Estudos Bíblicos: Adoração

Estudos Bíblicos: Adoração – Lição 02 – Adoração em Êxodo: Compreendendo Quem é Deus

Comentários de César Luís Pagani


Texto Central: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de Mim.” (Êxodo 20:2-3)


“Adoração no escuro” – uma concepção estranha, bizarra, porém, verdadeira. Há uma só revelação divina: Jesus Cristo. Há uma só Palavra Divina: a Bíblia. Contudo, quantos deuses diferentes são adorados pelas religiões em geral. Segundo o censo do IBGE do ano 2000, o Brasil tem 15,45% de evangélicos, isso corresponde a 26,1 milhões de crentes. Atualmente, de acordo com o Instituto Datafolha, os evangélicos já chegam a 22% da população, a saber, cerca de 40 milhões de pessoas. Muitas são as denominações e muitos os seus cultos. Há cultos em que o louvor é dado em ritmo de rock, pagode e outros gêneros musicais seculares. Há cultos em que a religião se foca na solução dos problemas financeiros dos devotos. Se você investir em ofertas um determinado valor, sua vida, prometem, mudará para plena estabilidade econômica. Outros cultos centralizam-se quase que exclusivamente na cura de enfermidades, expulsão de demônios, sermões emotivos e êxtase emocional. Outros, ainda, são aparatosos, muito cuidados cenicamente com jogos de luzes, decoração impressiva, estouro de decibéis e representações teatrais.

E por que não dizer que há muitos em nosso meio que não conhecem o Deus verdadeiro? São críticos, maledicentes, julgadores, acusadores, opositores, formais, secularistas e distanciados quilometricamente da piedade prática que é fruto do amor. João afirmou inspiradamente: “Aquele que não ama, não conhece a Deus…”

Os judeus contemporâneos de Cristo adoravam um Deus histórico que fizera aliança com o pai de sua nação. Mas não O conheciam. Quando Jesus mencionou à mulher samaritana que os judeus adoravam Aquele que conheciam, estava Se referindo aos verdadeiros adoradores e não à nação em geral. Eis o que Ele respondeu aos invejosos e obstinados fariseus: “Não Me conheceis a Mim nem a Meu Pai; se conhecêsseis a Mim, também conheceríeis a meu Pai.” (Jo 8:19). E o povo seguia muito de perto o que os fariseus ensinavam, logo…

Um judeu efraimita do Antigo Testamento é bem típico do adorador de um deus que não conhecia. Seu nome é Mica. Ele construiu um santuário na região montanhosa de Efraim. Sua mãe fez uma oferta de consagração doando-lhe 1.100 moedas de prata para que mandasse preparar uma imagem de escultura e uma de fundição (Jz 17). Eis o que ela afirmou ao dar o dinheiro ao filho: “Solenemente consagro a minha prata ao Senhor para que meu filho faça uma imagem de escultura e uma de fundição.” (v. 3). O contexto revela que Mica possuía uma “casa de deuses”. Adorava tudo, menos o Deus verdadeiro.

Para adorar em espírito e verdade ao Deus Vivo, é preciso conhecê-Lo, saber quem Ele é, o que pensa, como age, qual é o Seu caráter e quais os Seus atributos.

O Senhor Jeová não poupou revelações, recursos e meios para fazer-Se conhecer pelo homem. Ninguém, absolutamente ninguém do dia final de acerto de contas poderá apresentar defesa alegando que não teve chance de conhecer o Criador.


Domingo
Terra Santa
(Êxodo 3:1-15)

A sarça (espinheiro) do deserto estava situada no Monte Sinai (2298m de altura), até então uma elevação comum pertencente à região montanhosa chamada hoje em árabe de Jebel El Lawz, localizada bem ao sul da península do Sinai.

Um espinheiro e um monte granítico sem muita importância geopolítica na época. Mas o que fez desse abandonado monte uma terra santa. A presença do Senhor dos Exércitos nele. A sarça também tornou-se terreno tão sagrado quanto a sala do trono celestial, porquanto o Anjo (Deus Filho) do Senhor apareceu em seu meio.

