Música no Evangelismo e na Igreja

por: Dario Pires de Araújo [1]

Cristo confiou à Igreja duas grandes fases no trabalho de salvação: 1. O evangelismo, que Ele próprio comparou a uma pescaria, preocupando-se com o pecador até sua conversão e batismo; 2. A obra pastoral, que toma o recém-nascido converso e o encaminha na senda da santificação até que ele chegue à unidade da fé, à maturidade cristã.

Os objetivos e o material humano são os mesmos no evangelismo e na igreja, pois todos visam à salvação do mesmo homem, mas o tempo e a situação são totalmente diferentes; seria, portanto, tão ridículo pensar que a música no evangelismo devesse ser a mesma da usada na igreja, quanto querermos limpar e preparar um peixe com a rede ou o anzol que o pescou. A música assume funções diferentes, apesar de sempre dever corroborar com o sentido da pregação da verdade, tornando-a mais impressionável.

O mais lógico, portanto, seria que cada equipe evangelística tivesse seu líder musical, ou equipe musical, seu repertório próprio em estreita ligação com os temas apresentados, e seu hinário próprio que seria usado sempre em função dos assuntos como resposta e participação do público, condicionando-o a se integrar num grupo que tomou decisões individuais.

Há temas que os conferencistas usam, em geral no princípio da série, que não são propriamente religiosos ou doutrinários; não há necessidade de a música ser religiosa nestas ocasiões. Há muita música secular, erudita, de bom caráter para esse fim.

Apesar de a música no evangelismo ter a função atrativa e apelativa, se for religiosa, deve estar subordinada aos princípios da música religiosa, os mesmos que regem o caráter e a execução daquela praticada na igreja. Não necessitamos tanto de mais luz sobre o assunto como de praticarmos a revelada no Espírito de Profecia e seguir as prescrições do Manual da Igreja. Os princípios são gerais sobre a música sacra, quer ela seja utilizada numa série de conferências, quer na igreja.

Não basta crermos que o Espírito Santo inspire tudo o que fazemos em matéria de música. Outras religiões, acentuadamente as chamadas populares, crêem piamente que suas manifestações sobrenaturais e de cura sejam obra do Espírito Santo, e outras dispensam até o preparo para o ministério, confiando que o Espírito fará por eles o que poderiam fazer por si.

Há necessidade de uma constante comparação entre os princípios e o que praticamos, para ver se estamos dentro ou longe do que Deus espera.

Devemos considerar estes princípios sob quatro aspectos diferentes:

  1. Que músicas, ou que material usar?
  2. Que objetivos e efeitos alcançar?
  3. Como praticar à música?
  4. Quem, quais as pessoas que a devem ou não praticar?

Sobre estes aspectos queremos apresentar um resumo de itens claros que podemos considerar como princípios da música religiosa, e que oferecem oportunidade para meditação e conclusões. São tão objetivos que dispensam comentários, e tão claros que não deixam dúvidas; não esgotam o assunto, mas fornecem uma base suficientemente sólida.

I. Que Música Usar[2]?

  1. A que o Espírito de Deus produzir no íntimo. (1T, 154).
  2. Louvor e ação de graças. (7T, 244).
  3. Os remidos encontrarão seu cântico na cruz de Cristo. (DTN, 13).
  4. “Deus deseja que toda a vida de Seu povo seja uma vida de louvor”. (PJ, 299).
  5. Canto correto e harmonioso. Música cantada e tocada em harmonia. (1T, 146; 4T, 71; 6T, 62).
  6. Música que tenha beleza, sentimento e poder. (4T, 71).
  7. “Valsas frívolas não eram ouvidas, nem canções petulantes que poderiam exaltar o homem e desviar a atenção de Deus, mas sagrados e solenes salmos”. (FCE, 97 e 98; RH, Vol. 77; nº 44, de 30-10-1900).
  8. “A música profana ou de natureza duvidosa e questionável nunca deve ser introduzida nos serviços da igreja”. (MI, 147).
  9. Cânticos em harmonia com o sermão. (MI, 147).

