Apostilas

O Culto – Capítulo 34

por: Rev. Onézio Figueiredo [1]

Apêndice II – Oração

01 – Oração, Dom de Deus.

A oração, à semelhança da fé, é um dom de Deus, para que, em espírito, o filho redimido se mantenha em diálogo constante e em comunhão permanente com seu Pai celeste em quaisquer situações ambientais e variações emocionais. A oração está na vida da comunidade e do crente e não apenas em situações litúrgicas, verbalizações ocasionais, circunstanciais e oportunistas. Oração sem comunhão com Deus nada significa, nada representa espiritualmente. O desejo e a necessidade de orar incessantemente são características do regenerado.

02 – Oração, Obra do Espírito.

A oração é obra do Espírito em nós, não produção de nosso intelecto, de nossa razão ou de nossa emoção (Rm 8.15,26; Gl 4.6). Jesus coloca, por meio do Espírito Santo, em seu Corpo, Igreja, e em cada um de seus membros a liturgia e a oração (Ef 6.18; Jo 4.23,24 cf Rm 1.8; 7.25).Portanto, quem abre a alma do crente à oração é Deus (Sl 51.15).

Pertinente, pois, nos parece a definição de J.J. Von Allmen: “Oração é a partilha voluntária que Deus faz conosco de sua vontade, de seu poder e de seu amor por meio da palavra humana”. Deus opera tudo em todos, tanto o querer como o realizar.

03 – Efeitos da Oração.

O exercício intenso e continuado da oração produz na vida do servo de Deus os seguintes resultados:

a- Pleno reconhecimento da paternidade divina.

b- Certeza de que Deus recebe todas as nossas orações, suplicativas ou intercessórias, e as responde positivamente, isto é, sempre para o bem de seu eleito, mesmo que a resposta positiva lhe seja um “não” contundente. A positividade da resposta pertence a Deus. A nós nos compete a aceitação com humildade e resignação, pois não sabemos orar como convém (Rm 8.26).

c- Submissão incondicional à soberana vontade de Deus, seguindo o Modelo, Jesus Cristo. A vontade e os desejos da criatura não podem prevalecer diante do Criador, que dela dispõe como lhe aprouver, segundo os seus propósitos.

d- Consciência plena de que diante do Onipotente Criador, eterno, absoluto, imutável e infalível em seus decretos, planos, vontade, atos e palavras, o redimido se coloca dentro de seu estado real:

Pecador, mortal, impotente, ineficiente, incapaz, limitadíssimo. A oração não é o recurso da virtude humana pelo qual a criatura manobra o Criador, mas uma concessão da graça divina para que o regenerado se mantenha sob a regência e cuidados do Regenerador. Poder falar com Deus em oração é uma graça, um privilégio, jamais um direito ou um poder da finita, falível, limitada e mortal criatura humana. Como não se imagina um soldado comandando um general, não se há de pensar a criatura dando ordens ao Criador.

Os infortúnios não silenciam o verdadeiro crente, não lhe tiram dos lábios o culto ao Redentor. Como nada nos separa do amor de Cristo, nada impede a oração do crente real, que, nos sofrimentos e na angústia, eleva ao Salvador tanto as preces súplices como as gratulatórias. É o milagre da graça!

04 – Tipos de Oração.

O culto sinagogal de Israel possuía dois modelos essenciais de oração:

a. Shemah (Dt 6.4-9 cf 11.13-21; Nm 15.37-41).

b. Tephilah ou Oração das Dezoito Bênçãos em que as três primeiras são de reconhecimento da grandeza, do poder e da santidade de Deus; a penúltima é de ação de graças; a última, uma doxologia sobre o grande e indiscutível autor da paz.

Jesus ensina que a oração deve ser:

a. Discreta, não servindo para projeção do ego de quem ora (Mt 5.5). Oração na comunidade não é discurso público, mas diálogo com Deus de forma direta e simples.

b. Íntima. A oração é a expressão externa de um elo secreto estabelecido pelo Espírito Santo entre o ser adorado e o adorador (Mt 5.6).

c. Objetiva e curta. A oração não deve ser longa, repetitiva, discursiva, explicativa. Não é pelo muito falar que seremos ouvidos, e Deus não precisa de nossas explicações e descrições de fatos. Ele é onisciente, conhece as nossas necessidades atuais e aquelas que teremos no futuro (Mt 5.7).

05 – Paulo, Teólogo da Oração: Paulo é o autor neotestamentário mais preocupado com a oração, especialmente a comunitária.

