A Forma da Adoração

Jogando Dominó – Parábola de um Cristianismo Lúdico

por: Gilson Santos

Neste mês de janeiro, nossa Igreja, outra vez, ofereceu-nos uma quinzena de descanso. Mais uma atitude bastante generosa de uma congregação amável e longânime. E como se já não fosse suficiente, um casal da igreja convidou-nos para passar uns dias em seu sítio no Sul de Minas. Um lugar muito aprazível, sob todos os aspectos. Além daquele recôndito esplendoroso, desfrutamos também da especial companhia de alguns irmãos.

Ali fui convidado para algumas partidas de dominó. Ganhei algumas e perdi muitas. É um jogo de lógica bem simples, e não se compara ao xadrez, por exemplo. O dominó é um jogo tradicional, coletivo e conhecido das crianças. Nossas filhas jogavam com alguns adultos, e assim, pouco a pouco, iam aprendendo a contar as peças, prever os próximos lances, e “quebrar” as jogadas dos adversários.

Os jogos estabelecem uma forma de atividade do ser humano, tanto no sentido de entreter e de aperfeiçoar ao mesmo tempo. A riqueza do dominó, enquanto material lúdico, permite o seu aproveitamento para desenvolver o raciocínio lógico e aritmético dos aprendizes, estando em correlação direta com o pensamento matemático. Os educadores podem fazer bom uso desta atividade lúdica. O jogo de dominós permite trabalhar contagem organizada, representação decimal, paridade ou construção de material para laboratórios de ensino. A aprendizagem através de jogos, como dominó, permite que o educando faça da aprendizagem uma ação interessante e prazerosa.

O Jogo

Pegue 28 retângulos de madeira, papelão, marfim, plástico, pedra-sabão, dentes de morsa, ossos de baleia, metal, cristal ou outro material qualquer. Nas metades dos retângulos escreva todas as combinações possíveis de números, entre 0 e 6. Pronto! Você tem nas mãos um dos jogos mais atraentes e antigos que a humanidade conhece.

O dominó é um jogo de mesa que não tem sua origem perfeitamente esclarecida. Os dominós são populares em um grande número de países, e, portanto, tem inúmeras variações. Alguns autores afirmam que, originalmente, os dominós devem ter servido como oráculos, utilizados de forma a prever o futuro. Alguns indicam que a primeira menção ao jogo de dominó deu-se na China, séculos antes de Cristo. No ocidente, há indícios da existência do jogo no século XVIII, quando teria sido introduzido na Inglaterra e Itália. O jogo pode mesmo ter sido introduzido na Itália por Marco Pólo, ou outros viajantes da época. Mas nem todos concordam. Alguns estudiosos afirmam que o jogo apareceu espontaneamente em diversas partes do globo. No Brasil o jogo de dominó é bastante conhecido, e sua popularidade é grande entre adultos e crianças, e teria chegado com os portugueses no século XVI, transformando-se em entretenimento para os escravos.

O número de peças desse jogo varia de um país para outro. O dominó oriental compõe-se de 21 peças (sendo que é excluído o zero das peças). O dominó usado no ocidente, comumente tem 28 peças, e é chamado de duplo-6. No entanto, existem o duplo-9 e o duplo-12, que são pouco usados. Existem também dominós com figuras, mais usados pelas crianças, facilitando o desempenho do jogo. Nos Estados Unidos são utilizados dois tipos de dominós com 21 peças e 55 peças (numeradas de 0 a 9).