II. Que Objetivos e Efeitos Alcançar?

  1. Deus seja glorificado. Honra a Deus e ao Cordeiro. (1T, 146; 2T 266).
  2. Beneficiar a igreja. Exercer influência para o bem. (1T, 146; 4T, 71).
  3. Impressionar favoravelmente os descrentes e aumentar o interesse. (1T, 146; 6T, 62).
  4. Estimular para a santidade e a espiritualidade. (1T, 497).
  5. Educar a mente e preparar para o cântico dos Céus. (2T, 265).
  6. Preparar o povo para uma igreja melhor. (5T, 491).
  7. Salvar almas. (5T, 493; 9T, 38).
  8. Erguer os pensamentos ao que é puro, nobre e edificante, e refinar as maneiras e naturezas rudes e incultas. (4T, 73; PP, 637; Ed. 166).
  9. Despertar na alma devoção e gratidão a Deus. (PP, 637).
  10. Acender o amor, a fé, o ânimo, a esperança, o arrependimento e a alegria no coração do povo de Deus. (PP. 86 e 687; Ed. 38 e 162).
  11. Libertar da idolatria. (PP, 762).
  12. Arma contra a tentação e o desânimo. (Ed. 165; CBV, 218 e 219).
  13. “Coisa alguma tende a promover mais a saúde do corpo e da alma do que um espírito de gratidão e louvor”. (CBV, 216).
  14. Fixar na mente a Lei, as lições e verdades espirituais. (Ed. 38, 41, 42 e 166).

II. Como Praticar a Música?

  1. Com espírito e com entendimento, com expressão correta, sentindo o espírito do cântico, e pensando nas palavras. (1T, 106; 9T, 143 e 144; PP, 637; Ed. 166).
  2. Melodioso, com clareza, distinta elocução e não com linguagem ininteligível e dissonância. (5T, 493; 1T, 146).
  3. Audível e compreensivelmente, com entonação clara e pronúncia correta, boa dicção, hinos suaves e puros, sem aspereza e estridência. (9T, 143 e 144; Ed. 166).
  4. De maneira que não tome o lugar da oração. Ore mais do que cante. (1T, 513).
  5. Com disciplina, sistema, ordem e planejamento. (4T, 71; RH, Vol. 60, nº 30, de 24-7-1883).
  6. Reverentemente. (4T, 73).
  7. Acompanhado de instrumentos habilmente tocados. (9T, 143 e 144).
  8. Tão próximo quanto possível da harmonia dos coros celestiais. (PP, 637).
  9. Em plenitude e sinceridade de coração. (PJ, 299).
  10. A maneira ritmada de executar o canto não honra a Deus e não beneficia a verdade. (RH, Vol. 60, nº 30, de 24-7-1883).
  11. Deve ser bem ensaiado. (RH, Vol. 60, nº 30, de 24-7-1883).
  12. Exibicionismo de música instrumental é o que há de mais ofensivo à vista de Deus. (RH, Vol. 76, nº 46, de 14-11-1899).
  13. “Deus deseja que nosso louvor ascenda a Ele levando o cunho de nossa própria personalidade”. (CBV, 80).
  14. De tal maneira que os músicos celestiais possam se unir ao cântico. (9T, 143 e 144).

IV. Quem a Deve, ou Não, Praticar?

  1. Em geral, por todos; raramente por uns poucos ou por um só. (7T, 115 e 116; 9T, 144).
  2. Consagrados que façam melodia no coração. (RH, Vol. 76, nº 46, de 14-11-1899).
  3. Não por artistas mundanos, ou exibições teatrais para despertar interesse. (9T, 143).
  4. Os pequeninos, nem que seja uma única estrofe. (Ed., 185).
  5. “Aqueles que não possuem discernimento para a escolha de músicas apropriadas ao culto divino não devem ser escolhidos”. (MI, 147).
  6. No coro, membros da igreja, de comportamento sóbrio e digno. (MI, 148).
  7. “Pessoas de consagração duvidosa ou caráter questionável, ou os que estejam impropriamente vestidos, não devem ter permissão de participar das partes musicais em nossos serviços”. (MI, 148).

Notas:

[1] Agradecemos à Loide Simon por esta contribuição ao Música Sacra e Adoração

[2] Legenda das referências bibliográficas: 

1T,2T…9T – 1º volume, 2º volume até o 9º volume do Testemonies for the Church.
DTN – O Desejado de Todas as Nações.
PJ – Parábolas de Jesus.
FCE – Fundamentals of Christian Education.
RH – Revista Review and Herald.
MI – Manual da Igreja [Adventista do Sétimo Dia]
PP – Patriarcas e Profetas.
Ed. – Educação.
CBV – Ciência do Bom Viver.


Fonte: Revista Adventista. Novembro de 1971, pp.6-7.