A Forma da Adoração

Louvor, Adoração, e Espiritualidade: Ômega da Apostasia – Parte II

por: Pr. Joaquim Azevedo Neto, Ph.D.

Na segunda parte deste estudo apresentarei as evidências do Novo Testamento, do Espírito de Profecia, da história antiga e dos cristãos dos primeiros séculos d.C. mostrando que todos seguiram a orientação divina evitando os membranofones (instrumentos de percussão) e os estilos da música popular das respectivas épocas.

Louvor e Música no Novo Testamento e nos Primeiros Séculos d.C.

O modelo de adoração do Novo Testamento segue o modelo do templo do Antigo Testamento e o da sinagoga até meados do quarto século ou quinto d.C. Os autores da igreja cristã durante os primeiros quatro séculos foram mudando de atitude gradativamente à medida que o helenismo foi se infiltrando dentro do cristianismo, até a queda do Império Romano. Com o passar do tempo a ala progressista a favor do sincretismo helenista, ganhou pela maioria contra os que eram a favor da identidade de uma religião bíblica [47]. Nessa época encontramos Clemente de Alexandria que escreve a respeito dos pagãos dizendo:

“fazem barulho com címbalos e tambores, rangendo com instrumentos de frenesi; … A flauta pertence a estes homens supersticiosos que correm à idolatria. Mas nós baniremos estes instrumentos de nossas sóbrias e descentes reuniões” [48].

O canto vocal sem instrumento era o mais prezado por todos os pais da igreja sem exceção, como sendo o canto que agrada ao Senhor [49]. Como o perigo da infiltração vinha de duas frentes ideológicas, a latina e a grega, estes cristãos optaram por cantarem somente música vocal, sem instrumentos, com letras dos salmos, imitando assim o costume dos rabinos nas sinagogas. As evidências mostram que a igreja cristã primitiva empregara judeus convertidos como cantores e estes usaram o mesmo estilo que se usava na sinagoga [50]. Os dois tipos de música usados na igreja eram o responsorium e o canto antifonal. Ambos eram de origem bíblico-judaica, e esta última tendo sua origem no Antigo Testamento [51]. Estes cantos eram do tipo cantochão, isto é, seguindo o modelo da sinagoga, que por sua vez seguiam a acentuação dos textos bíblicos como tonalidade e ferramenta sintática. No concílio de Laodicéia (360-381 d.C.) se proibiu completamente qualquer canto que não usasse as Escrituras como letra dos hinos no serviço de culto na adoração na igreja. Essa decisão tinha o propósito de neutralizar o efeito da influência gnóstica que estava usando a música sacra da época como meio de propagar as suas ideias teológicas, isto é música sacra com letras contendo uma teologia contrária à da igreja [52].

Temos que levar em consideração que essa época (1-5 séc. d.C.) era o auge dos escritos apócrifos, pseudo-epígrafos, seitas cristãs heréticas diversas, como as de Marcião, Ário e outras dentro do judaísmo, mais o paganismo, a filosofia greco-romana e o domínio militar dos romanos, tudo isso somado à ameaça cultural e bélica dos bárbaros. Portanto essa época era crítica na questão da ameaça de uma nova cosmovisão que avançava de forma progressiva colocando em risco a existência da jovem igreja cristã. Esta igreja devia tomar uma decisão entre se conformar com a nova visão de adoração ou crer que Deus supriria o que fosse necessário para a sua sobrevivência numa nova ordem ideológica sem perder a sua identidade peculiar.

A identidade da igreja primitiva já corria perigo de diluir-se em nome da justificativa de manter a sua existência diante de tantos concorrentes e num mundo onde o paradigma de adoração havia sido mudado pelo sincretismo da nova cosmovisão greco-romana. A igreja estava prestes a entrar na Idade Média.

Somente depois da infiltração da filosofia greco-romana dentro do cristianismo é que este perdeu seu temor ao sincretismo e viu isto como algo positivo para a conversão e conservação dos pagãos [53]. Podemos aceitar, portanto, que a música da igreja cristã desta época, considerando esta como um todo e já influenciada pelo helenismo, era o canto dos salmos (cantochão), hinos da igreja (de influência helenística), e cantos merismáticos que podiam levar ao êxtase (de influência pagã) [54].

