Liderança Musical – Um Caso Bíblico

por: Lawrence Maxwell

Arão, O Irmão Mais Velho de Moisés

Qualquer líder de igreja que pensa que seus métodos inovadores de liderança estão certos porque a maioria dos membros de sua igreja o aplaudem, fariam bem em relembrar como Deus considerou Arão.

A experiência de Arão com o bezerro de ouro não representa o seu único problema. Nós olharemos o problema do bezerro de ouro num instante, mas antes não deixemos de observar uma série de graves defeitos no caráter de Arão.

Como pai, Arão foi inadequado; seus filhos, Nadabe e Abiú, não teriam oferecido fogo estranho se Arão houvesse dado uma formação mais rigorosa. Mas nos é relatado que ele protegeu seus filhos em momentos nos quais deveria tê-los corrigido (ver Patriarcas e Profetas, p. 360).

Como irmão, Arão simpatizou com a inveja de Miriam para com a esposa de Moisés, quando ele deveria ter reprovado a atitude de Miriam (ver ibid., p. 384). E quando Moisés feriu a rocha pela segunda vez nas proximidades da terra prometida, Arão estava ao seu lado, partilhando seu gênio tempestuoso. Moisés implicou a cumplicidade de seu irmão quando reclamou, “porventura tiraremos água desta rocha para vós?” (ver Num 20:10).

Sempre em Segundo Lugar. É fácil condenar Arão, mas certamente podemos concede-lo um pouco de simpatia. A vida o colocou numa posição difícil. Como o filho primogênito, ele deve ter tido a expectativa de preeminência entre os irmãos; ao contrário, ele sempre esteve em segundo lugar – isto quando não estava em terceiro lugar.

Quem recebeu toda a atenção quando Arão era um menino? Miriam recebeu muita atenção. Com um pouco de imaginação nós podemos ouvir as pessoas dizendo ao pequeno Arão, “Foi maravilhoso como a sua irmão cuidou do cestinho em meio aos juncos!” e “Que irmão corajosa você tem, conversando tão destemidamente com a Princesa. Você deve estar muito orgulhoso dela!”

O irmão mais novo, naturalmente, recebeu o resto das atenções, com a Princesa, a preparação para o palácio, e a antecipação de toda glória. “Não é maravilhoso que o seu irmãozinho foi adotado pela Princesa! Ele vai ser muito importante algum dia, você pode ter certeza disto! O que você pretende ser quando crescer, Arão?”

Oh, amigos! Será que Arão realmente sentiu um alívio quando mais tarde Moisés fugiu do palácio para terras desconhecidas? Talvez tenha. Se a resposta é sim, ele demonstrou verdadeira nobreza de caráter, quando ficou sabendo através de um sonho que Moisés estava retornando e precisaria de um intérprete, e com boa vontade concordou em assumir o papel secundário e apressou-se ao deserto para receber o seu ilustre irmão.

Finalmente a Oportunidade: Agarrada – e Mal Aproveitada. Arão esteve ao lado de Moisés através das dez terríveis pragas, enfrentando Faraó destemidamente e ajudando nos preparativos da primeira Páscoa, mas sempre ocupando o segundo lugar. Salvos após atravessarem o Mar Vermelho, ele assistiu Miriam liderar as mulheres na canção de louvor e gratidão enquanto Moisés liderava os homens. Foi Moisés e Miriam e não Moisés e Arão.

Mas finalmente, algumas semanas depois, Arão teve a sua chance – que não foi bem aproveitada.

A história é conhecida. Aos pés da montanha a liderança de Arão parecia estar funcionando bem por um tempo. Então de uma só vez um amigável e sinistro grupo aproximou-se dele e disse, “Levante-te, faze-nos deuses, que vão adiante de nós; porque quanto a este Moisés, a este homem que nos tirou da terra do Egito,” eles continuaram, “não sabemos o que lhe sucedeu” (Ex. 32:1).

É claro que este grupo havia perdido o respeito por seu ilustre líder. Eles sentiam que ele não os compreendia; ele estava sempre na montanha, conversando com o seu Deus, envolvido como sempre com teologia e doutrina. O povo estava aqui em baixo, insistia o grupo implicante, e Moisés, eles diziam, não os compreendia nem tão pouco as suas necessidades. “Mas, Arão,” nós podemos ouvi-los dizendo, “você é de natureza boa. Você nos compreende. Você pode nos dar o que precisamos.”

Aqui finalmente encontramos pessoas que realmente apreciavam Arão. Eles sugeriam até que Arão era um líder mais competente do que Moisés. Mas o que eles estavam pedindo era errado. Arão sabia que era errado, e ele resistiu.

Mas então o grupo se tornou sórdido. Eles disseram que se ele não fizessem o que pediam, eles não o reelegeriam na próxima trienal. Bem, naturalmente eles não disseram isto; isto é o que grupos reacionários Adventistas dizem em nossos dias. Eu suspeito que se reeleição fosse o pior que o grupo tivesse ameaçado, Arão continuaria a resistir. Não, o grupo ameaçou que se Arão não fizesse o novo deus, eles o matariam. Já alguns conservadores da congregação que haviam resistido a proposta popular haviam sido maltratados, e logo em seguida, Patriarcas e Profetas, p. 317, nos diz, alguns dos resistentes foram de fato mortos.

