Músicos Mirins

por: autor desconhecido [*]

A hora e o modo certo de incentivar uma criança a aprender Música sem correr o risco de frustração.

Aos seis anos de idade, Mozart (1756-1791) escreveu sua primeira sinfonia. Sua notável aptidão para compor foi aflorada prematuramente revelando o gênio que era o austríaco. Wolfgang Amadeus Mozart era um superdotado, fora de série, incomum. Assimilou rapidamente o conteúdo musical que seu pai lhe passou quase ainda no berço, já que seu pai já se preparava para assim fazer.

Muitos “coroas” que gastaram a vida toda tentando aprender Música sem alcançar êxito, transferem seus sonhos para os filhos. É uma espécie de segunda chance: “se eu não consegui, que pelo menos meu filho consiga”, eles pensam.

É salutar que os pais incentivem os filhos às artes, mas é preciso tomar precauções para evitar frustração ou até mesmo um trauma. A primeira é ter a percepção se seu garoto ou garota tem realmente interesse ou desperta ao menos curiosidade em se aventurar na música. Contrariada, a criança rende pouco ou revelará distorções de comportamento no futuro. Um exemplo eloqüente disso são as confissões de Michael Jackson. O cantor revelou que quando criança ele e seus irmão tiveram a infância roubada pelo pai que os obrigava a se dedicar ao trabalho musical em árido regime e que o trauma os perseguem até hoje lhes causando incômodos sérios. E isso tudo mesmo tendo prosperado tanto quanto conhecemos. Imagine se tivessem fracassados…

Os Limites

Quando contamos estórias para crianças devemos ter o cuidado de usar uma linguagem acessível para que tenham total compreensão. Ao darmos um peso para elas carreguem temos de considerar as proporções exatas. Ao depositarmos projetos sobre um filho temos de respeitar os limites dele.

Você pode até ter um Mozart em sua casa; ou quem sabe um Pelé; ou ainda um Bill Gates. No entanto, se não souber respeitar os limites da criança poderá ofuscar seus talentos — no mínimo.

Psicólogos especializados em crianças afirmam que elas são capazes de “apregoar” normas e conceitos muitos relevantes que a maioria dos adultos. Se o pai diz a um filho de 3 anos, de forma bem incisiva, que sempre que ele fizer algo errado vai ter alguém o flagrando o menino jamais se esquecerá disso. Mesmo alcançando a idade em que esse filho possa compreender que as coisas não são bem assim, jamais tirará esse fundamento da lembrança.

De semelhante ideia conclui-se que se desde cedo a criança começar a apregoar os conceitos da Música e suas teorias métricas, mais rápido ele pode assimilar os fundamentos musicais. No entanto, o que deve ficar claro é que a linguagem aplicada a uma criança deve ser mais acessível, pois ela só fixará os conceitos se lhe ficar bem esclarecidos. Ansiedade toda criança também tem, porém, com menor intensidade que os mais crescidos. Desta feita, não se tolera pressões por resultados a curto prazo.

Se não se pode cobrar muito dos pequenos aprendizes, é recomendável não fazer muita superestimação e expor a criança a um estado de expectativa muito grande em meio a promessas e apostas. É comum e até certo ponto admissível que os pais alimentem esperanças a si próprio e a o filho premiado de que o futuro lhe reserva fama e sucesso em troca de certos esforços. Mas cuidado com a barganha. Prepare a criança para o seu desenvolvimento tanto pessoal como profissionalmente (neste caso, artístico). Contudo, poupe-a de presságios e deixe as coisas sucederem naturalmente. Evite comparações. Se a filha do vizinho é uma pianista prematura, seu filho não tem que ser visto como um mongolóide imbecil e imprestável.

Brinquedos musicais

Quando era criança meu grande sonho era ter uma bicicleta. Eu nunca a tive enquanto criança. Isso não foi traumático pra mim. Tanto que se hoje eu pudesse escolher um brinquedo para meus tempos pueris, eu escolheria ter tido um instrumento musical — um teclado Yamaha PSR 550 estaria de bom tamanho.