A jovem igreja no quarto século d.C. teve que tomar uma decisão entre o não usar quaisquer instrumentos, como a sinagoga e a igreja apostólica, ou permitir certa abertura ao que o helenismo e ao que a cultura latina usavam nos seus cultos pagãos, mudando, apenas, a letra como o fazia Àrio na conversão dos bárbaros e talvez amaciando o ritmo das mesmas. Essa aceitação sincrética da parte de um grupo dentro da igreja foi posteriormente rejeitada na época de Clóvis, o rei dos francos (508 d.C.). Esse rei, com a aprovação do bispo de Roma, impôs o canto gregoriano vocal, cantochão, sem instrumento. Esse tipo de música cantochão perdurou até 1290; é claro que com as suas variedades e modificações sofridas pela influência do meio cultural. Foi nesta época (1290) que o uso do órgão foi permitido e posteriormente a reforma introduz outros elementos bons à música cristã medieval como o coral e outros. A Reforma Protestante não banalizou a música sacra, apenas introduziu elementos que a tornou mais acessível a todos. Os elementos, porém, do sacro foram preservados. Não temos espaço aqui para comentar sobre a música no período da reforma, consulte a obra de Samuele Bacchiocchi que menciono no início, sobre a música na Reforma Protestante.

Segundo Werner, os pontos que enfraqueceram os princípios originalmente mantidos pela igreja cristã foram:

  1. aceitação ainda que parcial do helenismo;
  2. aceitação dos instrumentos musicais associados com o culto pagão, ainda que estes fossem posteriormente banidos no sexto séc. no tempo de Clovis o rei dos francos
  3. sua flexibilidade com respeito ao canto de hinos que não fossem fundamentados no texto bíblico [55].

Novo Testamento

No Novo Testamento, menciona-se o canto vocal como sendo o canto da igreja apostólica. Alguns instrumentos são mencionados no Novo Testamento: as trombetas 20 vezes, a flauta 4, a harpa 3 vezes. Mas tambores e pandeiros nunca são mencionados no Novo Testamento, nem mesmo música dançante, com exceção da dança de Salomé pedindo a cabeça de João Batista. Veja que os instrumentos nas visões do Apocalipse a respeito do Céu são as harpas:

  1. Quatro animais e vinte e quatro anciãos “tendo cada um deles uma harpa.” (Apocalipse 5:8).
  2. Os 144.000 “tocavam com as suas harpas” (Apocalipse 14:1-3).
  3. Multidão no mar de vidro “tendo harpas de Deus” (Apocalipse 15:1-3). Note que o cântico de Moisés e do Cordeiro não são dançantes.
  4. E. G. White descreve o instrumento dos salvos e dos anjos como sendo as harpas de Deus, sempre cantando nunca dançando [56].

Vemos que través de todo o Antigo e Novo Testamentos até chegarmos ao céu, a música de Deus é, era, e será do mesmo tipo e os instrumentos musicais seguindo o modelo celestial, e lembre-se que Deus não muda. Essa música é, era, e será não dançante e tocada pelos instrumentos escolhidos por Deus. Como é que podemos agora no tempo do fim, com as qualidades de Laodicéia [57], dizer que sabemos mais sobre louvor e adoração do que as Escrituras Sagradas, introduzindo coisas que foram rejeitadas, por instrução divina, ao longo da história?

Alguém pode argumentar que as coisas eram diferentes naqueles dias do Antigo e Novo Testamentos, e que não havia este tipo de música. Isto é um engano, a história demonstra que havia o que eu chamaria de “rock de baal” no Antigo Testamento, e não é difícil de perceber isto no carnaval de Dionísio e Cibele no Império Romano no tempo do Novo Testamento [58].

Podemos ver que cada vez que Israel se apostatou havia música pagã, e estas estavam sempre relacionadas com a adoração de espíritos e deuses do paganismo. O culto ao bezerro de ouro, ao pé do Monte Sinai é um exemplo disso, conforme Êxodo 32:17-21:

17Ouvindo Josué a voz do povo que gritava, disse a Moisés: Há alarido de guerra no arraial.
18Respondeu-lhe Moisés: Não é alarido dos vencedores nem alarido dos vencidos, mas alarido dos que cantam é o que ouço.
19Logo que se aproximou do arraial, viu ele o bezerro e as danças; então, acendendo-se-lhe a ira, arrojou das mãos as tábuas e quebrou-as ao pé do monte;
20e, pegando no bezerro que tinham feito, queimou-o, e o reduziu a pó, que espalhou sobre a água, e deu de beber aos filhos de Israel.
21Depois, perguntou Moisés a Arão: Que te fez este povo, que trouxeste sobre ele tamanho pecado?

