Estudos Bíblicos: Adoração

Estudos Bíblicos: Adoração – Lição 07 – Adoração nos Salmos

Comentários da Casa Publicadora Brasileira

por: Ruben Aguilar

A Relação entre Adoração e Louvor

Pela etimologia dos termos usados nas línguas originais em que a Bíblia foi escrita, adoração é uma atitude de reverência para com o Deus supremo. Uma significação simples e básica desse termo é manter o corpo prostrado, de joelhos dobrados, com a cabeça encostando no chão. Mas, a adoração não se restringe ao significado etimológico do termo, ou do que este pode expressar. Se assim fosse, a adoração não deixaria de ser mais do que uma simples emissão de voz, um som audível que não transmite nenhuma informação ou mensagem. Não se deve desconhecer que toda palavra, para exercer seu objetivo essencial, precisa enunciar um conceito; do contrário, essa palavra será só uma sequência de sons articulados.

A palavra adoração é um substantivo ligado ao relativo verbal adorar, que expressa uma ação. Essa ação é o conceito que a palavraadoração quer expressar; ou seja, é a exposição de formas com as quais a pessoa manifesta a atitude de adorar. Algumas dessas formas são: oração, meditação na grandeza e poder de Deus, leitura das Sagradas Escrituras, louvor, etc. O louvor, especificamente, é uma das formas mais usuais de adoração. É a maneira de expressar reconhecimento dos atributos divinos. Em geral, o louvor se manifesta mediante a exaltação, o elogio, o ato de honrar, o fato de enaltecer, aclamar com júbilo, cantar. Em todas essas manifestações predomina a vocalização ou o uso da voz. O termo hebraico traduzido como louvor é hallel, usado principalmente para se referir à expressão cantada dos Salmos. O vocábulo hebraico mencionado provém da raiz verbal halal, que literalmente pode ser traduzido comofazer barulho.

Os Salmos são uma forma de adoração a Deus mediante o louvor, ou melhor, mediante a expressão cantada. Na letra dos Salmos o compositor sacro exprime sua adoração para exaltar a misericórdia divina, aclamar os portentosos milagres em favor do povo de Israel, enaltecer os atributos de Deus e Sua Majestade, honrar a glória divina pela concessão do perdão. Não há outra maneira mais pública e sublime de louvar a Deus do que se faz através dos versos melodiosos dos Salmos. Nos poemas dos Salmos, o compositor revela o que há de mais impactante e constrangedor no âmago da sua consciência. Não é a elaboração trivial de uma espontânea exposição de sentimentos efêmeros; ao contrário, a composição de um salmo é fruto de uma bem esforçada proliferação de pensamentos que procuram traduzir a ideia principal do tema a ser cantado.

Nos salmos preservados no registro bíblico, a variedade de temas é vasta, dependendo da experiência religiosa do autor e da ocasião em que foi composto. Alguns salmos são de reconhecimento da grandeza de Deus; outros procuram refletir a realidade espiritual do perdão e aceitação divinos; um bom número procura transmitir numa versão didática os atributos de Deus. Procuremos analisar o tema de alguns salmos.

Adoremos o Senhor, Nosso Criador

Um dos problemas humanos de todas as épocas da história da civilização, e ainda atual, é a origem do Universo e, em forma sequencial, da Terra e do homem. As primeiras civilizações tratavam esse tema em harmonia com as bases de crenças mitológicas que regiam seus princípios comportamentais e modo de vida. Para a maioria desses povos, o Universo era o produto de transformações de seres míticos de um mundo sobrenatural e monstruoso, em realidades naturais. Os gregos foram os primeiros a tratar de forma racional o problema das origens, através das emissões de pensamento dos seus filósofos. Antes de Sócrates, os assim chamados pré-socráticos, como fruto das suas divagações filosóficas, afirmavam que o Universo surgiu por causa das propriedades de certos elementos, que, para uns era a água, para outros, a terra, o fogo, ou o ar. Em última análise, esses pensadores buscavam um elemento natural como causa da origem do mundo.