O Senhor é fogo consumidor. Sua glória irradia tal energia que é impossível ser tolerada pela matéria. Moisés estava numa das planuras do monte com os rebanhos de Jetro, quando percebeu um clarão à distância. Curioso, o velho pastor foi ver o espinheiro queimar. Mas, incrível! Ele não era consumido pelo fogo. Isso não fazia sentido. A combustão espontânea não era incomum na escassa vegetação do Sinai, localizado numa zona tórrida.

Tentou aproximar-se mais alguns passos e se deteve porque a “sarça falou”: “Não te chegues para cá. Tira as sandálias dos pés, pois o lugar em que estás é terra santa.” (Ex 3:5)

Elementos fundamentais da verdadeira adoração

1. A presença divina. Se Deus não estiver presente na congregação por causa dos pecados do povo, por sua apostasia ou irreverência, não existe qualquer adoração. Pode haver milhares de adoradores, porém não há culto – pelo menos o verdadeiro. “Reverência, respeitoso temor e tremor são as atitudes fundamentais para nós, a fim de nos envolvermos no verdadeiro culto de adoração.”

2. A comunicação divina. Deus fala e o povo ouve. Em nossos dias Deus usa os pastores, os líderes da igreja ou mesmo membros leigos (não gosto dessa expressão, visto que leigo também é sinônimo de ignorância. Prefiro membros da igreja não consagrados por imposição das mãos ou não escolhidos para fazer parte da diretoria congregacional). Um ponto deve ser destacado: Deus fala através de Sua Santa Palavra. Se o comunicador não se fundamenta nos Escritos Santos, está ele fazendo um discurso em nome de Deus, mas sem Sua autorização. A revelação do Senhor é condição sine qua non como elemento adoracional.

3. Ouvintes adoradores. Se Deus fala, o povo tem de ouvir. Para ouvir, é preciso concentração sob um ambiente silencioso. “O Senhor, porém, está no seu santo templo; cale-se [hacah = fique em silêncio] diante dEle toda a terra.” (Hb 2:20) Atmosfera ruidosa é distrativa e abafa a voz do Senhor. Não somente isso: conversinhas paralelas tratando de assuntos não condizentes com o momento sacro, risinhos e cochichos, mexericos e olhares para os lados, são ruídos interferentes na comunicação. “Guarda o pé, quando entrares na Casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal.” (Ec 5:1)

4. O amor de Deus manifestado no culto. O fato de Deus falar a Seu povo é um ato de extremado amor, muito embora a mensagem seja repreensiva e até ameaçadora. No “sermão” feito por Deus a Moisés Ele mostra estar ciente dos sofrimentos de Seu povo e dispõe-Se a intervir. Faz promessas condicionais e incondicionais.

5. Instruções minuciosas. Um sermão bem alicerçado na Palavra Divina transmite preciosas instruções da parte de Deus. São comunicações de Sua perfeita vontade. E quando Deus fala, aprecia ser obedecido. Não para mostrar Sua autoridade, mas para o maior bem dos adoradores.

6. Diálogo com Deus. Sim, Deus nos fala por Sua Palavra e nos Lhe respondemos em oração. Isso é comunhão. Ore enquanto ouve os Santos Pensamentos e peça ao Senhor que Ele transforme Seu querer em sua vontade pessoal, ou seja, que o seu prazer seja fazer aquilo que Deus pede.


Segunda
A Morte dos Primogênitos: Páscoa e adoração
(Êxodo 12:1-36)

Páscoa, do hebraico Pessach, tem o significado de “passagem”. Em inglês o termo hebraico é vertido como passover ou “passar sobre”. A ação do anjo destruidor era voar por todo o Egito e desviar-se das casas assinaladas com o sangue remissório, mas eliminar a vida de todos os primogênitos humanos e animais pertencentes ao povo egípcio, incluindo o herdeiro de Faraó.

As dez pragas foram juízos contra os “deuses do Egito” e a nação que, supostamente, protegiam (Ver comentários atinentes na seção “Apêndice”).