Esse bezerro de ouro poderia ter sido o filho de Hator, a deusa com cabeça de vaca. Esta era deusa da música e do amor. Outro deus poderia ser o boi Apis; ambos deuses pertencem à religião egípcia. Portanto, os israelitas estavam dançando ao ritmo daquela vida que tinham tido no paganismo seguindo os modelos e estilos egípcios.

Temos outro exemplo na Bíblia: o plano de Balaão em Moabe, em Números 25:1-3:

1Habitando Israel em Sitim, começou o povo a prostituir-se com as filhas dos moabitas.
2Estas convidaram o povo aos sacrifícios dos seus deuses; e o povo comeu e inclinou-se aos deuses delas.
3Juntando-se Israel a Baal-Peor, a ira do SENHOR se acendeu contra Israel.”

E.G.W. diz que os israelitas foram “iludidos pela música e dança” [59].

A palavra hebraica para tambor (bateria) é toph, e batidas de tambores topheth. Esse tipo de instrumento era usado para a adoração de demônios nos seus rituais e não foi permitido o seu uso no templo. Em Jeremias 7:31-32 encontramos uma clara proibição sobre a adoração pagã que era associada aos tambores:

31 Edificaram os altos de Tofete (dos tambores), que está no vale do filho de Hinom, para queimarem a seus filhos e a suas filhas; o que nunca ordenei, nem me passou pela mente.”

Perceba que o único meio que Satanás encontrou para unir o mundo debaixo de uma só bandeira teológica foi o “espiritualismo,” o mesmo das religiões animistas pagãs. Este é o mesmo engano no qual Adão e Eva caíram, “Certamente não morrereis. (…) sereis como Deus” [60]. Satanás quer todos nós no ocultismo e espiritismo. Satanás fez de tudo contra o povo de Deus; ele perseguiu, matou, foi fazer guerra contra os descendentes da mulher, “aqueles que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus Cristo” [61], mas enquanto os membros da igreja se mantiveram fieis à verdade revelada o inimigo não conseguiu nenhuma vitória.

Há uma força misteriosa no pós-modernismo guiando o mundo inteiro para a adoração de demônios. Explico: Desde 1445 a.C. até 1798 d.C. todo o mundo bíblico-cristão seguia o padrão teocêntrico, com suas variadas formas, fundamentados na síntese teológica “façamos o homem à nossa Imagem…” O louvor tinha como centro a Deus. Com a chegada do humanismo, o foco se tornou a razão humana, “não há Deus,” ninguém criou nada. Esta cosmovisão foi apenas uma ponte para o pós-modernismo, “façamos a Deus à nossa imagem,” com o seu foco nos sentimentos do ser humano, no eu, o qual é, em outras palavras, paganismo; e paganismo é por sua vez, ocultismo. O pentecostalismo nos moldes da pós-modernidade possui o seu próprio estilo de música e adoração centralizando o “eu.” Portanto, com prerrogativas semelhantes ao pós-modernismo. Segundo Tsaltalbasidis

… música rock (e suas forma híbridas) comunica o entendimento pós-moderno sobre a verdade. As palavras podem estar comunicando as mais profundas verdades, mas a música em si mesma está pregando outro evangelho. A música ensina que não há verdade absoluta, não há padrão de julgamento entre o certo e o errado. Esta é a mensagem real pregada ao usar o conjunto de baterias [62].

Reverência e Pós-modernismo

Segundo Wolfgang [63], é o nosso conceito da natureza de Deus que afetará nossa reverência e o tipo de adoração que damos a Deus. Assim temos, de acordo com este autor, três abordagens à natureza divina. O primeiro é Deus além de mim. Este conceito é encontrado no Antigo e no Novo Testamento, na Sinagoga, através da Idade Média; o segundo conceito sobre Deus é Deus por mim: No protestantismo e reforma da Igreja; Deus dentro de mim: Teologia existencialista, neo-pentecostalismo, espiritismo moderno, Alfa da apostasia com o panteísmo, e o pós-modernismo e o Ômega.

