Compressão II

por: David Distler

A atuação do compressor segurando os picos nos proporciona dois efeitos principais. Vejamos quais são:

O primeiro é melhor apreciado da perspectiva de macro visão do sistema. Voltando àquela ideia de headroom ou faixa dinâmica que abordamos no tema estrutura de ganho, lembremos que para proporcionar um som de qualidade, todo sistema de som precisa ser operado entre dois limites. O inferior é representado por aquele ponto em que o nível de sinal é tão baixo que ele chega a se confundir com o ruído de fundo dos componentes eletrônicos dos aparelhos. Este limite raramente nos é problemático hoje em dia. Porém todos os operadores precisam estar bem conscientes do limite superior do sistema que operam pois é ao ultrapassar este ponto que ocorrerão perdas – perdas de qualidade sonora, quando o som distorcer, e financeiras quando componentes forem queimados! Reitero o que disse quando tratávamos a estrutura de ganho pois por não ser uma coisa intuitiva muitos se demoram para assimilar este conceito:

Queimam-se mais alto-falantes pelo uso de amplificadores sub-dimensionados, que distorcem ao tentar amplificar sinais além da sua capacidade, do que por excesso de potência!

Aqui entra o compressor como aliado. Observe a figura com a senoide ceifada que resulta de se pedir que um equipamento reproduza um sinal com amplitude maior do que é capaz.

Se esta onda for submetida a uma compressão antes de chegar no estágio de amplificação, a amplitude desta onda pode ser contida dentro dos limites que o seu sistema de som consegue amplificar sem problemas, e, de quebra, o som irá parecer mais forte!

Deve se observar que esta solução não representa uma panacéia que curará todos os sistemas sub-dimensionados, existe também o efeito danoso causado pelo uso excessivo do compressor. Observe as figuras abaixo [*]. À medida que se aplica mais e mais compressão, a ondas do seu material de programa vão tomando um aspecto mais e mais achatado – não devido a ceifamento mas sim pela atuação limitadora da tal laje de concreto de nossa analogia.

Isto também é danoso aos falantes pois nestes gráficos de forma de onda o eixo vertical é o tempo e o ângulo da curva entre o ponto de energia máxima que cruza o ponto zero e vai até o ponto de energia mínima nos mostra o tempo que o falante tem para “respirar” entre os pontos máximos de sua excursão. Quando submetido a sinais que foram fortemente comprimidos diversas vezes, este ângulo vai tendendo a uma posição vertical o que, para a infelicidade dos falantes, representa um tempo mínimo entre os seus pontos extremos e acaba resultando no superaquecimento de seus componentes mecânicos que perdem sua forma normal e travam ou derretem resultando na “queima” do falante.

O segundo efeito do compressor, agora da micro perspectiva de um único canal, é que por atuar apenas sobre os picos dos sinais ele encorpa ou confere maior peso a um som. Isto decorre do fato que ele permite que o operador deixe uma voz ou instrumento mais alto no mix sem correr o risco deste distorcer o sinal da gravação ou PA ou ainda dar início a microfonia quando vierem os picos. O resultado é que o seu som se torna mais audível ou tem maior presença dentro do mix.

Também neste caso vale o princípio de que uma dose exagerada de uma coisa boa pode ser prejudicial. E este alerta vale principalmente para aqueles que gravam os sermões a partir da mesa de PA. O que ocorre é que como a compressão lhe permitirá deixar o fader do canal mais alto, o microfone estará captando mais não somente da voz do palestrante, que, por ser mais forte, terá seus picos limitados, como também dos ruídos de fundo que existem em seu salão de culto. Por serem mais fracos os ruídos não tem intensidade suficiente para causar a atuação do compressor porém, como o canal está bem aberto, ao ponto de amplificar as passagens mais suaves da voz do preletor, estes ruídos serão captados mesmo por um bom microfone direcional de e serão bem audíveis.

O efeito resultante é que enquanto o palestrante fala, o som de sua voz predomina e a gravação fica limpa, porém assim que ele pára, o ruído de fundo parecerá crescer resultando num efeito bastante desagradável semelhante àquele causado pelo controle automático de ganho dos vídeo cassetes nos quais o chiado crescia durante os períodos de silêncio. Só que diferente das gravações de trilhas sonoras de vídeos profissionais que são feitas em estúdios ou sobre condições controladas, no caso do sermão você não tem silêncio, portanto o que “cresce” são os ruídos de ventiladores, gente tossindo, e no caso de minha igreja, atualmente localizada numa área campestre (e como a maioria das igrejas evangélicas, desprovida de sistema de ar condicionado central que possibilitaria um melhor isolamento acústico do salão) o canto dos pássaros e latidos de cães do vizinho nada agradáveis – enfim, se você grava evite exageros neste ajuste…

David B. Distler
A Fé vem pelo ouvir da Palavra


David B. Distler – Com mais de 20 anos de experiência, David, é consultor associado à Audio Engineering Society e à National Systems Contractors Association. David projeta sistemas de som, sonoriza eventos e tem ministrado cursos para centenas de operadores de som e músicos.


Fonte: Publicado originalmente em: http://www.proclaim.com.br/Artigo22.html


[*] Apesar do texto citar a existência dessas figuras, o artigo original não as contém. Para facilitar a compreensão do texto, acrescento algumas figuras de um texto semelhante publicado originalmente em: http://audiolist.org/forum/viewtopic.php?t=610. O texto foi incluído também, para ajudar na compreensão:


O limiter não é (e nem o compressor) um controle automático de volume: ele apenas “corta” os picos do sinal – as passagens mais fortes – mas por sí só não é o bastante para evitar problemas. Se o operador não se importar com o aviso dos LEDs indicadores e continuar aumentando o volume, a “densidade sonora” (digamos assim) aumentará cada vez mais, até o ponto de queimar os falantes. Já ví isso acontecer várias vezes.

Veja a representação gráfica de um sinal musical natural, sem limitação:

A área escura representa o sinal de áudio (música), e o espaço em branco é a “folga” que existe no sistema. Existem picos (transientes) no gráfico, que alcançam níveis bem mais altos que a média.

Agora o mesmo sinal, limitado:

Os picos foram cortados, e o nível médio do sinal caiu, o que é bom. Mas… só por pouco tempo. O operador na maioria das vezes irá aumentar o nível do sinal, para compensar a queda no volume.

O gráfico então será este:

Compare com o primeiro.

Veja que a proporção de área escura (sinal) aumentou muito, restando pouco tempo para os falantes “respirarem”. Com isso, eles tenderão a se aquecer em demasia, e o primeiro sintoma será queda na intensidade sonora após algum tempo de funcionamento – um falante muito quente “fala” menos. É a chamada “compressão dinâmica”.

Depois de algum tempo então, ao notar essa queda, o operador irá aumentar ainda mais o volume na tentativa de recuperar a pressão sonora original. O limiter atuará mais intensamente, reduzindo ainda mais a dinâmica do áudio.

O resultado é fácil prever: o sinal, de tão limitado, tornar-se-á extremamente “denso” (pouca dinâmica) e acabará por superaquecer os falantes e drivers, levando ao descolamento das bobinas.

Texto de Edu Silva.


Fonte: http://www.somaovivo.org