A justiça pelo sangue de Cristo é claramente exposta nas atitudes que Deus ordenou aos israelitas. A ausência do sangue de uma vítima inocente nos umbrais e na verga da porta era morte certa. Deus puniu os pecados dos egípcios. Sabemos que muitos egípcios e estrangeiros que ali estavam acompanharam Israel na fuga de sua pátria (Ex 12:38). É possível que essa gente tenha procurado abrigo nas casas dos israelitas, ou acreditando na realidade da praga ameaçada, tenham aplicado sangue nas portas, embora não sabendo bem de seu significado. Lembremo-nos de que eles já tinham testemunhado nove juízos.

Nomes cobertos por sangue

Quando os hebreus imigraram para o Egito, eles viviam em tendas. Todavia, com o tempo eles aprenderam a construir casas (provavelmente como parte de seu trabalho escravo) e o costume egípcio de fazer casas de alvenaria com os batentes das portas talhados em pedra e com os nomes de todos os moradores da casa gravados em seus umbrais e verga. Quando Moisés retornou ao Egito, ele encontrou seu povo vivendo em casas e não mais em tendas. Eles tinham muito a desaprender e as pragas fariam parte de seu processo de aprendizado.

Ao requerer Deus que os israelitas marcassem com sangue as portas, eles o tomaram do cordeiro pascal. O Senhor lhes pedia que cobrissem seus nomes com o sangue do cordeiro. Fazendo isso, estavam aprendendo os rudimentos da salvação. Seus nomes na pedra não lhes garantiam vida futura; somente o sangue do cordeiro poderia fazer isso. De fato, nenhum membro de sua família sobreviveria sem ele à noite.

Também precisamos aprender a mesma lição. Importa muito onde nosso nome está escrito. “E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo.” (Ap 20:15) Esse livro também é chamado de o “Livro da Vida do Cordeiro” (Ap 21:27). Não é difícil ter nossos nomes inscritos nesse livro; simplesmente precisamos aceitar o sangue do Cordeiro, que assumiu o nosso lugar.

Naturalmente, há mais em nossa caminhada com Deus do que isso, mas tudo começa aí. Os israelitas deram início ao êxodo do Egito colocando o sangue do cordeiro pascal sobre seus nomes, então começaram sua jornada seguindo a Deus. O mesmo vale para nós. Nossa caminhada pode ser longa e difícil, mas podemos evitar a destruição do mesmo modo que os israelitas o fizeram – principiando nossa jornada com os nomes cobertos com o sangue do Cordeiro.

A única segurança para os israelitas era o sangue nas ombreiras e verga das portas. Deus disse: ‘Quando Eu vir o sangue passarei por vós. ‘ Êx 12:13. Todos os outros dispositivos de segurança seriam inúteis. Nada, a não ser o sangue nas ombreiras das portas, vedaria a entrada do anjo da morte. Só há salvação para o pecador no sangue de Jesus Cristo, o qual nos purifica de todo pecado.”

Há uma completa e minuciosa exposição das medidas a serem tomadas para a evitação da morte dos primogênitos judeus. A adoração a Deus pelos israelitas nesse episódio foi marcada pelo estrito respeito e acatamento das ordens de Senhor (Ex 12:28). Quem obedece aos preceitos e mandamentos divinos honra ao Senhor; cultua-O.

Havia uma liturgia no cerimonial da primeira páscoa que deveria ser perpetuada por todas as vindouras gerações do povo. A ingestão de pães sem fermento (símbolo do pecado) durante sete dias mostrava participação do Pão da Vida (Jesus Cristo) que, em tudo, como nós, foi tentado, mas sem pecado. Um dos propósitos da adoração é alimentar-se de Cristo e de Sua vida imaculada.

Comer a páscoa com ervas amargas (símbolo do sofrimento no Egito), com a carne do cordeiro (símbolo do corpo de Cristo), significava receber a salvação. “Eu Sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne.” (Jo 6:51)

Outro aspecto interessante é que a refeição foi feita com os israelitas já totalmente vestidos, calçados e preparados para a saída. Terminada a sagrada refeição, deveriam aguardar a ordem de marcha e sair apressadamente do Egito, da terra do pecado e do cativeiro.

