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A Música e o Computador – Parte II

por: Angelino Bozzini

A informática no dia-a-dia do músico

O Computador entrou no cotidiano da música pelas mãos dos músicos de estúdio, e daqueles que já tinham alguma intimidade com instrumentos eletrônicos, como os sintetizadores, por exemplo. Os instrumentistas “acústicos” – principalmente os “eruditos”- não viam com bons olhos aquela máquina que, algum dia, poderia substituí-los. Esse quadro, porém, está se revertendo rapidamente.

Mais e mais músicos estão descobrindo no computador um versátil instrumento de apoio as suas atividades. Seja na cópia de partituras, na elaboração de arranjos ou no preparo de material para atividades didáticas, o computador consegue ganhos de qualidade e agilidade. Ou seja, um ganho de tempo que proporciona ao músico maior liberdade para as atividades criativas.

Vamos analisar, por exemplo, o editor de partituras ENCORE 4.0, da empresa norte-americana PASSPORT. Por sua versatilidade, facilidade de uso e quantidade de recursos, esse programa tem sido um dos mais utilizados por músicos profissionais que trabalham em computadores tipo PC ou Macintosh.

O primeiro Passo é saber se você precisa realmente de um editor de partituras. Será que vale a pena trocar sua caneta por um computador? Vejamos:

  • Você tem que copiar ou criar muita música?
  • Sua banda depende do trabalho de voluntários (com caligrafia nem sempre muito clara) para fazer as cópias das músicas que tocam?
  • Você é professor e gostaria de ver impressos todos aqueles exercícios e estudos que escreveu para seus alunos?
  • Você dá aulas de harmonia e acha importante que os alunos possam visualizar a grafia dos exercícios que realizam?
  • Você até hoje se atrapalha quando escreve partes para instrumentos transpositores e considera um castigo divino quando descobre que tem que mudar o tom de um arranjo que acabou de escrever?
  • Você costuma, de vez em quando, pular alguns compassos em suas cópias, que depois devem ser acrescentados por cima dos outros em forma de “papagaios”de papel?
  • Você odeia tocar em partes fotocopiadas?

Basta ter respondido “sim”a uma destas questões, para saber que um editor de partituras certamente poderá mudar sua vida. Com ele, você coloca na memória do computador a grade da música que quer imprimir, podendo modificá-la, transpô-la e, finalmente, quando tudo estiver pronto, imprimí-la no papel. Além disso, vale dizer que você precisa escrever somente a grade geral; as partes individuais são geradas automáticamente!

E tem mais. Com os recursos que um editor de partituras possui, você ainda pode escrever as notas com o “mouse”, colocando-as uma a uma no pentagrama, ou utilizar o teclado do micro, como se fosse um piano. Também é possível acoplar ao micro um teclado musical, onde as notas que você executa vão sendo automaticamente escritas no pentagrama.

Para aqueles que são bons tecladistas, essas entradas de notas podem ser feitas em “tempo real”, onde o computador anota automaticamente o ritmo executado. Qualquer trecho, ou mesmo toda a música, pode ser facilmente transposto. Assim, se um instrumento dobra outro, basta escrever uma vez a parte e depois copiá-la para os outros instrumentos, ou para lugares onde o trecho se repete.

E se você descobrir, no meio da cópia, que sua música soaria melhor em dois por quatro e não em quatro por quatro? Muito trabalho? Não. O programa pode rescrever tudo automaticamente. Uma vez escrita a grade, o micro extrai as partes que você desejar e comprime as pausas.Assim, se um instrumento não toca por 20 compassos, será criado na parte um compasso de apusa com o número 20 sobre ele.

No caso de músicos com deficiência visual, para os quais os papéis de música convencionais não são fáceis de ler, o editor pode gerar desde partituras de bolso até partes com notas gigantescas.

Mais ainda: se você escreve livros didáticos sobre música, saiba que é possível retirar trechos feitos no editor de partituras e inserí-los dentro de um editor de textos. Além disso, o programa ainda tem recursos especiais para anotação de partes para violão e guitarra – tanto por notas quanto por cifras; a escrita de letras nas músicas, facilitando a elaboração de partituras corais; e a notação de instrumentos de percussão, com tados os símbolos necessários.

No início e meados da década de 80, muitas pessoas (como eu próprio) compraram um computador simplesmente para usar o editor de textos. Um programa como o editor de partituras justifica hoje a compra de um computador para quem precisa escrever muita música.

O ENCORE, por exemplo, pode transformar em música aquilo que você escreve. Esse é um recurso valiosíssimo para arranjadores e compositores, que podem ter uma ideia clara daquilo que conceberam sem ter que usarem os músicos como “cobaias”.

Por outro lado, para um estudante de música, o progrtama proporciona um laboratório eficiente de aprendizagem, onde pequenas ideias podem ser metamorfoseadas e vivenciadas sonoramente, até transformarem em música.

Mão na Massa

Se você acha que a editoração musical é algo que possa lhe ser útil, não perca tempo, tente começar o mais breve possível! Você precisa de três coisas: um computador, um programa e um bom manual. Dos três, o computador é, pelo seu custo, o mais difícil de ser adquirido. Mas, se você possui os recursos financeiros necessários, pense nas seguintes possibilidades:

  • Usar o de um amigo ou do seu trabalho (com a devida autorização de seu chefe, é claro);
  • Comprar um computador usado;
  • Organizar um consórcio entre amigos;
  • Organizar uma cooperativa de músicos e comprar um computador coletivamente.

Acessado o computador, o próximo passo é comprar e aprender a usar o editor de partituras com eficiência. O manual, geralmente simples e claro, tem um porém: é publicado em inglês (o que pode ser um incentivo para você tirar o pó dos seus conhecimentos linguísticos, mas também um empecilho para um aprendizado rápido).

Felizmente, já há versões traduzidas. Não se esqueça, porém, que embora o programa possa produzir facilmente partituras, a qualidade estará diretamente ligada ao seu conhecimento da escrita musical: o computador vai reproduzir a notação que você conceber.

Lembrando Murphy, é sempre possível haver uma interrupção de energia elétrica na véspera de uma apresentação importante, justamente quando você acabou de terminar aquele arranjo também importante. Por isso,é bom ter certeza de que você ainda é capaz de retirar sua caneta e papel pautado do armário, sabendo que no dia seguinte seus colegas não vão precisar consultar nenhum oráculo para saber o que tocar.


Angelino Bozzini é trompista e colaborador da Revista Weril


Fonte: Weril

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