Bandas – Causas e Efeitos nos Concursos

por: Alciomar Oliveira

O principal objetivo dos instrumentistas de sopro tem sido sempre o de obter um bom som. Porém, tendências da música contemporânea permitem novas inferências sonoras, além das sonoridades puras, tradicionalmente obtidas pelos instrumentos.

Explorar essas novas sonoridades implica exigir dos intérpretes efeitos de maior proporção do que aqueles possibilitados pelo som natural dos instrumentos. Exemplo prático é o dos trombonistas contratados para gravar trilhas sonoras, em que os efeitos inusitados dão coloridos divertidos, cômicos ou muito dramáticos às produções.

Uma vez alcançado o domínio básico do instrumento (total controle da afinação e uniformidade sonora), é hora de se incorporar novos recursos sonoros às performances musicais que os permitirem. Com tantos efeitos à disposição, pode-se inovar performances a cada momento. Cabe ao intérprete saber discernir onde e quando utilizá-las.

Os estilos de época também determinam a utilização, ou não, desses recursos. O bom senso do intérprete e a pesquisa sobre o estilo possibilitam que os recursos não sejam empregados erroneamente. Por exemplo, fazer uso de recursos como o glissando em música Barroca seria totalmente inadequado. Afinal, esse estilo não inclui o glissando em sua composição estilística.

Os efeitos sonoros especiais dividem-se em grupos de duas naturezas, A combinação dos efeitos especiais das duas naturezas, somada à expressividade individual do intérprete, tornam infinitas as possibilidades sonoras do trombone:

1) Internas:

Notas duplas e multifônicos – É tido como um dos efeitos mais interessantes produzidos por um instrumento de metal, muito utilizado por solistas de música de câmara, com objetivo principal de harmonizar trechos das cadências virtuosísticas. Tal efeito pode ser obtido tocando um som e cantando outro, conseguindo como resultado uma terceira nota, dependendo da afinação. Se tocarmos uma nota do segundo harmônico do trombone e cantarmos sua terça uma oitava acima, a quinta do acorde surgirá como resultado da soma dos dois sons emitidos. Cabe ao instrumentista equalizar as notas emitidas, a fim de obter um som mais imponente ou intimista.

Dicções – Podem ser comparadas às inflexões da língua falada, em que as diferenças regionais, pátrias e étnicas constituem um conjunto que diferencia o modo de falar de cada indivíduo. Na prática, é algo similar ao sotaque, gírias e demais nuances da fala. A escolha de articulações, das mais “secas” às mais “suaves”, produzirá efeitos sonoros igualmente variados.

Vibratos – Teóricos afirmam que o vibrato surgiu como um ornamento musical. No entanto, antes mesmo de ser incorporado como um ornamento, era utilizado pelos instrumentistas de sopro para minimizar problemas de afinação, causados pelo Sistema Temperado. Para produzir o vibrato, o instrumentista pode fazer uso do diafragma, do maxilar inferior ou da vibração do instrumento tocado (o trombone tem destaque, devido ao seu sistema de varas corrediças, que permite movimentos oscilatórios controlados).

Frulatos – Este termo especial é uma palavra onomatopéica. Significa bater, girar, mexer. Pronuncia-se o “rrrrrr” no momento da produção sonora e, como resultado, obtém-se som semelhante ao ronco de um motor ou rasgado de garganta. Este recurso é muito utilizado na música contemporânea, choro “gaiato” e em especial no jazz norte-americano.

Glissandos – Este termo de origem francesa, que significa escorregando, designa o processo de tocar gradualmente as notas existentes entre os menores intervalos da música ocidental. O trombone é o instrumento da família dos metais que pode realizar os glissandos com maior excelência. No entanto, o glissando natural máximo obtido tem a extensão de uma quarta aumentada, e não de toda a extensão do instrumento, conforme mencionado nos mais renomados manuais de orquestração.

2) Externas:

Surdina – Termo utilizado para designar o acessório do trombone equivalente àquele dos instrumentos da família das cordas friccionadas, que servem para alterar o timbre e o volume sonoro. No caso dos metais, tais instrumentos poderiam chamar-se abafadores, com base no seu real efeito. As surdinas podem ser feitas de metal, madeira, papelão, plástico, fibra de vidro e outros materiais. O timbre obtido com ela é resultante do material utilizado em sua construção e diretamente proporcional ao formato.

Aparatos mecânicos, eletrônicos, etc. – Além das variedades de surdinas, podemos citar outros recursos que enriquecem o universo sonoro do trombone. O uso de chapéus, lenços, posicionamento das mãos diante da campana, imersão da campana em recipientes com água e ventiladores em frente à campana são aparatos mecânicos que complementam os vários recursos utilizáveis na performance do trombone. Trombonistas já fazem uso freqüente de câmaras de eco, reverberadores, periféricos de efeitos eletrônicos diversificados, controladores midi, computadores e sequencers, aumentando o número de timbres e possibilidades sonoras a serem explorados.

Referência Bibliográfica:

OLIVEIRA, Alciomar. O Trombone na Música Brasileira. Goiânia-GO, UFG, 1999.


Alciomar Oliveira é Professor da UNB/UFG.


Fonte: Publicado na Revista Weril n.º 140