“Os israelitas obedeceram às instruções que Deus dera. Rápida e secretamente fizeram os preparativos para a partida. Suas famílias reuniram-se, o cordeiro pascal foi morto, a carne foi assada ao fogo, e preparados os pães asmos e as ervas amargosas. O pai e sacerdote da casa aspergiu o sangue nas ombreiras, e reuniu-se à família dentro de casa. Às pressas e em silêncio comeu-se o cordeiro pascal. Com temor respeitoso, o povo orava e vigiava, estando o coração do primogênito, desde o homem forte até a criancinha, a palpitar de um terror indefinível. Pais e mães cingiam nos braços seus amados primogênitos, ao pensarem no golpe terrível que deveria ser desferido aquela noite. Mas nenhuma habitação de Israel foi visitada pelo anjo distribuidor da morte. O sinal de sangue – sinal de proteção de um Salvador – encontrava-se em suas portas, e o destruidor não entrou.” PP, 279.

O Senhor dos Exércitos deu uma ordem tríplice Seu povo que está prestes a deixar este mundo corrompido. Essa ordem serve para os crentes e também servir para os descrentes – É a tripla mensagem angélica (Ap 14:6-12). Válida para os de dentro e os de fora. Pés calçados com a preparação do evangelho da paz, lombos cingidos com a couraça da justiça de Cristo, pressa em dar a mensagem final, cajado na mão (apoio da Palavra de Deus). Já é hora de ir embora da terra de escravidão.


Terça
Não Terás Outros Deuses
(Êxodo 20:1-6)

Em realidade, não existem outros deuses. Há, sim, ídolos ou objetos de veneração por parte dos seres humanos.

O primeiro ídolo – Anjos que pertenciam aos exércitos do Senhor veneraram Lúcifer e o deificaram, preferindo aceitar seu governo e opondo-se ao culto e ao serviço do Deus verdadeiro. No Céu de luz surgiu o primeiro ídolo. Fascinantemente estranho!

Deus tem ciúmes de nós. Leia Ezequiel 8:3. Está claro com essas palavras que Deus não tolera a infidelidade. Ele quer exclusividade em nosso amor. Faz questão de que amemos nossos semelhantes e expressemos afeto a todos, até mesmo aos animais, desde que Ele venha em primeiro lugar porque é a Fonte suprema do amor verdadeiro. Sem amor ao Senhor todo sentimento assemelhado que possamos manifestar não passa de atitude “politicamente correta”. Positivamente, queremos obter algo em troca desse afeto.

O Espírito Santo tem ciúmes de nós: “Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que Ele fez habitar em nós?” (Tg 4:5)

Digamos retoricamente que Deus tem ciúmes ou “receio” de nos perder. Se somos amados por Ele com tal intensidade que esse amor se compara ao amor que Deus tem por Cristo, não é de estranhar a reação divina. O ciúme de Deus não tem termos de comparação com o ciúme humano. Ele nos quer com desejo infinito.

Não terás outros deuses…

“Jeová, o Ser eterno, existente por Si mesmo, incriado, sendo o originador e mantenedor de todas as coisas, é o único que tem direito a reverência e culto supremos. Proíbe-se ao homem conferir a qualquer outro objeto o primeiro lugar nas suas afeições ou serviço. O que quer que acariciemos que tenda a diminuir nosso amor para com Deus, ou se incompatibilize com o culto a Ele devido, disso fazemos um deus.” PP, 305. Egoísmo ou culto ao ego também é transgressão do primeiro mandamento.