Quando centralizo o eu, isto se torna paganismo. Os sentimentos e as emoções, a sensualidade, o místico, o sobrenatural e o carnal são as bases do paganismo. Em suma, paganismo é a adoração do eu. O que derrubou Satanás do Céu? Foi o paganismo. Ele queria ser como Deus, ou seja, queria colocar a Deus no seu nível. E é isto que acontece com o Ômega, é o engano da serpente no jardim “serás como Deus.”

Isto é um retorno ao paganismo primitivo das religiões naturais místicas. Nas religiões modeladas pelo pós-modernismo, o centro são as emoções do ser humano, um antropocentrismo; a ênfase está nos sentimentos, na experiência pessoal, sentir é o importante. O certo é aquilo que funciona, motiva, toca as emoções e mexe com o eu, independentemente do certo ou errado. As principais características do pós-modernismo são as seguintes [64]:

  1. Não há verdade absoluta, tudo pode ser verdadeiro se for válido útil para uma determinada cultura num determinado tempo da sua história.
  2. Não há verdade universal que deve ser encontrada, cada individuo é a verdade para si mesmo.
  3. Contra todo dogma, doutrinas, leis, tradições, hábitos, cultura, e meta-narrativas, incluindo a Bíblia.
  4. Crença na imortalidade da alma, espiritismo, misticismo e o sobrenatural.
  5. Ênfase na experiência, sentimentos e emoções e na participação corporal.
  6. Centralização do eu e suas paixões como elemento de realização pessoal.

Podemos ver, baseado no pós-modernismo, um interesse pelo ocultismo na TV, filmes, novelas, revistas moda, música, desenhos infantis, política, cultura, religiões e na ciência; o mundo está se tornando um covil de demônios.

Apocalipse 16:13-14:
13 Então, vi sair da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três espíritos imundos semelhantes a rãs;
14 porque eles são espíritos de demônios, operadores de sinais, e se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande Dia do Deus Todo-Poderoso.”

O Perigo do Louvor Falso Segundo os Escritos do Espírito de Profecia

Por volta de 1900, surge o neo-pentecostalismo nos EUA. Em uma carta que o pastor Stephen Haskell escreveu a E.G.W. ele descreve o que viu e ouviu na nossa campal de evangelismo público em Indiana em Setembro 25, 1900:

“Está além de qualquer descrição… Há um grande poder que acompanha este movimento que se estabeleceu lá… por causa da música que é trazida para ser tocada na cerimônia. Eles possuem um órgão, um contra-baixo, três violinos, duas flautas, três tamborins, três trombetas, e um bumbo enorme, e talvez outros instrumentos que não mencionei… Quando eles alcançam as notas elevadas, não se pode ouvir uma só palavra do canto da congregação, nem mesmo ouvir qualquer outra coisa, somente os gritos daqueles que estão meio dementes. Não acho que estou exagerando. Nunca vi tal confusão na minha vida. Tenho presenciado cenas de fanatismos, mas nunca algo como isto.” [65]

E.G. White responde esta carta com as seguintes palavras:

“As coisas que descrevestes como ocorrendo em Indiana, o Senhor revelou-me que haviam de ocorrer imediatamente antes do terminação do tempo da graça. Demonstrar-se-á tudo quanto é estranho. Haverá gritos com tambores, música e dança. Os sentidos dos seres racionais ficarão tão confundidos que não se pode confiar neles quanto a decisões retas. E isto será chamado operação do Espírito Santo.

O Espírito Santo nunca Se revela por tais métodos, em tal balbúrdia de ruído. Isso é uma invenção de Satanás para encobrir seus engenhosos métodos para anular o efeito da pura, sincera, elevadora, enobrecedora e santificante verdade para este tempo. É melhor nunca ter o culto do Senhor misturado com música do que usar instrumentos músicos para fazer a obra que, foi-me apresentado em janeiro último, seria introduzida em nossas reuniões campais. A verdade para este tempo não necessita nada dessa espécie em sua obra de converter almas. Uma balbúrdia de barulho choca os sentidos e perverte aquilo que, se devidamente dirigido, seria uma bênção. As forças das instrumentalidades satânicas misturam-se com o alarido e barulho, para ter um carnaval, e isto é chamado de operação do Espírito Santo” [66]

“Ao findar a reunião campal, o bem que devia haver sido feito e poderia havê-lo sido pela apresentação da verdade sagrada, não se realiza. Os que participam do suposto reavivamento recebem impressões que os levam ao sabor do vento. Não podem dizer o que sabiam anteriormente quanto aos princípios bíblicos. Nenhuma animação deve ser dada a tal espécie de culto[67].

