista de música. Para este projeto, um resumo da teologia incorporará tanto a perspectiva de Johansson quanto da IASD. A perspectiva da Igreja Adventista será refletida principalmente pelas afirmações do Espírito de Profecia inseridas na seção de Notas. A teologia de Johansson consistiu de sete princípios ou doutrinas interligadas das Escrituras. Estes incluem: A doutrina da Criação, O Homem à Imagem de Deus ou Imago Dei, A Encarnação, A Personificação do Evangelho, Fé, Mordomia e a Transcendência de Deus.

A Doutrina da Criação (21)

Johansson viu os dons criativos – a matéria-prima artística, a habilidade criativa, e a compulsão para criar – como dons de Deus ao homem. Primeiro, o homem era totalmente de Deus enquanto, ao mesmo tempo tinha liberdade por parte de Deus. Existe uma tensão entre a liberdade humana e a soberania divina (22) O músico da igreja é apanhado nesta tensão entre dois opostos aparentes. Segundo, quando Deus criou, Ele impôs forma ao caos e ordem à confusão. (23) Portanto, música que seja sem forma, propósito ou ordem é inútil para a afirmação positiva, não é refletiva da obra de Deus e é sem valor para a igreja. Terceiro, Deus não apenas criou “no princípio”, mas continua a suster o mundo por Seu poder criador. Deus deu meios para que o homem imitasse a Deus, ordenando que ele trabalhasse. Assim como Deus continua a suster, assim também nós devemos continuar a criar. (24) No domínio da música a igreja deveria encorajar a composição, execução e apreciação de música. Deve haver um ambiente propício para o desenvolvimento de novos projetos com integridade imaginativa. (25) Este último ponto não figura de forma proeminente na literatura adventista. A filosofia adventista tinha, no passado, a tendência a ser mais utilitária.

A Imago Dei, Ampla e Restrita (26)

Utilizando o termo “Imago Dei Ampla” Johansson enfatizou o fato de que na Queda o homem não perdeu completamente a imagem de Deus e sua habilidade criadora. Esta habilidade criadora, contudo, foi enfraquecida pela Queda e o homem teve que lutar contra as forças opositoras do mundo. (27) A “Imago Dei Restrita” viu que a imagem de Deus foi destruída pela Queda. O homem não manteve qualquer vestígio de sua estatura anterior. A restauração só poderia acontecer quando o homem fosse redimido através de Jesus Cristo, a imagem perfeita. (28) Na Imago Dei restrita Johansson viu uma intensificação dos poderes criativos do homem por causa de sua ligação agora direta, através de Jesus Cristo com Deus, a fonte de toda a criatividade. A imagem restrita também continha a ideia do testemunho musical. Os cristãos tem a razão evangélica para expressar em sua música uma imagem mais alta e mais nobre do que aquela encontrada na imagem ampla. O programa musical da igreja deveria ser um espelho que coleta e reflete a criatividade da redenção.

A Encarnação

Johansson viu a imagem de Cristo como servo sofredor como sendo o modelo perfeito para os músicos da igreja. (29) A preocupação primária não é, afinal de contas, com o músico, mas com o cuidado pastoral para com o povo. Como servo, o diretor de música ministra às pessoas onde elas estão. Os músicos da igreja não usam a congregação para demonstrar suas habilidades ou para menosprezar os músicos amadores, mas para amar e servir. A abordagem da encarnação quer dizer que o músico é responsivo ao pensamento da congregação. O critério para a avaliação da música na igreja não é, contudo, o grau com que ela agrada, mas o grau com que ela é familiar dentro do contexto cultural da congregação. A música da igreja deve ter algo que seja reconhecível e ordinário, tanto na composição dos vários elementos musicais quanto no seu impacto total. Neste sentido, se pretende que a música religiosa seja relevante. Ao mesmo tempo, a música da igreja deveria permanecer fiel ao conteúdo da mensagem cristã. De outra maneira, a forma de comunicação (música) pode distorcer os fatos da comunicação (conteúdo do texto). (30)

