Iniciação Musical Para Adultos

por: Leonardo Fuks

Muito se fala em iniciação musical para crianças, mas, como fica essa iniciação entre aqueles que já há muito se iniciaram na vida, os adultos? Este é um assunto pouco discutido.

É certo que as crianças possuem um enorme potencial para adquirir novos e complexos hábitos, informações, ritmos e gestos. Estando na fase de crescimento e formação óssea/muscular, a criança pode “moldar”seu corpo em função das atividades físicas envolvidas. O ensino musical também desenvolve múltiplas dimensões do indivíduo, como a social, motora, cultural e humanística. O popular método Suzuki é um exemplo bem-sucedido do que pode ser feito em termos de ensino coletivo para crianças.

O adulto também deve ser focalizado no processo de educação musical e numa outra abordagem. Nos sopros, a capacidade de controlar a digitação, o sopro e a embocadura envolve um desenvolvimento sensorial e motor (táctil, respiratório, de posicionamento das estruturas da boca e língua, de de posicionamento e movimentação dos braços, mãos e dedos, etc.). Esta capacidade de controle deve ser desenvolvida através de um trabalho às vezes penoso, mas compensador.

O ensino coletivo de música para adultos surge como uma alternativa estimulante e economicamente acessível de aprendizado. Mas o professor deve estar atento para as especificidades, limitações e potencialidades de um grupo usualmente tão heterogêneo de alunos. A seguir, algumas sugestões a serem consideradas pelo professor:

  • Desenvolva nos adultos as características “infantis” da curiosidade, intuição e disposição de “brincar” com o instrumento;
  • Aproveite a perseverança, paciência, bom senso e capacidade de concentração do adulto para tornar o ensino mais profundo e eficiente;
  • O instrumento melhor e mais “fácil” é o que mais se gosta de ouvir e tocar. É fundamental que o aluno conheça os diversos instrumentos e, se possível, experimente-os na fase inicial. Não se deve ceder aos modismos ou mesmices sobre instrumentos mais “modernos” ou “fáceis”;
  • Estimule o aluno a desenvolver um senso crítico do que está adequado e do que não está satisfatório. Um excesso de instruções sobre os aspectos técnicos é impossível de ser oferecido em aulas em grupo, e termina criando alunos muito dependentes e dispersando o ensino coletivo;
  • Crie ocasiões freqüentes para apresentações públicas dos alunos, seja em recitais de grupos menores, reunidos segundo o grau de progresso técnico, seja com formações maiores e mais heterogêneas;
  • Estimule os alunos a estudarem além dos horários de aulas coletivas, em pares ou pequenos grupos, o que aumenta a exigência sobre tarefas individuais e reforça o espírito de grupo. Enfatize a importância da afinação e da precisão rítmica, particularmente em execuções em grupo;
  • Utilize a capacidade cognitiva e analítica do aluno para que possa compreender a obra, o funcionamento físico do instrumento e a diagnosticar problemas de manutenção e execução, buscando resolvê-los a contento;
  • Encoraje o aluno a estudar, paralelamente, leitura, solfejo e harmonia;
  • Incentive-os a tirarem músicas de ouvido, transcrevendo-as para a pauta musical. Depois, peça que um leia a transcrição do outro, fazendo comentários;
  • Estimule os alunos a tocarem os estudos e as partes de música de grupo de memória. Quanto melhor memorizada e interiorizada, maior será a expressividade musical e a integração com os outros músicos;
  • Mostre ao aluno fumante que esta é uma excelente oportunidade para largar o vício. É sabido que o fumo reduz o desempenho físico e respiratório;
  • Valorize a capacidade de se gerar sons doces e sutis, explorando o âmbito dinâmico do instrumento;
  • Convença os alunos a não terem receios de incomodar os vizinhos, ao praticar em níveis sonoros razoáveis e em horários regulamentares. Esta limitação auto-imposta prejudica o desenvolvimento;
  • Estimule-os a adquirirem instrumentos novos ou em ótimas condições. Instrumentos com muitos problemas mecânicos e uma má resposta sonora invalidam em grande parte as aulas e o esforço despendidos.

Leonardo Fuks é oboísta, PhD em acústica musical pelo Instituto Real de Tecnologia da Suécia e professor da Escola de Música da UFRJ.


Fonte: Publicado na Revista Weril n.º 127