O Acompanhamento Instrumental no Canto Congregacional

por: Silvia Schimpf

“Soam suaves hinos de gratidão ao Senhor”… Quão importante é o canto de nossos hinos, elevado a Deus por toda a congregação! No entanto, realmente soam suaves os nossos hinos? E, além disso, o fazemos com tudo o que está à nossa disposição para sermos gratos ao Senhor?

A história bíblica revela-nos o cuidado que Davi teve ao organizar os músicos para o ministério do templo de Deus, fazendo instrumentos (II Crônicas 7:6), procurando músicos aptos e organizando-os no serviço por turnos (I Crônicas 25:6,7), com vestidos de linho fino (II Crônicas 5:12) e quando todos estavam cantando e tocando, a aprovação de Deus foi sentida quando a glória do Senhor, em forma de nuvem, encheu a casa de Deus.

Encontramos nos escritos de Ellen White várias declarações reafirmando este pensamento: “Seja o talento do canto introduzido na obra. O emprego de instrumentos de música não é absolutamente objetável. Eles eram usados nos serviços religiosos dos antigos tempos. Os adoradores louvavam a Deus com a harpa e o címbalo, e a música deve ter seu lugar em nossos cultos. Isto acrescerá o interesse.” Evangelismo, 501.

Em outro lugar, quando menciona que não devemos opor-nos ao uso da música instrumental em nossa obra, recomenda que “esta parte do serviço deve ser cuidadosamente dirigida, pois é o louvor de Deus em canto” e aconselha “seja acompanhado de instrumentos de música habilmente tocados”. Evangelismo, 507.

“Habilmente tocados” – Ao comparar esta bela declaração com a triste realidade de como é realizado o canto congregacional na maioria de nossas igrejas, surge a grande e desafiante pergunta: Como fazer isto nas igrejas onde não há instrumentistas? Em muitas delas o órgão ou piano, bem tampado para não juntar pó, ficam à espera de uma mão talentosa que os façam soar, e os irmãos, com o maior dos esforços, cantam a capella procurando seguir a melodia do hino que devido às circunstâncias, saem com muitas modificações.

A seguir vou mencionar duas experiências e espero que sirvam como ideia para uma possível solução. A primeira, ocorreu faz alguns anos num distrito onde havia catorze congregações e somente uma pianista, além da esposa do pastor que havia recém-chegado. Embora quisessem, era impossível tocar em todas as igrejas. Era necessário fazer alguma coisa, e me propus a aceitar o desafio e colaborar neste projeto, multiplicando talentos.

  1. Foi solicitado às comissões de cada congregação que escolhessem duas pessoas. O grupo que se formou começou a receber aulas de música para a igreja. As aulas foram gratuitas, como um plano da igreja, mas a pessoa escolhida deveria estar disposta a dedicar uma hora diariamente com o objetivo de praticar para o Senhor. Além disso, deveria orar, pedindo a Deus sabedoria. Realmente comprovamos que Deus cumpre Sua promessa, fazendo com que dedos duros e sem prática fossem dedilhados para Sua glória.
  2. A metodologia usada era muito simples. Foi ensinado o básico para leitura de hinos facilitados: a melodia e os acordes para fazerem o acompanhamento. Com estes poucos recursos e uma boa amplificação para o órgão/teclado, (diferente do piano) obtém-se boa sonoridade.
  3. É muito importante estudar um hino desde o primeiro dia, pois este é o objetivo do curso. Este hino é tocado para os colegas do curso cantarem, e no sábado seguinte é apresentado como mensagem musical. No segundo sábado, a igreja canta um hino com o acompanhamento de um instrumento. Tocar acompanhando a igreja é mais difícil e requer precisão rítmica. É importante trabalhar com a igreja desde o início. os anciãos devem colaborar com o plano, propondo à igreja cantar os hinos aprendidos por algum tempo, e lentamente novos hinos vão sendo acrescentados a uma lista afixada na sala pastoral.

Para que a aprendizagem se torne mais eficaz poderão ser feitos arranjos de hinos para ocasiões especiais, tais como: desbravadores, décimo-terceiro sábado, natal, etc.