Percebam a urgência destas palavras: “imediatamente antes do termino do tempo da graça.” Para nós que vivemos mais próximos do fechar da porta da graça estas palavras são mais significativas. Naquela época a sua mensagem foi tão bem entendida que este tipo de adoração não prosperou na igreja; pelo contrario, desapareceu completamente. E.G. White viveu mais uma década depois deste evento e ela nunca menciona que os seus escritos, com relação a este evento em Indiana, tivessem sido mal interpretados pela liderança da igreja Adventista do Sétimo Dia. Isto é, ela concordou com o não uso de membranofones (percussão) e com o abandono do estilo pentecostal de louvor.

O Porquê da Situação Sintomática do Ômega

Todas as igrejas tradicionais (ex., Batista, Metodista, Anglicana, Luterana, etc.) que aceitaram este tipo de abordagem ao louvor e adoração tiveram que mudar a sua teologia e perderam sua identidade, tornando-se, na prática, pentecostais nos moldes pós-modernos. Assim, a nossa igreja não deveria ir pelo mesmo caminho; sabendo que somos a igreja remanescente, temos um objetivo de existir nos dias finais da história deste mundo. Veja a seguir algumas das razões que levaram estas igrejas à perda da identidade particular que possuíam; razões essas que poderiam causar o mesmo efeito sobre nós como povo remanescente.

  1. Ênfase somente na graça imputada em detrimento às doutrinas bíblicas e à graça comunicada. Um povo sem doutrinas, por mais graça que tenha, não saberá discernir entre o certo e errado, pois esta abordagem leva a espiritualização, sentimentalismo, emoção, e ao misticismo da religião. O que vale é experimentar, sentir a Cristo e o Santo Espírito de Deus em detrimento da prática da verdade [68].
  2. Ênfase no crescimento da Igreja seguindo os moldes pentecostais pós-modernos e fundamentados nas leis de marketing. Ênfase nos números; os novos “discípulos” são colocados numa comunidade desnutrida pela falta do conhecimento doutrinário, a qual é o resultado do item anterior [69].
  3. Aceitação do secularismo, agora nos moldes do pós-modernismo na vida diária (TV, filmes, DVD, MP4, vídeo games, música popular, moda, esportes, mídia, política, capitalismo, globalização, internet, notícias, cultura popular, entretenimentos diversos, etc. Estes meios de transmitir informações e de entreter são cheios de mensagens ocultistas, pós-modernas e pagãs quase na sua totalidade).

Características do Engano

E.G. White disse que no seu tempo houve o Alfa da apostasia, o panteísmo pregado pelo Dr. Kellogg, que enfatizava Deus em tudo e em todos, religião centralizada no eu, Deus em mim. Isto é, o espiritismo e o paganismo camuflado por uma interpretação distorcida da Palavra de Deus. No fim dos tempos, E.G. White diz que o Ômega da apostasia seria semelhante ao Alfa, porém seria mais sutil do que o Alfa. Este, o Ômega, envolve o espiritismo, a adoração de demônios no lugar de Deus. Essa adoração ao inimigo pode ocorrer de maneira inconsciente; é só aceitar o erro como verdade e conformar-se com isto, que a armadilha já está pronta para apanhar o despercebido.

Chegaria o tempo em que as doutrinas bíblicas poderiam ser confundidas na prática das mesmas. E. G. White disse o seguinte a respeito disto o seguinte:

“Antes dos últimos desenvolvimentos da apostasia haverá uma confusão de fé. Não haverá ideias claras e definidas a respeito do mistério de Deus. Uma verdade após a outra serão corrompidas” [70].

Portanto devemos estar alicerçados na Palavra de Deus. Sobre este mesmo assunto ela disse ainda:

“Não sejais enganados; muitos se apartarão da fé, dando ouvidos a espíritos sedutores e doutrinas de demônios. Temos diante de nós o alfa deste perigo. O ômega será de natureza assombradora” [71].