O filósofo Aristóteles admitia que o problema da origem do Universo poderia ser exposto mediante duas acepções: a do tiqe, o caos; e a do teleos, desígnio; que impelem as ideias do “tiquismo” (admite que a origem do Universo é resultado do acaso caótico de forças da natureza), e a da teleologia, que admite a existência do Universo como uma expressão do desígnio divino. Hoje, a grande maioria da população mundial se inclina a aceitar que o mundo foi originado pela participação de elementos materiais energizados por acaso, em caóticas combinações para formar compostos primitivos. Uma pequena porcentagem da população mundial admite que o Universo é fruto de uma criação por desígnio; ou seja que tudo que existe é produto de um plano de criação executado por Deus. Essa asseveração era a verdade transmitida oralmente pelos primeiros pais da humanidade e durante o período patriarcal. Desde a época de Moisés, a narrativa da criação foi grafada em letras indeléveis, tanto no texto sagrado como na mente dos que andam com Deus.

A narrativa da criação, conforme registrada no Gênesis, é a principal instrução sobre os atributos eternos de Deus. Nela se refletem claramente Sua onipotência, ao fazer que seres inexistentes viessem à existência; Sua onisciência, ao ditar leis para manter a vasta harmonia do Universo; Seu amor, ao permitir que o homem recebesse uma nítida mostra dos atributos divinos, como a capacidade mental, a experiência espiritual, incluindo a imortalidade antes da transgressão.

As múltiplas funções com que a natureza demonstra sua existência são respostas fiéis ao conteúdo das leis naturais impostas por Deus, o cumprimento das leis físicas em cada partícula atômica e dos órgãos e sistemas biológicos que possibilitam o equilíbrio e a harmonia do mundo; são demonstrações da obediência à vontade divina. Essa obediência se manifesta em forma de louvor audível no farfalhar da frondosa copa de uma árvore, na melodia inimitável de uma correnteza fluvial e a de uma cachoeira extravasando incontáveis volumes de água, na sinfonia da variedade de melodias trinadas das aves canoras, na luminescência dos vagalumes voando nas serenas noites, no brilho intermitente das estrelas do infinito, que advertem aos homens das suas limitações finitas.

Assim como a natureza expressa seu louvor a Deus mediante a obediência às leis físicas, também o homem, como criatura dotada de livre-arbítrio, tem o privilégio de expressar seu louvor ao Infinito mediante voz coletiva, sonora e retumbante entoando salmos e hinos de reconhecimento ao atributo criador de Deus.

Justiça no Santuário

A participação do homem em sociedade está baseada no cumprimento dos princípios de direitos e responsabilidades. Desde esse ponto de vista, são considerados direitos as faculdades legais de praticar ou deixar de praticar uma atividade. As responsabilidades são as obrigações que devem ser cumpridas em resposta às imposições da sociedade. O respeito aos direitos de cada pessoa é uma expressão de justiça. Embora os regimes governamentais garantam a vigência dos direitos da pessoa humana em todos os níveis, desde a simples comunidade familiar ou de bairro, até os da administração política das nações, a gama de conflitos sociais demonstra o desrespeito a tais direitos e, por esse fato, a falta de justiça se torna evidente.

Onde o conflito prevalece, há carência de justiça. É uma realidade inaceitável para toda pessoa que deseja viver em paz e que clama por justiça. Os conflitos no mundo alterado se manifestam de formas variadas, desde simples enganos até atentados contra a vida pessoal e sempre acompanhados de violência. Há atentados contra a pessoa em qualquer lugar sem exclusão de ninguém e, em certa medida, o clamor por justiça é universal. Pode-se admitir que a justiça se manifeste em certos casos e em circunstâncias de precariedade; mas, em geral, a falta de justiça é abrangente e sem limites.

Cristo Jesus, no Seu célebre Sermão da Montanha, patenteou a falta de justiça na experiência de vida das pessoas. Fazendo alusão à sensação vital da sede e fome, Cristo prometeu para esses a plena satisfação dessa necessidade, e de serem fartos de justiça. A verdadeira justiça não pode ser um atributo da natureza humana, pois, esta se encontra afetada e contaminada pelo mal que inibe a manifestação dessa virtude. A verdadeira justiça se expressa mediante a concessão de recompensa aos atos praticados, quer sejam bons ou maus; ou seja, é uma atribuição divina, pois só o Deus sábio e amoroso pode avaliar a qualidade dos atos humanos.