Desde o começo de seu domínio neste mundo, Satanás tem estado a criar mitologias em cujo bojo há fartas “divinotecas” ou coleções de deuses. Temos as mitologias: grega, romana, hindu, celta, indígena, africana, egípcia, nórdica, maia, inca, asteca e milhares de outras. Modernamente, encontramos a mitologia da falsa ciência, das filosofias humanas, dos ensinos evolucionistas ou destituídos do Deus verdadeiro. Há também a mitologia horoscopista com seus deuses-signos. Sem querer extrapolar muito, não seria forçar o raciocínio dizer que existe até há mitologia cristã. O número de santos venerados como deuses é desconhecido. Há um ser humano que viveu uns poucos anos no passado e que é mais reverenciado e adorado que o bendito Salvador e Redentor da humanidade. Poderíamos também falar do deus das bebidas alcoólicas, do deus das drogas, do deus dos divertimentos e baladas, do deus do ventre, do deus do dinheiro, dos deuses esportivos, artísticos, políticos e outros. Neste mundo não faltam deuses para disputar o amor dos homens.

Quando um pregador apresenta uma mensagem bíblica que não faz jus à revelação do Deus vivo, está criando e incrementando um mito. Um Deus diferente dAquele que Jesus apresentou em Sua vida e ensinos não passa de ídolo forjado por homens, ainda que endossado por ministros evangélicos e teólogos.

“O segundo mandamento proíbe o culto ao verdadeiro Deus por meio de imagens ou semelhanças. Muitas nações gentílicas pretendiam que suas imagens eram meras figuras ou símbolos pelos quais adoravam a Divindade; mas Deus declarou que tal culto é pecado. A tentativa de representar o Eterno por meio de objetos materiais rebaixaria a concepção do homem acerca de Deus. A mente, desviada da perfeição infinita de Jeová, seria atraída para a criatura em vez de o ser para o Criador. E, rebaixando-se suas concepções acerca de Deus, semelhantemente degradar-se-ia o homem.” Obra citada, 306.

Os que querem ser adoradores do verdadeiro Deus devem sacrificar todo ídolo. Jesus disse ao doutor da lei: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento.” Mt 22:37 e 38.” CPPE, 329.


Quarta
“Estes São Teus Deuses”
(Êxodo 32:1-6)

Fica claro nesse episódio que Israel não aprendera o culto de fé, a adoração ao Invisível. Eles precisavam de algum referencial que pudessem ver. Quando Moisés, seu referencial de Deus, ficou ausente por 40 dias, houve um desnorteio espiritual. “Vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte…”, eles rogaram ao líder-adjunto, Aarão, que lhes desse outro referencial porque se sentiam perdidos. Não sugeriram sequer a Aarão que tomasse interinamente o lugar de seu irmão, mas preferiram uma imagem. “Faze-nos deuses que vão adiante de nós…” Embora soubessem que havia um só e único Deus reivindicaram que, sendo possível, fossem feitos vários deuses nos quais pudessem colocar sua confiança.

Religião do “andar pela vista” – Essa era a religião da maior parte dos hebreus que saíram do Egito. Estavam tão familiarizados com estátuas e altares de deuses pagãos, que não conseguiam se apropriar do novo conhecimento de Jeová, que os tirara com façanhas, milagres e atos inauditos da terra da servidão. Eles testemunharam a queda das pragas sobre os escravizadores, a morte de seus primogênitos, a abertura sobrenatural do Mar Vermelho, o tragamento dos exércitos de Faraó pelas mesmas águas que lhes foram quais muros ao redor. Assistiram as águas amargas de Mara tornarem-se doces, participaram do maná que lhes caía dos céus à mesma hora todos os dias; viram sair água da dura rocha e sabiam que isso não se devera ao golpe do cajado de Moisés. Precisavam ver para crer.

Quando Deus desceu sobre o Sinai, o monte de quase 2.300m de altura sacolejava com um junco ao vento; trevas cobriram a elevação e ouviram a voz do Senhor como de trovão.

Ainda assim ficaram angustiados pela ausência daquele a quem atribuíam poderes especiais. Ressalte-se aqui uma lição importante para nós, adventistas. Se você põe sua confiança no pastor, no ancião, no (a) professor/professora da escola sabatina, na organização da igreja, mas não tem familiaridade com o Deus que eles representam, sua fé não resistirá a provas mais severas.