“Devemos estar alertas e não nos separar da mensagem que Deus tem para este tempo. Satanás não é ignorante dos resultados que vem da tentativa de definir a Deus e Jesus Cristo de maneira espiritual que colocam a Deus e a Cristo como uma entidade não existente. O tempo ocupado neste tipo de ciência, em lugar de estar ocupado preparando o caminho do Senhor, prepara o caminho para Satanás entrar e confundir as mentes com o misticismo da sua própria invenção. Ainda que estejam vestidos como anjos de luz, eles têm feito de Deus e de Cristo como se não existissem. Porque? Porque Satanás vê que as mentes estão prontas para este trabalho. As pessoas tem perdido o rumo das pegadas de Jesus e do Senhor Deus, e tem estado a obter uma experiência que é o Ômega de um dos mais perigosos enganos que já existiu com o propósito de levar cativo as mentes dos seres humanos”[72].

“Se Deus, certamente, tem falado através de mim, vocês ouvirão muito em breve de uma ciência deslumbrante — uma ciência do demônio. O seu objetivo é de anular a Deus e a Jesus Cristo quem Ele enviou. Alguns exaltarão esta ciência e tratarão com a ajuda de Satanás, de anular a lei de Deus. Grandes milagres serão feitos à vista dos homens a favor desta ciência deslumbrante” [73].

Fundamentado nestes textos do Espírito de Profecia, podemos afirmar que as características mais importantes do Ômega, dentre outras, são as seguintes:

  1. Anular a Deus como Pessoa: Façamos a Deus a nossa imagem, isto é, colocar o “eu” no lugar de Deus. Ter como cosmovisão o pós-modernismo, com a sua tendência ao misticismo, sentimentalismo, antropocentrismo, sentidos e emoções, experiências, relacionamento, sem compromisso com verdade anulando assim a obra de Deus. Isto não é nada menos do que paganismo (pentecostalismo). A teologia existencialista segue a mesma vereda. Veja, por exemplo, o livro Vida com Propósito de Rick Warren [74], que está cheio da filosofia espírita da Nova Era, anulando a Deus como ser e rebaixando Sua existência apenas como um ser sobrenatural do tipo da Nova Era que existe dentro de cada individuo.
  2. Anular a justificação pela fé: Ênfase em um dos elementos da justificação pela fé em detrimento do outro. Isto é, aceitar a graça imputada, que é a obra de Jesus por nós em detrimento a santificação que é a obra do Espírito Santo em nós, transformando o coração do pecador que aceitou os méritos do sacrifício de Cristo, que é a graça comunicada.
  3. Substituir o próprio Espírito Santo: Substituí-lo por outro espírito, evitando assim o selamento que preparará o povo de Deus para os eventos finais. Esta é a característica principal desta peça do Ômega.

Estas três características do Ômega estão intimamente relacionadas com a obra do Espírito Santo na vida de um cristão. Ele, o Espírito Santo, revela a Deus para os seres humanos, Ele comunica a Justificação pela fé, especialmente em se falando sobre a santificação, e por último Ele é o que sela a pessoa para a salvação mais tudo aquilo que está implicado neste processo. Assim, em síntese, uma das peças do Ômega é a tentativa satânica de substituição do Espírito Santo por outro espírito, usando meios variados, evitando assim o selamento do remanescente. Por isto E.G. White disse que este tipo de adoração aconteceria antes do fechamento da porta da graça, pois o inimigo sabe que se não temos o Espírito Santo não seremos selados para a salvação. A música, dirigida de maneira errada, entraria neste processo de engano ao suprir o sentimento de posse de um suposto espírito que não é o de Deus no adorador. Isto não quer dizer que todos que participem desta música e louvor não estão sendo selados pelo Espírito Santo, mas implica no perigo de estarmos aventurando no terreno encantado do inimigo.

E.G. White escreveu que aquele fenômeno de “fanatismo pentecostal” que aconteceu em Indiana por volta do ano 1900 se repetirá no futuro antes do término do tempo de graça. Note que ela chama este tipo de adoração de “fanatismo.” Observe por onde entrariam as teorias e os métodos errôneos, isto é, o “fanatismo,”: pelas “nossas reuniões campais.” Satanás quer destruir o meio que a igreja possui para levar a mensagens ou mundo, trazendo este estilo de adoração e louvor para dentro da igreja neutralizando assim a mensagem, resultando em uma igreja cheia, inchada, carecendo do poder do Espírito e da prática da verdade.