Um Cristianismo Lúdico e seu Efeito Dominó

Há alguns anos, li um devocional escrito por Henry G. Bosch, que trazia a seguinte história:

No começo do século XVII dois jovens monges foram disciplinados pelo Superior por causa de uma infração das regras do mosteiro. “Irmãos Benedito e Fidelis”, ele disse com severidade, “seu castigo será a reclusão por três meses – sob a regra do silêncio!” No começo os dois se entregaram à oração e ao estudo, mas o silêncio era tão opressivo e as horas vazias tão pesadas que, finalmente, o mais jovem teve uma ideia. Recolheu todas as pedrinhas lisas e chatas do mesmo tamanho que conseguiu encontrar no pátio até que, com a ajuda do seu “silente companheiro”, reuniram 28 pedrinhas. Então escreveu diferentes números em cada uma delas e inventou um novo jogo para preencher aquelas horas de inatividade. Era difícil para os dois se comunicarem sem falar, mas depois de algumas semanas, estabeleceram através de gestos, diversas regras para o seu jogo com pedrinhas marcadas. A coisa mais difícil era manter o silêncio quando se alegravam com a vitória no jogo. Então tiveram uma boa ideia: – eles tinham permissão de orar em voz alta a oração “Dixit Dominus Domino Meo“. Reduzindo isto a uma única palavra, o vitorioso podia expressar o seu triunfo exclamando: “Domino! Domino!”

Nada sei acerca da fidedignidade das fontes em que se baseou Bosch para esta história acima. Apenas sei que a expressão Dixit Dominus Domino Meo é a tradução latina para “Disse o SENHOR ao meu Senhor”, como Davi inicia o Salmo 110, e que é repetida quatro vezes no Novo Testamento. Mas vi nessa “história” uma parábola. Enquanto os outros pensavam que os dois piedosos homens estivessem orando, estavam na verdade brincando! Quando exclamavam “Domino!” não estavam se dirigindo ao Senhor, mas apenas expressando sua alegria e entretenimento. Há muito disso em nossos dias. Muita gente na igreja está apenas “brincando de dominó”. Há toda uma atmosfera e fraseologia religiosa, mas no final apenas o entretenimento de um “cristianismo lúdico”. Uma completa falta de vitalidade, e uma abundante trivialidade. Um “cristianismo” de aceitação da comunidade, de agrado à sua própria consciência, de celebração da arte, de entretenimento, ou simplesmente para matar o tempo. Através do profeta Isaías, Deus condenou a “religiosidade” judaica: “O Senhor disse: Visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu” (Isaías 29:3). E o Senhor Jesus diz: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mateus 7:21). A este propósito, quero recomendar três livros: “A Decisão por Cristo; O que isto significa?” de L. R. Shelton Jr., e dois livros de John F. MacArthur Jr., “Com Vergonha do Evangelho” e “O Evangelho Segundo Jesus“. Todos estes livros têm sido publicados pela Editora Fiel.

E não podemos esquecer também a brincadeira que deu origem a expressão “efeito dominó”. Muitos de nós já nos divertimos, colocando as pedras do dominó em pé, umas atrás das outras, até que uma fila longa e sinuosa cubra toda a mesa. Então, com um toque, elas caem, a primeira tocando na seguinte e assim por diante até que todas são derrubadas. A “teoria do dominó”, freqüentemente citada por autoridades em diversas áreas, baseia-se neste tipo de relação. Nas relações internacionais significa que a queda de um governo numa determinada região do mundo, causada por influências subversivas ou pela força, leva ao conseqüente colapso dos países vizinhos, um atrás do outro.

Um efeito semelhante pode ocorrer nos padrões eclesiásticos. O que uma igreja faz pode atingir muitas outras por causa da relação que existe entre elas. E uma influência negativa também pode estender-se além da comunidade local. Basta que uma “pedra de dominó” caia para que muitas outras caiam também. Assim, quando nos referimos acima ao fato de que temos igrejas “brincando de dominó”, devemos também nos lembrar que a “brincadeira de dominó” produz atualmente um longo e sinuoso “efeito dominó”. No dominica die (domingo) [*] é crescente o número de pessoas que já não mais se reúnem para dar Domino gratias, mas simplesmente para brincar, assim como os “irmãos Benedito e Fidelis”.

Para quem tem maiores interesses em dominós: http://www.jogos.antigos.nom.br/domino.asp.


Fonte: http://www.gilsonsantos.com.br.


[*] – Ou Sábado, no caso dos adventistas. (Nota dos editores do Música Sacra e Adoração)


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