Quantos negligenciam conhecer a verdade por si mesmos, apoiando-se nos mestres da igreja para alimentar sua religião? Não se humilham diante de Deus, não Lhe estudam diligentemente a Palavra, não estão interessados em se aprofundar na verdade temendo obter consciência de maiores responsabilidades, as quais não estão dispostos a arrostar.

Se nossa alma não estiver firmemente ancorada em Cristo, conhecendo-O como somos conhecidos, o naufrágio na fé e a descambação para a idolatria serão consequências inexoráveis.

Em a narrativa do capítulo 32 ficamos pasmados diante da atitude subserviente e covarde de Aarão, que era o pastor daquele rebanho. Aarão tomou imediatas providências para satisfazer o povo ao invés de censurá-lo por seu desejo idolátrico. Sugeriu-lhes até onde encontrar a matéria-prima para a obra de arte que, com seu talento, iria fazer. Ademais, fez um altar e o colocou diante do deus Ápis (o bezerro).

“Arão temia pela sua própria segurança; e, em vez de manter-se nobremente pela honra de Deus, rendeu-se às exigências da multidão. Seu primeiro ato foi ordenar que os brincos de ouro fossem reunidos dentre todo o povo e trazidos a ele, esperando que o orgulho os levasse a recusar tal sacrifício. Voluntariamente, porém, cederam os seus ornamentos; e destes fez um bezerro fundido, à imitação dos deuses do Egito. O povo proclamou: ‘Estes são os teus deuses, ó Israel, que te tiraram da terra do Egito.’ E Arão vilmente permitiu se fizesse este insulto a Jeová. Fez mais. Vendo com que satisfação o deus de ouro era recebido, construiu um altar diante dele, e fez esta proclamação: ‘Amanhã será festa ao Senhor.’ Êx 32:4 e 5. O anúncio foi apregoado por trombeteiros, de grupo em grupo pelo acampamento todo. ‘E no dia seguinte madrugaram, e ofereceram holocaustos, e trouxeram ofertas pacíficas; e o povo assentou-se a comer e a beber; depois levantaram-se a folgar.’ Êx 32:6. Sob o pretexto de realizarem uma ‘festa ao Senhor’, entregaram-se à glutonaria, à folgança licenciosa [libertinagem].” PP, 317.

Moisés repreende duramente o irmão mentiroso – “Ele [Aarão] queria levar Moisés a crer que se operara um prodígio: que o ouro fora lançado no forno, e por um poder sobrenatural se transformara em um bezerro. Suas desculpas e prevaricações, porém, de nada valeram. Foi com justiça tratado como o principal culpado.” Idem, 320.

A loucura de Aarão custou a vida de três mil homens.


Quinta
“Mostra-me a Tua Glória”
(Êxodo 33:12-23)

Ora, mas Moisés não havia visto a tremenda e terrível glória de Jeová no alto do Sinai? Não a viu nas pragas e na monumental saída do Egito? Não a viu na coluna de nuvem e de fogo?

Moisés conhecia bem o poder de Deus, mas queria mais. Queria ter um vislumbre e uma revelação do caráter divino. Tanto era esse o objetivo, que o Senhor o satisfez fazendo com que o grande líder O visse pelas costas e ouvisse da própria boca do Senhor uma sucinta exposição de Seu santíssimo caráter: “E, passando o Senhor por diante dele, clamou [proclamou em alta voz]: Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocente o culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até à terceira e quarta geração!” (Ex 34:6, 7)

A cena foi tão impressiva que Moisés prostrou-se em terra e adorou a Deus. Ficou tão abalado com a santidade divina que confessou seus pecados e os do povo, rogando graça e compaixão para que Jeová continuasse com o povo.