Com respeito à música ela disse que “Satanás fará da música um laço pela maneira por que é dirigida,” mas não fomos abandonados: “instruções claras e definidas têm sido dadas a fim de todos entenderem.” A seguir apresento as citações sobre este parágrafo de acordo com o que está escrito no Espírito de Profecia perceba que ela frisa bem as palavras “o Senhor me mostrou,” indicando a urgência e a fidelidade da origem da informação:

“Não entrarei em toda a triste história; é demasiado. Mas em janeiro último o Senhor mostrou-me que seriam introduzidos em nossas reuniões campais teorias e métodos errôneos, e que a história do passado se repetiria. Senti-me grandemente aflita. Fui instruída a dizer que, nessas demonstrações, acham-se presentes demônios em forma de homens, trabalhando com todo o engenho que Satanás pode empregar para tornar a verdade desagradável às pessoas sensatas; que o inimigo estava procurando arranjar as coisas de maneira que as reuniões campais, que têm sido o meio de levar a verdade da terceira mensagem angélica perante as multidões, venha a perder sua força e influência…

O Espírito Santo nada tem que ver com tal confusão de ruído e multidão de sons como me foram apresentados em janeiro último. Satanás opera entre a algazarra e a confusão de tal música, a qual, devidamente dirigida, seria um louvor e glória para Deus. Ele torna seu efeito qual venenoso aguilhão da serpente[75].

Essas coisas que aconteceram no passado hão de ocorrer no futuro. Satanás fará da música um laço pela maneira por que é dirigida. Deus convida Seu povo, que tem a luz diante de si na Palavra e nos Testemunhos, a ler e considerar, e dar ouvidos. Instruções claras e definidas têm sido dadas a fim de todos entenderem. Mas a comichão do desejo de dar origem a algo de novo dá em resultado doutrinas estranhas, e destrói largamente a influência dos que seriam uma força para o bem, caso mantivessem firme o princípio de sua confiança na verdade que o Senhor lhes dera” [76].

Conclusão

Com respeito ao termo Ômega, este é a tentativa satânica de substituir o Espírito Santo, quer seja teologicamente, quer seja pela má interpretação das doutrinas bíblicas ou pelo tipo de adoração, ou por qualquer outro meio. Por exemplo, a má interpretação da justificação pela fé e a negação da existência do Espírito Santo ou por qualquer outra coisa que simule emocional e sentimentalmente a obra transformadora do Espírito Santo, como o estilo de música e adoração evangélico pentecostal e pós-moderno. Esta substituição tem como objetivo evitar o selamento do povo remanescente evitando assim o preparo do mesmo para passar pela sacudidura e receber as vestes da justiça de Cristo para participarem nas bodas do Cordeiro.

Temos que, com a ajuda das Escrituras Sagradas e do Espírito Santo, terminar a obra que Deus nos incumbiu unidos. Todo esforço deverá ser feito para não causar desunião. Devemos colocar nossas ideias e preconceitos de lado e seguir os passos de Cristo na obediência da verdade. A Igreja Adventista do Sétimo Dia é o último movimento verdadeiro sobre a terra, não haverá outro depois deste. Devemos advertir ao mundo com as três mensagens angélicas e fazer o reavivamento do povo remanescente, causando assim uma reforma de vida. Esta é a mensagem presente para o mundo que perece sem o conhecimento da Palavra de Deus [78]. No livro O Grande Conflito está escrito:

“Vigiai, pois, … para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo.” Marcos 13:35 e 36. Perigosa é a condição dos que, cansando-se de vigiar, volvem às atrações do mundo. Enquanto o homem de negócios está absorto em busca de lucros, enquanto o amante dos prazeres procura satisfazer aos mesmos, enquanto a escrava da moda está a arranjar os seus adornos – pode ser que naquela hora o Juiz de toda a Terra pronuncie a sentença: ‘Pesado foste na balança, e foste achado em falta” [77].


Notas Bibliográficas (a numeração segue a seqüência da Parte I)

[47] Eric Werner, “The Conflict Between Hellenism and Judaism in the Music of the Early Christian Church,” Hebrew University Studies (1975), p. 411.

[48] Clemente de Alexandria, Paedagogus II, 4.

[49] Eric Werner, 420.

[50] P. Wagner, Einführung in die Gregorianische Melodien ( Leipzig, 1911), I., p. 17. Eric Werner, 432. “Uma lápide de um cristão cantor do quinto séc.: Hic levitarum primus in ordine vivens Davitici cantor carminis iste fuit. Esta descrição foi encontrada na lápide do diácono chamado Deusdedit (Jônatas). “Aqui temos certamente um cristão cantor que havia sido Judeu.” Citado por De Rossi, Roma Sotteranea III (Rome; 1864-77), p. 239, 242; Veja também E. K. Kaufmann, Handbuch der altchristlichen Epigraphik, (Freiburg im Breisgau, 1917), 272.

