Harmonia ou Ruídos Estridentes?

por: Cláudio Belz

A música corretamente empregada é um dom precioso de Deus, destinado a erguer os pensamentos às coisas altas e nobres, inspirar e elevar a alma – Ellen G. White, Educação, pág. 166.

Considerada a mais bela das artes pela maioria e talvez a mais popular das artes, é a música uma manifestação de beleza e harmonia.

Hoje, pela facilidade das comunicações, são conhecidos os maiores expoentes da música, as mais lindas orquestras, os mais famosos corais. E se a gente pensar em concerto completo podemos imaginar uma maravilhosa orquestra acompanhando um coral fabuloso de vozes de gente e quem sabe até de animais, e aves perfeitos. O teatro seria em plena natureza. O ar puro, o colorido e a brisa suave comporiam um cenário desse concerto.

Parece até um sonho impossível de algum músico alucinado!

Não é impossível. Acredito que na “Nova Terra” haverá muito mais que isso. Muito além das belezas que podemos imaginar. Corais, orquestras, anjos, natureza, criaturas e quem sabe não só as aves, mas até insetos e peixes farão parte da música na terra renovada!

Mas… Como ainda falta um pouco para a gente ver tudo isso, é bom que falemos na música que temos aqui, que embora cheia de imperfeições, contestações e contradições, é ainda maravilhosa arte que “corretamente empregada… é um dom de Deus destinado a erguer os pensamentos às coisas altas e nobres, inspirar e elevar a alma”.

Temos corais famosos e é bom que saibamos onde eles cantaram. Seria tão bom se pudéssemos gravá-los. Vale a pena conhecê-los. Vou citar alguns deles e suas apresentações.

É melhor começar pelo mais antigo: O libreto deste concerto está em Jó 38:7.

A história da criação. Os versículos a seguir dizem, em linguagem poética, como essa história é usada em concertos, os detalhes da criação. Se pudéssemos ler na linguagem original, conheceríamos talvez o mais antigo poema, com rima perfeita, fazendo a letra da cantada que as “Estrelas da Alva e os filhos de Deus cantavam alegremente.”

A cantata da criação. O compositor? Não era Beethoven, nem Bach. Era o mais antigo e famoso músico do universo – o próprio Criador.

Onde Ele se inspirou? No mundo perfeito que criara. Nenhuma pétala caía, nenhuma flor murchava, onde os pássaros de colorido maravilhoso voavam livremente, sem medo. Nada de dor, nada de pecado ou morte. Só felicidade. Todos satisfeitos.

“Quando os céus e a terra e todo o seu exército foram acabados, o Criador e todos os seres celestiais, se regozijaram na contemplação da gloriosas cena.” – Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 573.

Inspiração perfeita!

Quantos apaixonados pela música não dariam tudo para possuir um disco, uma gravação desse concerto!

Quem já assistiu a concertos de música moderna e procurou entender a mensagem que os artistas pretendem transmitir, hão de concordar comigo que realmente ela é um retrato da época em que vivemos. Época de angústia, insegurança, contradições, violência. Nada de harmonia se ouve nessas músicas. Nenhum tema que você possa gravar na memória impressivo e lindo, e sair do concerto assobiando sem parar até chegar em casa. Nada disso. É uma total confusão de sons (efeitos sonoros, melhor dito), gritos, ruídos estridentes e onomatopéias que, na língua dos entendidos, quer dizer: imitação de vozes de animais e chiados, etc. É a natureza e o homem em degradação que essa música retrata. É uma caricatura monstruosa do concerto da Criação.

Mas ninguém ficaria frustrado se ouvisse aquele famoso coral que cantou no nascimento de Jesus. Lucas 2:13-14: “Glória a Deus nas alturas”. Pelo ato sobrenatural de Deus. Pelo desígnio de Deus em reconciliar o mundo caído com o seu criador. Pela possibilidade de o homem transgressor voltar a viver com o seu Deus. “Paz na terra!” Este era o objetivo a razão da vinda de Cristo. Paz com Deus, através do perdão, através do Cordeiro.

“Boa vontade para os homens.” Tudo foi feito para o bem do homem.

Falando dos pastores assustados, platéia desse concerto (verso 13), a Sra. White disse: “Com terna consideração para com sua humana fraqueza, dera-lhes tempo para se habituarem à radiação divina. Então o júbilo e a glória não se puderam mais ocultar. Toda a planície se iluminou com a resplandecência das hostes de Deus. A terra emudeceu e o céu inclinou-se para escutar cântico! Glória a Deus nas alturas, paz na terra e boa vontade para com os homens.

“Quem dera que a família humana pudesse hoje reconhecer este cântico! À declaração feita, a nota vibrada então, avolumar-se-á aos extremos da terra…” – Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 32 e 33.

Os cânticos que se ouvem hoje, de um extremo a outro, são bem diferentes. Não falam de “Paz na terra e boa vontade entre os homens.” Falam de guerras, de atentados, de subversões e seqüestro.

Como podemos nós ter um cântico celestial e harmonioso em meio a tanta turbulência?

a) A música deve glorificar a Deus e ajudar-nos a apresentar-lhe um culto aceitável. I Crônicas 10:31.

b) Enobrecer, elevar e purificar os pensamentos dos cristãos. Filipenses 4:8; Patriarcas e Profetas[1], p. 594.

c) Influenciar eficazmente o cristão no desenvolvimento do caráter de Cristo em sua vida e na dos outros. – Manuscrito 57, 1906.

A melodias mais harmoniosas ressoam de uma vida cristã alegre, entusiasta, simpática, fiel e consagrada. Não é o cristão carrancudo, tenso, irritadiço que refletirá o caráter de Cristo numa melodia harmoniosa e altamente influenciadora. Não é o cristão acomodado e negligente que vai fazer soar na alma ansiosa pela salvação os doces acordes do convite de Cristo.

A melodia suave e atraente do bom exemplo não é amplificada a todo volume. Ela é discreta e constante. Reflete uma vida serena de elevados ideais. É como uma maravilhosa filarmônica que produz sons de bondade, desprendimento, estímulo e de comunhão com Deus. Pode levar mais tempo para que as pessoas ouçam, mas é irresistível. Quem a ouvir, vai amar.

Se Cristo habitar no coração, a vida se transformará numa linda canção de amor. E não podemos imaginar um cristão sem amor. “… porque qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus, porque Deus é amor.” I João 4:7 e 8.

Na conversão de uma alma, “há alegria no céu, na presença de Deus e dos santos anjos, sobre uma alma resgatada – alegria que se exprime em cânticos de santo triunfo.” – Caminho a Cristo, p. 126.

São anjos que cantam… como deve ser lindo esse coral!

Na volta de Jesus ao céu, após a ressurreição, houve um cântico de vitória. Na volta de Jesus para buscar seus filhos, haverá um cântico de vitória sobre o pecado e a morte.

É o cântico que você e eu estamos ensaiando. Às vezes o maestro nos repreende por cantarmos errado, mas é para o nosso bem e harmonia geral.

Todos nós poderemos estar no grande coral da recreação da Terra.

Podemos fazer os anjos cantarem hoje, se nos entregarmos inteiramente a Cristo. Mas é preciso ensaiar. O ensaio é na igreja. Precisamos estar sempre juntos, aprendendo senso corrigidos, aprimorados.

É a união de todos que aparece o volume e a harmonia do canto.


Nota:

[1] As citações deste artigo que não possuirem autoria, são textos (livros ou cartas) de Ellen G. White. (Nota dos editores do Música Sacra e Adoração).


Fonte: Revista Adventista, agosto de 1988, pp. 38 e 39.