Nele encontramos os seguintes aspectos da oração litúrgica:

a. Doxologia de glorificação (Rm 1.21; 4.20;11.36; 15.6,9; 16.25-27; I Co 6.20; 10.31; II Co 1.20; 4.15; 9.13; Gl 1.5,24; Ef 3.20,21; Fp 1.11; 2.11; 4.20).

b. Louvor (Rm 14.11; 15.9-12; Ef 1.6,12,14; Fp 1.11; 2.11). Paulo usa o mesmo verbo para louvar e confessar: “Exomologeomai”.

c. Bendizer, bênção, benedictus: (Rm 1.25; 9.15; I Co 14.26; II Co 1.3,4; 11.31; Ef 1.3).

d. Adoração (I Co 14.25).

e. Ação de graças (Rm 1.8,21; 6.17,18; 7.25;14.6; I Co 1.4,14; 10.30;11.24; 14.6,7,18; II Co 2.14; 4.15; 8.16,17; 9.11,12; Ef 1.15,16; 5.4,20; Fp 1.3,4; 4.6; Cl 1.3; 2.5,7; 3.15; 4.2; I Ts 1.2; 2.13; 3.9; 5.18; II Ts 1.3; 2.13; Fm 4)

f. Exultação e gozo (Rm 5.2,3,11;15.17; I Co 1.29; II Co 1.12; 7.4; Fp 1.26; 2.16; 3.3; I Ts 2.19).

g. Súplica, pedido pessoal (Rm 1.10; 7.24;I Co 14.13; II Co 12.8; I Ts 3.10)

h. Intercessão (bênção ou maldição) (Rm 1.7, 9,10; 8.15,16,2326,27,34; 9.1-3; 10.1; 11.2-5; 12.12, 14; 15.5,6; 13.30-33; 16.20; I Co 1.3,8; 2.9-16; 5.311.1025.29; 16.22,23; II Co 1.2,7,11,14; 13.7,9,11,14; Gl 1.3,8,9; 4.6; 6.16,18; Ef 1.2,16-23; 3.14-19; 6.18; Fp 1.2,4,9; 4.6,7,9,23; Cl 1.2,3,9-11,29; 2.1-3,5; 4.2,12,18; I Ts 1.1,2,3; 3.10-13; 5.17,18,23-25,28; II Ts 1.2,11,12; 2.16,17; 3.1-3,5,16,18; Fm 3,4,6).

Como se notou, a Oração é bem definida e ordenada nas Escrituras. Deus requer ordem e especificação. Cada parte em seu lugar próprio na estrutura litúrgica.

06 – A Oração na Ordem Litúrgica.

Muitos irmãos ainda não aprenderam que a liturgia comunitária é um todo composto de partes distintas. No Culto há momentos específicos de adoração, confissão, ação de graças, louvor, consagração e intercessão. Desorganiza a liturgia uma oração desviada de seus objetivos e deslocada de seu momento adequado. É muito comum pedirmos um irmão que ore, por exemplo, em confissão, e ele louva, agradece, intercede, suplica perdão de pecados, até sem confessá-los. Não, oração de confissão deve ser exclusivamente de confissão como a de adoração precisa ser especificamente de adoração. Restringir-se ao assunto proposto significa que aquele que ora compreende a ordem do culto e com ela colabora. O que se diz aqui da oração vale também para os hinos, muitas vezes inadequadamente escolhidos, desorganizando o conjunto litúrgico. Não se há de cantar um hino de louvor ou de adoração no momento de intercessão. Exemplos orientadores:

07 – Oração de Adoração:

Momento em que a Igreja é colocada pelo Espírito Santo diante de Deus como serva adoradora. Exemplo: Senhor, sentimos a beleza, a majestade, a santidade e a glória da tua presença. Por isso te adoramos face a face trazidos pelas mãos de teu Filho e congregados pelo teu Santo Espírito. Tu és Espírito, e importa que teus adoradores o adorem em espírito e em verdade. Adoramos-te em nome de teu Filho Jesus, Nosso Senhor. Amém!

08 – Oração de Confissão:

Momento em que a Igreja confessa seus pecados. Como povo de Deus constituído de pecadores, a Igreja peca, algumas vezes por infidelidade e outras por omissão. Ela reconhece suas fraquezas e confessa publicamente seus pecados pela boca de um de seus membros.

Exemplo: Senhor, tu nos constituíste em tua família para sermos um só corpo, vivermos em perfeita e santa unidade, proclamarmos o teu Evangelho, mas a vaidade, a inveja, o orgulho e a ostentação separam-nos uns dos outros e, em consequência, não pregamos a tua palavra com o nosso exemplo de unidade, fraternidade e santidade. Queremos fazer o bem, mas o pecado nos impede. Perdoa-nos, Pai, em nome de teu Filho Jesus. Amém!

Na verdade, a oração de confissão divide-se em duas partes: A primeira, expõe a Deus, sem reservas, inibições e truques, todos os pecados conscientes e também os inconscientes, mas conhecidos por Cristo, que estão impedindo o crescimento espiritual da Igreja e de cada um de seus membros. A segunda, é o sincero pedido de perdão. O Salmo 51 nos mostra exatamente esse tipo de oração (contrição-perdão).