Incorporando o Conteúdo do Evangelho – Não a Cultura das Massas (31)

O que alguém pode ouvir e apreciar em uma peça de música depende daquilo que esta pessoa carrega em termos de sua própria experiência, talento, interesse e educação. Em um determinado contexto cultural, contudo, existe um consenso de associações musicais. Ele não abrange todos os detalhes, mas ainda auxilia na seleção de música ara diferentes propósitos. A forma da música religiosa deveria ser tal que ela pudesse ser capaz de personificar o conteúdo do evangelho às pessoas da atualidade. Deveria haver uma unidade entre a letra e a música. Comparando as características do evangelho com as da música pop, Johansson descobriu que o evangelho e a música pop eram diametralmente opostos. (32) Johansson viu as qualidades da cultura das massas, as quais refletem o pensamento ocidental, como sintomas de uma doença ambiental. Estas acharam caminhos de entrada na igreja, incluindo o ministério pastoral da música, (33) e particularmente a juventude. (34) A igreja, que deveria moldar e salgar a cultura geral, tem se tornado apenas um receptor passivo da cultura.

(35)

A vida cristã, a vida da fé, é uma existência completamente integrada, ao invés de ser segmentada. Todas as áreas da vida estão em harmonia e interligadas. Tudo é feito para a glória de Deus. De acordo com este princípio, a demarcação de sacro e secular (em termos musicais) é imprópria. A escolha musical não será feita de acordo com uma categorização de sacro/secular, mas de acordo com a capacidade da música de suportar o escrutínio de nossos julgamentos teológicos. A fé também nos traz a unidade do conhecimento e da emoção (o salto da fé). Fé sem conhecimento é cegueira sincera. Fé sem emoção é intelectualismo. Deve haver uma combinação da razão e da emoção. Os escritores adventistas tem freqüentemente falhado em ver o lado positivo do uso do secular, o que tem levado a uma experiência segmentada que sufoca a criatividade. (36)

Mordomia (37)

O princípio bíblico da mordomia envolve dar tudo de si mesmo – tempo, talentos e recursos, com a compreensão de que eles nos foram confiados por Deus para serem usados completamente para o propósito de cumprir o plano de Deus para a Sua criação. A mordomia contém dois aspectos: 1) Fazer o melhor possível (38) e 2) o princípio do crescimento. (39) Deus não nos chama para um nível específico de realizações, que possa ser medido por uma análise objetiva. O critério é realizar até o nível máximo de nossa habilidade. Mas Deus não pretende que fiquemos parados, mas que progridamos. O crescimento requer educação e prática. Fazer o melhor de si tende à subjetividade e é um contraponto ao foco na habilidade artística. O crescimento tende à objetividade e fornece um contraponto para aqueles que pretendem manter o statusquo.

A Transcendência de Deus (40)

Estudar a peculiaridade de Deus, Sua incompreensibilidade, Sua ocultação aos nossos olhos, Seu mistério e Suas maravilhas é importante para que possamos ser capazes de compreender quem Deus é e formarmos uma perspectiva apropriada da estatura humana diante dEle. Por causa de sua abstração, a música tem a capacidade de refletir algo dos mistérios de Deus. Johansson descobriu que certos tipos de música haviam perdido sua capacidade para explorar o mistério. Se a música enfatiza a sentimentalidade banal, e se é composta de forma tal que tudo é de acordo com o esperado e conhecido, ela perda a sua capacidade de explorar o mistério. Johansson sugere que a “verdadeira” música seja governada por certas leis universais e artísticas. (41) Música composta de acordo com estas leis revelam o Deus da ordem, e se alinham com as Suas obras, conforme demonstradas no universo.


Próxima parte: FONTES PARA UM MODELO CRISTÃO DE MÚSICA NA ADORAÇÃO – A RAZÃO – As Descobertas da Ciência e do Raciocínio Humano