Bandas e Fanfarras: Análise Técnica Dos Problemas Constantes

por: Maestro Beto Barros

Esta matéria técnica aborda os problemas costumeiros que tenho observado no acompanha mento do Campeonato de Bandas e Fanfarras da Secretaria da Juventude do Estado de São Paulo, no qual venho atuando como jurado há algum tempo. Os assuntos que devo abordar nesta e edição é Fraseado e Articulações, mas outros tópicos serão publicados nos próximos meses.

O fraseado deve possuir precisão rítmica, definição exata das articulações, silabação adequada (pronúncia) e definição do estilo, imprescindíveis quando executadas em naipe.

Nosso sistema ocidental de notação rítmica não é adequadamente equipado para tratar com a complexidade de ritmos de jazz derivados da África e ainda das influências latinas da música popular de várias etnias, que agora se fundem e desembocam em um formidável caldeirão multicultural do século XXI. Por exemplo, as colcheias com swing, freqüentemente escritas como colcheias regulares. Alguns escritores preferem indicar da seguinte maneira . Ambas as notações são inadequadas. A colcheia swingada, quando propriamente executada, representa, enfatizando pulsação ternária. Portanto, no estilo clássico, a colcheia deve mesmo ser regular , no entanto, no jazz e em outros ritmos latinos, a colcheia regular deve ser executada .

Aconselho maestros e chefes de naipe a anotarem todas as articulações necessárias e apropriadas nas partituras, para a perfeita definição do estilo a ser executado.

O problema básico nas bandas e fanfarras é o método de ataque, ou seja, a precisão de tocar staccato e a habilidade de executar um belo legato; tocar as notas suavemente sustentadas, conectadas e com a pronúncia apropriada.

Vamos agora dar uma olhada em vários exemplos de articulações que também estão disponibilizados em áudio, formato MP3 no meu site na web.

Exemplo 1

As marcações em legato (exemplo1) freqüentemente não são usadas no senso tradicional, mas para definir o comprimento da frase. Este tipo de frase no estilo swing deverá ser atacado (língua) levemente, e ainda com uma silabação macia, (soft) como “DU”. Os acentos serão melhores realizados mais com a pressão da coluna de ar do que com ataque pesado da língua, e ainda por ser uma frase de caráter ascendente, deverá ter um natural e suave crescendo.

Tem existido alguma confusão entre os maestros com relação ao tamanho e interpretação das anotações de acento. O acento longo, que recebe o valor integral da nota, deve ser marcado como
, e o pequeno e pesado acento deve ser anotado como . O acento marcato [^] deve indicar: mais pesado e mais longo do que uma colcheia, ou do que uma semínima staccato.

Apenas recentemente os arranjadores começaram a aceitar esta notação como padrão, e por esta razão as grades (os scores) devem ser estudadas com atenção e mudadas quando necessárias. Veja o próximo exemplo, ele é considerado correto em ambas as maneiras.

Exemplo 2:

No estilo “swing” (popular não clássico), todo final de frase normalmente deve ser cortado, a não ser que exista outra indicação.

Exemplo 3:

As colcheias mais altas no pentagrama devem ser normalmente acentuadas como no exemplo acima. Os acentos não devem ser exagerados. Um acento com pressão da coluna de ar é mais efetivo do que um acento pesado de golpe de língua. Os músicos freqüentemente reforçam o acento da pressão da coluna de ar com um suave ataque de língua. Esta abordagem funciona melhor na interpretação do Exemplo 4:

As semínimas com grande exposição no tempo fraco geram sincopas e devem ser acentuadas como no Exemplo 5:

Colcheias com ligadura sobre a barra de compasso e ligadas às notas com valor maior do que colcheia, são normalmente tocadas com acentos longos.

Exemplo 6:

Notas ligadas dentro do compasso, ou sobre a barra do compasso são acentuadas e tocadas com valor integral, a não ser que outra indicação exista.

Exemplo 7:

Colcheias ligadas sobre a barra de compasso a outra colcheia poderão ser articuladas de duas maneiras, dependendo do estilo e das frases precedentes e subseqüentes.

Exemplo 8:

Uma figura rítmica muito comum que aparece sempre no tempo primeiro ou terceiro é no estilo de swing. Ela deverá ser articulada dos seguintes modos.

Exemplo 9:

Uma articulação apropriada para a segunda colcheia é dependente do que virá após esta mesma figura. No estilo rock é normalmente articulado do seguinte modo.

Exemplo 10:

Uma série de semínimas que aparecem consecutivamente no tempo fraco são freqüentemente tocadas curtas (exemplo 11a), todavia, elas podem também ser interpretadas com acentos longos e “quedas curtas” (short falls), (veja tabela geral de articulação no final dessa matéria) criando pequenos intervalos entre cada semínima (ex. 11b). Veja o áudio em mp3 no site na web.

Exemplo 11:

A seguinte figura poderá ser corretamente articulada em várias maneiras diferentes; a escolha apropriada irá depender do estilo.

Exemplo 12:

Semínimas no estilo swing são freqüentemente tocadas curtas com o acento marcato. Regentes, atenção aos músicos com pouca experiência, pois eles tenderão a apressar os tempos fortes, particularmente nos andamentos lentos e moderados. Os alunos deverão ser instruídos para esperar por cada tempo. É uma grande ideia instruir o estudante a tocar com caráter “para trás” (lay back), mas com o cuidado de não atrasar ou arrastar o andamento: é muito importante manter o tempo.

Exemplo 13:

Para se ter certeza de um limpo e preciso ataque no tempo fraco, com valor de colcheia, precedida por uma longa nota ligada, proceda do seguinte modo: interrompa a nota na última ligadura do tempo forte. A porção final da nota ligada deverá ser considerada como pausa. Veja o exemplo a seguir:

Exemplo 14:

Shakes são freqüentemente seguidos por uma colcheia no tempo fraco. O ataque da colcheia pode ser mais preciso se parar o Shake no tempo forte ao invés do tempo fraco. Esta técnica é similar àquela descrita no exemplo acima, e não deverá ser sempre desejada, mas ela é, todavia, um meio de sucesso para limpar o problema em uma banda com pouca experiência.

Exemplo 15:

Crescendo e decrescendo, quando são indicados, devem ser adicionados e seguir contorno natural das linhas melódicas. Se a linha sobe na tessitura, então um suave crescendo será benéfico e vice-versa. Estas nuances não devem ser muito evidenciadas e devem parecer naturais. Os crescendos geram uma pequena tensão e os decrescendos geram, ao contrário, um relaxamento da frase.

Exemplo 16:

No sentido de gerar interesse e movimento em notas longas, que normalmente possuem um caráter estacionário, é aconselhável adicionar um suave crescendo.

Exemplo 17:

Aguarde o complemento desta matéria na próxima edição.


Beto Barros dirige sua própria empresa de produções artísticas e culturais.


Fonte: Publicado na Revista Weril n.º 141