A justiça divina se manifesta no ritual do Santuário. É na solene cerimônia da Expiação que se revela o sacrifício de Cristo, na figura do Cordeiro que morre em lugar do pecador arrependido. No Santuário celestial, Cristo, ao passar do lugar santo para o santíssimo, realiza Sua tarefa de mediação em favor dos crentes e inicia o juízo investigativo que culminará com o juízo final. Esses atos são os que reivindicam a necessidade de justiça, a sede e a fome por justiça.

Sede e fome de justiça é o desejo veemente de ver estabelecida a justiça sobre os atos de cada ser humano. Nessa implantação será extinta toda crueldade, toda forma de violência; não mais se verá a atitude de prepotência assumida pelos dominadores; a arrogância, a ambição de riqueza ao preço de opressão e engano, terão seu fim; “de nada valerá a fuga ao ágil, o forte não usará a sua força, nem o valente salvará a sua vida” (Am 2:14).

Sede e fome por justiça é o desejo humilde do seguidor de Cristo que, manifestando arrependimento, espera trocar sua justiça pela justiça imaculada do Cordeiro morto na cruz. Isso será possível em cumprimento às promessas de salvação.

Quão bela será essa realidade! Digna de ser apregoada em versos majestosos; de ser cantada em infinidade de vezes, ao som de melodias de louvor; de ser entoada em salmos de adoração ao eterno Deus infinito. Exaltar em cantos a justiça divina para satisfazer àquela ansiedade de paz perene, na qual vive o devotado seguidor de Cristo.

“Como os Animais que Perecem”

O tópico que antecede os parágrafos seguintes é uma transcrição da última frase do Salmo 49. Esse poema procura colocar num só padrão de valores existenciais o homem e o animal. Quais poderiam ser as diferenças entre o homem e o animal, se ambos terminam de forma semelhante, na morte, e seus corpos se misturam ao pó da terra?

O propósito do Salmo 49 é fazer alusão às semelhanças entre o homem e o animal, mesmo sem especificar as características usadas para asseverar essa realidade e, dessa maneira, colocar em relevo a futilidade da vida estimulada pela procura de riqueza, poder e vaidade que acaba com a morte.

Os homens são “como os animais que perecem”, na base estrutural do seu organismo. Homem e animal são fisicamente constituídos por átomos e moléculas que, por sua vez, constituem células, tecidos e órgãos. Por semelhança ou por analogia, tanto os órgãos dos seres humanos, como os dos animais, executam as mesmas funções. Nesse padrão de classificação, não há diferença nenhuma. Para confirmar a semelhança entre o homem e o animal, especialistas em biologia sistemática classificam os vertebrados em mamíferos, os quais são todas as espécies que possuem coluna vertebral e se alimentam do leite materno no primeiro período de vida.

O salmista que emite seu louvor a Deus não pretende destacar essa semelhança física entre o homem e o animal porque, em termos de propósito eterno, isso é irrelevante. Sua voz de adoração é de advertência contra o despropósito de uma vida orientada à conquista de bens, poder e fama, que podem redundar em benefícios neste mundo; mas que tudo termina na morte e não oferecerá nenhuma transcendência ao interessado nessa opção. O qualificativo implícito nesse raciocínio, e que faz parte da fraseologia do salmo, é de que o homem que age dessa maneira leva uma vida “como os animais que perecem”.

Existe outra classificação encontrada na sistemática divina, e identifica o homem que adota uma vida estimulada pelos propósitos que conduzem à eternidade. Esse grupo de seres tem estrutura física de um vertebrado e, quando recém-nascido, aproveita o alimento materno para subsistir; mas mediante o uso do seu intelecto, demonstra capacidade para diferenciar entre o bem e o mal, entre obedecer e seguir seu desatino, entre construir para esta vida ou acumular tesouros para a vida eterna, entre adorar livremente a Deus ou ser escravo do maligno. Esse grupo de pessoas não pertence ao reino animal; mas sim, ao reino de Deus.

Essa revelação é digna de ser enunciada em versos e ser repetida com o fundo ritmado de uma melodia celestial. É tema que deve ser emulado com outras formas de expressão literária e com aquela variedade de sons que comovem o espírito. Assim fazendo, será sempre uma ocasião renovada para elevar a Deus o louvor a Ele devido. Glorioso é o salmo que transmite esse tão estimulante propósito de vida e, dessa maneira, motiva a exalar um sentimento de adoração ao Deus Eterno!

Adoremos ao Deus Todo-poderoso, entoando salmos que evocam Sua vontade.

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