[51] I Crônicas 30:20, Neemias 12:27, Salmos 136, etc.

[52] P. Wagner, I., p. 43.

[53] Podemos ver isto na conversão de Constantino e suas tropas, na mudança do sábado para o domingo, e muitos outros elementos sincréticos entre o cristianismo e o paganismo.

[54] Eric Werner, 446.

[55] Werner, 457.

[56] Ver (entre outros) O Grande Conflito, p. 678; Primeiros Escritos, pp. 16, 17, 39, 52,125, 126, 151, 153, 167, 191, 288, 289

[57] Ver Apocalipse 3:14-22

[58] Veja a obra já citada de Joachin Braun, e verifique como Israel tanto no A.T. como no N.T. estava rodeado de todo tipo de cultura musical e de uma influência fortíssima da cultura dos seus vizinhos e posteriormente dos seus dominadores políticos, os romanos, e seus dominadores filosófico-cultural, os gregos.

[59] Ver Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 454

[60] Gênesis 3:4-5

[61] Veja o capítulo “O Culto Pentecostal Carismático,” em Vanderlei Dorneles, Cristãos em Busca do Êxtase (Unaspress: 2008), 73-134.

[62] Karl Tsatalbasidis, Drums, Rock, and Worship: Modern Music in Today´s Church (Roseville, CA: Amazing Facts, 2003), 41.

[63] Wolfgand, Stefani, Música Sacra, Cultura e Adoração ( Unaspress: 2002 ).

[64] James W. Sire, O Universo ao lado (United Press: São Paulo, 2001).

[65] Ver Ellen G.White, Música: Sua Influência na Vida do Cristão (Casa Publicadora Brasileira: Tatuí, 2005), 36-37; Mensagens Escolhidas vol. 2, pp. 31-39.

[66] Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Tatuí, SP – Casa Publicadora Brasileira), vol. 2, p. 36.

[67] Idem, p. 37.

[68] Esforços tem sido feito para não cairmos nesta armadilha como as publicações das revistas Membro, Revista do Ancião, Ministério, a tradução do livro Question on Doctrines ao português e a ênfase doutrinária nos treinos de anciãos e nos cursos de Capacitação Teológicas de obreiros oferecido pelo SALT, os Simpósios Teológicos da América Latina, as publicações da Unaspress, CPB e da CePLiB e muitos outros meios. A organização está trabalhando arduamente neste sentido. Portanto todos os Adventistas, não importando sua posição dentro da igreja, deveriam contribuir apoiando estes esforços da organização mantendo todas as características adventistas de povo remanescente.

[69] Há vários artigos que enfocam este problema, veja o Ministério Março – Abril (2009).

[70] Signs of the Times, 28, Maio 1894 em Donald E. Mansell, The Shape of the Coming Crisis (Nampa, ID: Pacific Press, 1998), 140

[71] Manuscripts Release, vol. 7, p. 188; Lt 263, 1904 em Donald E. Mansell, The Shape of the Coming Crisis (Nampa, ID: Pacific Press, 1998), 140

[72] Manuscripts Release, vol. 11, p. 211, em Donald E. Mansell, The Shape of the Coming Crisis (Nampa, ID: Pacific Press, 1998), 140

[73] (Mensagens Escolhidas, vol. 3, p. 408; Lt 48, 1907, em Donald E. Mansell, The Shape of the Coming Crisis (Nampa, ID: Pacific Press, 1998), 140

[74] Veja comentários acerca deste livro e desta filosofia de criação e gerenciamento de igrejas em (Falsas) Estratégias de Crescimento para a Igreja

[75] Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Tatuí, SP – Casa Publicadora Brasileira), vol. 2, p. 37

[76] Idem, p. 38.

[77] Ellen G. White, O Grande Conflito (Tatuí, SP – Casa Publicadora Brasileira), p. 495.

[78] João 1:1-18


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Pr. Joaquim Azevedo Neto, Ph.D. é Professor de Línguas Bíblicas e Antigo Testamento do SALT-IAENE, Bahia, Editor da revista Hermenêutica e Coordenador do Centro de Pesquisa de Literatura Bíblica.

Os editores do Música Sacra e Adoração agradecem ao Pr. Joaquim pela disposição em enviar este material para divulgação


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