“A Palavra de Deus revela o Seu caráter. Ele mesmo proclamou Seu infinito amor e misericórdia. Quando Moisés orou: ‘Rogo-Te que me mostres a Tua glória’, o Senhor respondeu: ‘Eu farei passar toda a Minha bondade por diante de ti.’ Êx 33:18 e 19. Essa é a Sua glória. Ele passou diante de Moisés, e proclamou: ‘Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado’ (Êx 34:6 e 7), Ele é ‘longânimo e grande em benignidade’ (Jn 4:2), ‘porque tem prazer na benignidade’ (Mq 7:18). Deus ligou a Si nosso coração por inúmeras provas no Céu e na Terra. Pelas obras da natureza, e os mais profundos e ternos laços terrestres que pode imaginar o coração humano, procurou Ele revelar-Se a nós. No entanto, estas coisas só muito imperfeitamente representam o Seu amor. Não obstante todas essas provas, o inimigo do bem cegou o espírito dos homens, de maneira que foram levados a olhar a Deus com temor,considerando-O severo e inexorável. Satanás levou o homem a imaginar Deus como um Ser cujo principal atributo fosse a justiça severa – um rigoroso juiz, e credor exigente e cruel. Representou o Criador como um ser que espreita desconfiado, procurando discernir os erros e pecados dos homens, para que possa trazer juízos sobre eles. Foi para dissipar essa negra sombra, revelando ao mundo o infinito amor de Deus, que Jesus baixou para viver entre os homens.” CC, 10-11.