Ao fazer esta experiência, notamos que o grupo foi se apurando e no segundo ano ficou reduzido às pessoas que realmente entenderam a importância deste ministério e se consagraram ao trabalho que se propuseram fazer. Alguns se animaram a fazer um pequeno coral em suas igrejas, pois agora podiam ensinar as notas do hino. Outros, tornaram-se professores nas igrejas/filiais, onde ensinavam o que haviam aprendido a adolescentes que tinham interesse em estudar música, e que vieram somar ao grupo já existente. Deus abençoou este trabalho, e em pouco tempo os instrumentos começaram a ser ouvidos nas igrejas, dos quais poderia se dizer que estavam sendo “habilmente tocados”.

Algumas destas pessoas ficaram interessadas em continuar os estudos formais de música para melhor desenvolver seu talento. Gostaria de fazer um esclarecimento quanto ao estudo nestas instituições cristãs. Nelas o enfoque é diferente. Os hinos não estão incluídos no currículo escolar. Geralmente a metodologia para o estudo do piano tem objetivos diferentes ao do louvor a Deus. Por isso é importante começar a aprender no ambiente da igreja, porque ao iniciarem seus estudos nestas instituições, geralmente os irmãos desanimam-se ao não encontrar o que estão procurando: aprender a tocar hinos para acompanhar o canto congregacional.

Imagino que este plano seja fácil de ser implantado nas igrejas, ensinando o básico para algumas pessoas que sabe música, proporcionando-lhe métodos baseados em hinos facilitados, bem como os princípios de harmonia para serem feitos os arranjos.

Plano do curso em instituições educacionais

Quando chegamos à Bolívia encontramos em funcionamento um plano similar ao anterior, dado aos objetivos propostos, porém multiplicado por dez; pois, sendo uma instituição educacional que oferece o curso, pode ter mais alunos, neste caso, aproximadamente 300. Também deve ser levado em consideração o estilo musical do país; onde, além do órgão/teclado, são usados outros instrumentos nas igrejas bolivianas , como o bandolim, o acordeão e outros.

Este curso dura três verões de seis semanas. As aulas são dadas pela manhã, e as tardes são reservadas para a prática do instrumento. A instituição fica repleta de música e de irmãos vindos de todo o país. Os hinos são tocados lendo a melodia do hinário, e os irmãos são ensinados a fazer os acordes para acompanhar a melodia.

Sobre este ponto, e fazendo um parêntese, como facilitaria o trabalho de tocar os hinos se fosse feita uma revisão do nosso hinário em espanhol. Assim como foi feito com o hinário em inglês e português, a revisão possibilitaria escrever os hinos de uma maneira mais simples, pensando na execução do instrumento e não num coro a quatro vozes, em tonalidades fáceis de ler e mais graves para cantar. No momento, temos que ensinar os alunos a fazer adaptação, considerando suas possibilidades.

Voltando ao curso institucional: além do instrumento, os alunos cursam matérias teóricas que lhes dão uma pequena base para leitura musical e harmonização. Todos cantam num grande coral, onde são motivados a desenvolver a mesma atividade em sua igreja.

É um prazer ser professora nestes cursos ao ver o desejo que os alunos têm de aprender para melhor servir a Deus. Embora seja pouco tempo que temos nas aulas, o Senhor premia os esforços e realiza “milagres” nessas mãos consagradas, com resultados que não podem ser explicados de outra maneira.

Dirigindo o canto congregacional com instrumento

Foi emocionante cantar hinos na igreja de uma de nossas universidades com o acompanhamento de um órgão “habilmente” tocado, dirigindo a congregação. Em sua correta execução o organista atingiu o objetivo de unir a música e as palavras para que o louvor se tornasse mais significativo. As harmonias, a registração do órgão, a intensidade e o caráter eram mudados em cada estrofe de acordo com o sentido da letra, levando o adorador a cantar pensando na mensagem.

A arte de dirigir não é fácil, mas pode ser uma das metas dos instrumentistas que acompanham o canto congregacional. Temos a promessa de que “quando os seres humanos cantam com o Espírito e o entendimento, os músicos celestes une-se em cântico de ações de graça” (Evangelismo, 504). Acompanhar um coro de anjos pode motivar qualquer pessoa a aperfeiçoar-se para o Senhor.

Como melhorar o acompanhamento instrumental para o canto congregacional é um dos desafios de nossa igreja. Neste artigo somente apresentamos algumas ideias para esse esforço. Certamente Deus dará a criatividade necessária àquele que, com o coração sincero, colocar-se em Suas mãos para servir-Lhe.


Silvia Schimpf de Torreblanca é professora de nível superior de música, com especialidade em órgão. Fundou o Instituto de Música da Universidade Adventista da Bolívia, e atualmente é diretora do mesmo.