Técnica Vocal e Fisiologia

Voz Rouca

por: Dr. Simon Wajntraub – Fonoaudiólogo

Causa e Problema

A voz rouca normalmente se inicia através de um processo emocional, traumático ou não, e com o tempo vai se tornando orgânica pelo uso errado da colocação vocal.

Podemos encontrar crianças que, já na primeira infância, emitem a voz através de berros pelos seguintes motivos,por exemplo moram em lugares onde a poluição sonora é elevada ou os familiares falam muito alto. Neste último caso, elas vão assimilando esse comportamento e, no decorrer da emissão da voz, forçam suas cordas vocais sem perceber, que estão causando a sí próprias problemas orgânicos como: calos, edemas, pólipos, etc.

Um fator da atualidade que causa problemas seriíssimos nas cordas vocais é o cigarro, principalmente no fumante passivo, que absorve a fumaça emitida pelo ativo. É um crime assistirmos a familiares fumando ao lado dos próprios filhos, às vezes em ambientes totalmente vedados, obrigando os pobres coitados a respirarem essa poluição que envenena o sistema respiratório e afeta as cordas vocais das crianças, causando rouquidão e outros problemas mais graves, inclusive tumores malignos.

Pessoas que trabalham utilizando a voz, se não realizarem um curso de Impostação para aprender a colocá-la a mesma corretamente, poderão ficar afônicas no decorrer das suas apresentações e, com o tempo, assimilar uma rouquidão crônica que afetará também a parte orgânica.

Método

No caso da voz rouca, é fundamental realizar o trabalho de correção com o apoio de um otorrinolaringologista, para que o mesmo elimine os problemas orgânicos através de medicações ou até mesmo cirurgias.

Hoje, com tecnologias e exames mais precisos das cordas vocais, ficaram bem mais seguros esses diagnósticos. Com a ajuda da videolaringoscopia, podemos filmar e reduzir o movimento das cordas. Se for preciso, utilizamos a câmera lenta para reduzir ainda mais esse movimento, conseguindo detectar pólipos mínimos que, a olho nu, não são percebidos. Se a pessoa ficar rouca por mais de uma semana, deverá recorrer ao tratamento.

Desenvolvi um sistema infalível em que, no teste que realizo com o paciente na primeira consulta, neutralizo sua audição tanto na via aérea (externa) quanto na via óssea (interna), com o objetivo de que ele não ouça a sua própria voz enquanto a emite. No momento do teste, ele projeta a voz sem bloqueios emocionais. Por isso, caso a rouquidão provenha dessa natureza, sua voz tende a ficar mais limpa e clara. Esse sistema é gravado em vídeo para que o paciente perceba como ficará a sua voz depois do tratamento.

É importante frisar que, se após o teste, a voz continuar rouca, a correção será realizada través de exercícios de colocação , procurando localizar um tom que não force as cordas vocais e que permita uma emissão mais perfeita. Entretanto, tal procedimento só poderá ser realizado após a aprovação de um otorrinolaringologista.

No meu método, não utilizo exercícios exagerados de respiração e relaxamento e não concordo com certos exercícios orofaciais desnecessários. Já tratei de vários atletas que possuíam um “pulmão de aço” com uma respiração incrível, e que, na hora de falar, tinham voz fraca, sem peso ou, às vezes, rouca. Por outro lado, já conheci asmáticos com lindas vozes.

Quando a pessoa apresenta uma tensão constante, encaminho-o para um professor de Yoga, pois não acredito que eu seja o mais indicado para transmitir técnicas de relaxamento. No momento, existem várias outras opções nessa área, como, por exemplo, o Tai-chi-chuan.

Algumas pessoas orientam seus pacientes com técnicas superultrapassadas, seguindo os preceitos dos oradores da antiga Grécia, onde se destaca o caso de Demóstenes, que apresentava gagueira. Para sanar sua deficiência na fala, Demóstenes gritava com seixos (pedrinhas) na boca em frente ao mar, tornando-se um dos maiores oradores daquela época.

Existem também terapias tradicionais onde os técnicos insistem na colocação de rolhas, avelãs, lápis e até línguas-de-sogra na boca dos pacientes, o que somente tumultua a fonação. Após retirarem esses objetos, que não tem mesmo sem nenhum embasamento científico algum, os pacientes sentem um alívio, que transparece através de ilusões de que a fala melhorou. É como colocar um sapato apertado: após retirá-lo… QUE ALÍVIO!!!

Outro erro muito comum é ficar insistindo em gargarejar com produtos químicos, líquidos ou alimentos, com o objetivo de melhorar as cordas vocais, aumentar a potência ou melhorar a freqüência da voz. Ora, a alimentação ou ingestão de líquidos jamais atingirá as cordas vocais porque a glote interrompe o espaço da laringe, e os alimentos são desviados para o esôfago. Quando há uma falha nesse sistema, nós nos engasgamos e tossimos para expelir rapidamente esses corpos estranhos, uma vez que a função primordial da laringe é a respiração, onde as cordas vocais se abrem, e em seguida, se unem e vibram, constituindo a fonação propriamente dita. Os famosos gargarejos aliviam apenas os processos inflamatórios e sensíveis da faringe, que é a parte superior da laringe.

Às vezes, fico impressionado quando cantores ou atores comentam que irão ingerir algum líquido para “molhar as cordas vocais”. Se esse fato realmente ocorresse, com certeza ocasionaria internação, pois seria preciso retirar tal líquido dos pulmões imediatamente.

O ideal para recuperar a voz quando esta estiver enfraquecida – o que é comum ocorrer no final do dia, pelo desgaste da musculatura que movimenta as cordas vocais e órgãos da fonação – é dormir profundamente, nem que seja durante dez minutos apenas. Após esse ato, a voz melhora acentuadamente. Inclusive, é por esse motivo que, ao acordarmos, a nossa voz fica mais forte, pois a musculatura, ficando em repouso no decorrer de uma noite inteira de sono, faz com que as cordas vocais trabalhem com mais energia.

Os exercícios de impostação têm como objetivo principal orientar a pessoa a fazer a colocação da voz de forma correta, sem “gastá-la” indevidamente, como, por exemplo, gritando ao telefone.

A impostação da voz, seria, basicamente a colocação da voz no seu tom fundamental.

Grave-Médio

Outro item importante da impostação é utilizar os médios e os graves da colocação da voz. No registro grave, a onda sonora é de grande amplitude, e o esforço vocal é menor, enquanto no agudo as ondas são menores, e o esforço para atingir o final de uma sala de aula ou um auditório é enorme porque há a necessidade de emitir muitas ondas sonoras.

Agudo

É muito comum encontrarmos indivíduos que dão aulas ou palestras constantemente e, já no início da apresentação, suas vozes começam a falhar, de tanta força que estão realizando para emiti-la, pois costumam utilizar os tons agudos.

O fundamental seria que, em todas as faculdades, fosse implantada a cadeira de Impostação da Voz e Oratória, para que os profissionais enfrentassem situações de explanação oral sem os bloqueios ou inibições habituais.


Fonte: Boas Falas

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