APÊNDICE

As 10 pragas e os deuses egípcios

  1. O rio Nilo transformado em sangue representava o julgamento divino de Knum (Nu), o deus guardião do rio Nilo. Hapi, Espírito do Nilo. Osíris, doador da vida, cuja corrente sangüínea era o Nilo. (7:14-21). Os egípcios tributavam honras divinas ao rio Nilo, e reverenciavam-no como o primeiro dos seus deuses. Diziam que ele era o rival do céu, visto como regava a terra sem o auxílio de nuvens e de chuva. O fato de se tornar em sangue a água do sagrado rio, durante sete dias, era uma calamidade, que foi causa de consternação e terror. (Ex 7.14…).
  2. A multiplicação das rãs era o julgamento de Hect, a deusa da ressurreição, que também ajudava parturiente e tinha a forma de rã. (8:1-15) Na praga das rãs foi o próprio rio sagrado um ativo instrumento de castigo, juntamente com outros dos seus deuses. A rã era um animal consagrado ao Sol, sendo considerada um emblema de divina inspiração nas suas intumescências. O repentino desaparecimento da praga foi uma prova tão forte do poder de Deus, como o seu aparecimento. (Ex 8.1…)
  3. Através dos piolhos Deus zombava de Geb, o deus da terra. (8:16-19) A praga dos piolhos foi particularmente uma coisa horrorosa para o povo egípcio, tão escrupulosamente asseado e limpo. Dum modo especial os sacerdotes rapavam o pelo de todo o corpo de três em três dias, a fim de que nenhum parasito pudesse achar-se neles, enquanto serviam os seus deuses. Esta praga abalou os próprios magos, pois que, em conseqüência da pequenez desses insetos, eles não podiam produzi-los pela ligeireza de mãos, sendo obrigados a confessar que estava ali o “dedo de Deus” (Ex 8.19).
  4. As moscas desmoralizavam Sacarob, o deus inseto. (8:20-32). Este milagre seria, em parte, contra os sagrados escaravelhos, adorados no Egito. Em Gósen não havia praga (Êxodo 8:22-23).
  5. A peste (mortes dos rebanhos) mostrava a impotência de Ápis, o deus-touro, personificação viva de Ptá (o deus criador) e símbolo da fertilidade. Hátor (Tot), a deusa-mãe, que tinha forma de vaca (9:1-7) A quinta praga se declarou no dia seguinte, em conformidade com a determinação divina (Ex 9.1). Outra vez é feita uma distinção entre os egípcios e os seus cativos. O gado dos primeiros é inteiramente destruído, escapando à mortandade o dos israelitas. Este milagre foi diretamente operado pela mão de Deus, sem a intervenção de Arão, embora Moisés fosse mandado a Faraó com o usual aviso. Israel é preservado (Êxodo 9:4);
  6. As úlceras (feridas purulentas) apontavam para a fraqueza de Imotepe, deus da medicina. (9:8-12) A sexta praga mostra que, da parte de Deus, tinha aumentado a severidade contra um monarca obstinado, de coração pérfido. E aparecia agora também Moisés como executor das ordens divinas; com efeito, tendo ele arremessado no ar, na presença de Faraó, uma mão cheia de cinzas, caiu uma praga de úlceras sobre o povo. Foi um ato significativo. A dispersão de cinzas devia recordar aos egípcios o que eles costumavam fazer no sacrifício de vítimas humanas, concorrendo o ar, que era também uma divindade egípcia, para disseminar a doença.
  7. A Saraiva (granizo) foi dirigida à Ísis, deusa da vida, Nute,deusa do céu. Sete protetores dos plantios. (9:13-35) Houve, com certeza. Algum intervalo entre esta e a sexta, porque os egípcios tiveram tempo de ir buscar mais gado à terra de Gósen, onde estavam os israelitas. É também evidente que os egípcios tinham por esta ocasião um salutar temor de Deus de Israel, e a tempo precaveram-se contra a terrível praga dos trovões e da saraiva.
  8. A praga dos gafanhotos foi dirigida contra o deus Serápis, que era o protetor da terra contra os gafanhotos. Esta praga atacou o reino vegetal. Foi um castigo mais terrível que os outros, porque a alimentação do povo constava quase inteiramente de vegetais. Nesta ocasião os conselheiros de Faraó pediram com instância ao rei que se conformasse com o desejo dos mensageiros de Deus, fazendo-lhes ver que o país já tinha sofrido demasiadamente (Ex 10.7). Faraó cedeu até certo ponto, permitindo que somente saíssem do Egito os homens; mas mesmo isto foi feito com tão má vontade que mandou sair da sua presença a Moisés e Arão (Ex 10.7-11). Foi então que uma vez mais estendeu Moisés o seu braço à ordem de Deus, cobrindo-se a terra de gafanhotos, destruidores de toda a vegetação que tinha escapado da praga da saraiva. Outra vez prometeu o monarca que deixaria sair os israelitas, mas sendo a praga removida, não cumpriu a sua palavra. Faraó se arrepende, mas volta atrás.
  9. A praga das Trevas desmoralizava Rá, Áten, Atum e Hórus,algum tipo de deus – sol.(10:1-20).
    Três dias de escuridão. A praga das trevas mostraria a falta de poder do deus do sol, ao qual os egípcios prestavam culto. Caiu intempestivamente a nova praga sobre os egípcios, havendo uma horrorosa escuridão sobre a terra durante três dias (Ex 10.21). Mas, os israelitas tinham luz nas suas habitações. Faraó já consentia que todo o povo deixasse o Egito devendo, contudo, ficar o gado. Moisés, porém, rejeitou tal solução. Sendo dessa forma a cegueira do rei manifesta, anunciou a última e a mais terrível praga que seria a destruição dos primogênitos do Egito (Ex 10.24-11.8). Afastou-se Moisés irritado da presença de Faraó cujo coração estava ainda endurecido Faraó volta a endurecer seu coração (Êxodo 10:27-29).
  10. Finalmente a praga da morte dos primogênitos que marcou a partida do povo de Israel, foi o golpe final contra a nação egípcia, pois por meio dela o Deus verdadeiro demonstrava a impotência e a falsidade do próprio Faraó, que era pelos seus súditos como um deus – rei. Significava que toda a nação corria risco de ser totalmente aniquilada, pois o primogênito representava toda a raça egípcia. (11:1; 12:36) Foi esta a última e decisiva praga (Ex 11.1). E foi também a mais claramente infligida pela direta ação de Deus, não só porque não teve relação alguma com qualquer fenômeno natural, mas também porque ocorreu sem a intervenção de qualquer agência conhecida. Mesmo as famílias, onde não havia crianças, foram afligidas com a morte dos primogênitos dos animais. Os israelitas foram protegidos, ficando livres da ação do anjo exterminador, pela obediência às especiais disposições divinas.

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