Confissão: “Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mal perante os teus olhos; de maneira que serás tido por justo no teu falar e puro no teu julgar. Eu nasci na iniqüidade e em pecado me concebeu minha mãe”(Sl 5l.4,5). Pedido de perdão: “Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que exultem os ossos que esmagaste. Esconde o teu rosto dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova dentro em mim um espírito inabalável. Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito. Restitui-me a alegria da tua salvação, e sustenta-me com um espírito voluntário” (Sl 5l.7-12 cf 51.1-3).

Confissão e súplica de perdão fazem parte do mesmo conjunto. Os pecados pessoais e íntimos devem ser confessados a Deus pessoal e intimamente, não em culto público. Porém, se o pecado individual é contra a comunidade ou lhe afeta a ordem, a dignidade e a pureza, deve ser confessado, especialmente no momento de oração silenciosa de confissão.

09 – Oração de Louvor:

Momento em que a Igreja reconhece a gloriosa soberania de Deus nas obras da criação, da providência, do governo, da redenção, do perdão e da graça. Exemplo: Senhor, a Igreja te louva porque é tua filha, e a ela deste olhos para ver e coração para sentir as tuas infinitas grandezas, o teu imensurável amor e a tua incomparável misericórdia. Louvado seja sempre o teu nome. A mesma Igreja que te exalta nos céus, louva-te na terra. Recebe, Senhor, o louvor, embora imperfeito, de teu povo em nome de Jesus, teu Filho amado. Amém!

10 – Oração de Ação de graças:

Momento em que a Igreja agradece bênçãos recebidas pela comunidade e por qualquer de seus membros. Exemplo de ação de graças geral:

Agradecemos-te, Senhor, a vida física pela qual nos relacionamos com a natureza e com a sociedade. Agradecemos-te a vida espiritual, a nossa comunhão contigo e a fraternidade comunitária. Agradecemos-te a Igreja e a família por serem bênçãos em nossas vidas e indispensáveis à nossa existência. Agradecemos-te todas as dádivas materiais, espirituais, sociais e econômicas, inclusiva as graças da salvação, da esperança. do amor e da fé. Externamos a nossa sincera gratidão a ti em nome de Jesus, teu Filho, nosso Salvador. Amém!

Pode-se e se deve fazer oração de ação de graças específicas por bênçãos especiais recebidas ou por algo que se obteve na ordem natural como: Aniversário, casamento, Dia das Mães, aquisição de imóveis, recuperação da saúde e tantas outras.

11 – Oração de Intercessão:

Momento em que a Igreja, como sacerdócio universal por ordenação divina, intercede por ela mesma, pelos seus membros, pelas autoridades, pela pátria e pelo mundo. Exemplo: Pai, a Igreja, ministra tua, intercede, por mediação de teu Filho, pela pátria, carente de governos honrados e de submissão à tua palavra; pela Igreja evangélica, que nela colocaste, para que seu testemunho seja mais autêntico e sua missão mais eficaz; pela Igreja Presbiteriana do Brasil, para que sejamos uma só alma, uma só mente e um só coração; pela Igreja local, para que nela haja unidade, santidade e fraternidade entre os irmãos; pelos enfermos físicos e espirituais, para que recebam de tuas mãos a bênção da cura. Recebe, Pai, o clamor de teu povo em nome de teu Filho Jesus. Amém!

Toda oração deve ser dirigida ao Pai em nome do Filho. Jesus, como Sumo Sacerdote, é o mediador de nossas preces e está conosco, onde quer que dois ou três se reúnem em seu nome, ao mesmo tempo que se encontra no céu, à mão direita do Pai, no Santo dos Santos celeste, e intercede por nós.

Lembretes:

  1. A oração deve ser breve, concisa e objetiva (Ec 5.2; Mt 6.7; Mt 23.14), feita em voz bem audível para que a comunidade toda possa dizer conscientemente: Amém!
  2. Orar em nome de Cristo não significa exercer procuração em seu lugar, como pensam muitos, mas submeter-se à sua mediação com muita humildade. O crente ora ao Pai por meio do Filho, não como seu substituto.

Notas:

[1] O presente texto foi escrito por um Reverendo da Igreja Presbiteriana. Por este motivo, o leitor encontrará algumas referências relacionadas ao culto de domingo, ou ainda alguns temas diretamente vinculados a esta denominação religiosa. Apesar deste detalhe, os editores do Música Sacra e Adoração compreendem que a leitura do texto do Reverendo Onézio Figueiredo é de suma importância para o contexto da adoração e do culto a Deus na Igreja Adventista do Sétimo Dia, justificando assim esta publicação.


Fonte: www.monergismo.com


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