Presentear instrumento musicais — ainda que não seja um top de linha — é uma boa pedida para estimular a curiosidade e o gosto da criança pela Música. Uma imitação de piano de duas oitavas é suficiente para se tocar quase que qualquer melodia. Uma flauta, cujo custo é irrisório, acompanhada de um folheto com algumas cifras e músicas tradicionais cifradas também pode ter grande serventia. Mas se houver a possibilidade de desembolsar o suficiente para comprar um violão (há tamanhos pequenos para iniciantes) ou um piano ou mesmo um bom teclado eletrônico, ótimo. Invista.

Instrução profissional

Seu filho não é nenhum Mozart mas gosta de Música e tem real interesse em mergulhar nesse maravilhoso universo? Caso a resposta seja afirmativa então leve em conta mais uma recomendação: entregue-o a um profissional competente em instruir músicos mirins — o que não se aplica a qualquer professor. Muitos mestres e formadores de bons músicos não sabem ou são desprovidos de experiência em trato com menores, enquanto há quem se especializou em ensinar a crianças.

Você, pai ou mãe ou tio, é o professor do baby? Não é exatamente um problema. Todavia, no momento do treinamento, façam juntos um entendimento para se desliguem dos laços carnais e procurem se tratarem como mestre e aluno. Jamais insira assuntos externos e familiares no processo de aprendizagem. Nade chantagem ou barganha. Por exemplo, prometer um passeio no parque de diversão se o aprendiz tocar determinada lição, pois crianças precisam de entretenimento independentemente do seu desempenho nessa ou outra matéria. Você toca muito bem e quer ensinar a seu filho? Tudo bem. Mas, se você não for professor profissional seu filho nunca o tratará como tal. Um encanador que dá plantão a semana inteira como encanador e faz bicos de eletricista nos finais de semana nunca será chamado de eletricista, mas de encanador. Não há nada de errado nisso. Só que a mente humana acostumou-se a separar essas coisas. Por isso, se sua profissão é encanador, mecânico, médico, motorista, ou qualquer outra coisa, nada impede de dar aulas de música a quem quer que seja. Entretanto, nunca espere ser tão reconhecido como um profissional da música. Uma boa medida para o caso é a condição de auto treinamento. É diferente ir a academia sob os cuidados de um instrutor e praticar exercícios em casa lendo um manual.

Profissionalização de um mirim

Tem um gênio em sua casa e você não sabe o que fazer e onde procurar ajuda para promovê-lo? Calma aí. O melhor, a princípio é lançar o pequeno Beethoven aos poucos ao mundo externo. Festas familiares, apresentações voluntárias e canjas o fará se inserir naturalmente. Se preciso, leve-o a festas com música ao vivo (devidamente apropriadas para a idade do menor) e meta a cara. Trocando em miúdos, peça ao responsável para dar oportunidade de seu filho se apresentar. Leve-o para conhecer os estúdios de alguma rádio, familiarize-se com assuntos relativos à Música e — o mais importante para a iniciação –, faça com que seu notável mirim pegue o máximo de intimidade com microfone. Falar antes de cantar, por exemplo, relaxa e dá mais confiança à medida que desta forma, vai-se ajustando à voz ao som mecânico que é bem diferente do acústico (som ambiente).

Tome cuidado com falsos patrocinadores. Normalmente eles vêm com promessas mirabolantes e tentadoras, prometendo facilidades e garantias imediatas. As agencias de promoção de talentos ganham dinheiro com isso e quase nunca isso dá certo. Se lhe pedirem dinheiro imediatamente, caia fora. É fria. Há olheiros espalhados por aí. Mas o mais comum é que, devido à concorrência, seja preciso bater à porta. Algumas gravadoras têm programas de seleção de novos talentos. Salvo raras exceções, elas não cobram nada.


[*] – Nota: Os editores do Música Sacra e Adoração não localizaram informações acerca do autor deste artigo. Qualquer contribuição acerca desta informação será bem-vinda.


Fonte: Publicado originalmente em: www.filomusicologia.hpg.com.br/artigo3.html.