Arão temeu por sua vida. Ele também sentiu uma oportunidade de ouro para se tornar mais popular do que seu tão admirado irmão. Ele concordou em comandar o novo estilo de adoração.

Como Ele Pode Fazer Isto? Nós nos temos perguntado tantas vezes, como pode um seguidor consciencioso do Senhor como Arão concordar em fazer um ídolo?

Ao pessoalmente ponderar sobre esta indagação, a resposta que se auto sugeriu a mim é que ele era tão bom na arte da racionalização quanto o restante de nós. Racionalização é a arte de encontrar uma boa razão para fazer algo que sabemos ser errado. A declaração mais reveladora de nossa história e uma que torna esta experiência totalmente relevante para Adventistas do Sétimo Dia hoje é o anúncio que Arão fez imediatamente após o bezerro de ouro ter sido terminado e o seu altar montado. Ele disse, “Amanhã será festa ao Senhor” (Ex. 32:5).

Uma festa ao Senhor? Como podia Arão sugerir que a adoração a um ídolo iria honrar ao Senhor? Ele não ouviu Deus dizer, apenas algumas semanas antes, que o povo não deveria ter nenhum assunto com ídolos? “Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te curvarás a elas nem as servirás” (Ex 20:4, 5). Certamente Arão lembrava-se que Deus havia dito isto. Estas palavras ainda estavam ecoando em seus ouvidos.

Mas, ele racionalizou, evidentemente, se o mandamento fosse analisado cuidadosamente, realmente não se aplicava neste caso. Você pode ouvir a mente Arão trabalhando? O que Deus proibiu, ele deve ter dito a si mesmo, foi a adoração de ídolos, o que no caso da festa de celebração sendo planejada com o bezerro de ouro ninguém iria adorar o ídolo. Eles iriam adorar ao Senhor. O bezerro de ouro era meramente alguma coisa para o povo olhar enquanto adoravam a Deus.

Aqui estava um ponto chave que Moisés não deve ter entendido, Arão deve ter pensado. Moisés tinha omitido a necessidade do povo de focalizar seus olhos em algo concreto e artístico enquanto adoravam. Arão, com sua maior sabedoria (assim pensou), compreendia esta necessidade do povo. Aqui, ele pensou, estava a razão pela qual o povo começava a apreciar a sua liderança mais do que a liderança de Moisés. Não, não! Ninguém iria adorar ao bezerro; somente legalistas fariam tal interpretação, Arão aparentemente concluiu. Enquanto o coração está certo, o comportamento em si é de pouco interesse, e em seus corações o povo não estaria adorando ao Senhor?

Enganando a si mesmo com este tipo de racionalização, Arão chegou ao ponto no qual ele poderia honestamente chamar a celebração “uma festa ao Senhor.”

E como o povo respondeu! Nunca desde que os Israelitas haviam passado pelo Mar Vermelho tinha uma serviço de adoração sido tão bem assistido.

Certamente, uns poucos “durões encrostados da velha escola” (como seriam chamados hoje) reclamaram que a música não pertencia num serviço onde Deus era adorado; eles diziam que a música era muito parecida com a música das danças usadas no Egito. Eles até disseram que o povo não devia dançar. Este críticos foram considerados como claramente fora de contato – como puros legalistas. Os tempos mudaram, a maioria do povo disse, e os velhos cansados precisam se atualizar. Além disso, dizia a maioria, a atividade ao redor do ídolo não era dança de baile; era a maneira como o povo escolheu expressar sua alegria no Senhor. A maneira como a alegria é expressada é uma coisa cultural, a maioria argumentou; o povo havia vivido toda sua vida no Egito, e no Egito esta é maneira como povo expressava sua alegria. Os críticos exagerados não deveriam ficar tentando colocar todos em seu próprio molde.

Evangelismo! Falando de alegria, você notou o entusiasmo? Nunca havia tido antes tanta participação entusiástica na adoração a Deus. Não perca um outro ponto importante; talvez seja o ponto mais importante de todos. Se você olhar cuidadosamente, notará que os adoradores mais entusiásticos eram a “multidão mista,” o mesmo grupo que antes sempre procurava uma desculpa para ficar em suas tendas (ver Patriarcas e Profetas, p. 315). Finalmente Arão havia encontrado uma maneira de persuadi-los a virem à igreja.

Ele havia conseguido! Ele havia encontrado uma nova maneira de fazer evangelismo, uma maneira que funcionava. Moisés, ele pensou, tinha algo a aprender com ele. A grande massa de membros havia claramente votado em favor desta nova forma de celebrar ao Senhor. (Incidentalmente – para trazer esta história quase que de maneira ridícula aos nosso dias – agora não havia necessidade de Arão se preocupar com a próxima eleição; ele sabia que conseguiria! Moisés era quem precisaria se preocupar!)

Em algum lugar aqui nós deveríamos notar, que contrário a antiga versão King James, Arão não ordenou o povo a tirar suas roupas e dançarem nus. A versão NIV traduz o trecho assim: “Moisés [tendo chegado] viu que o povo estava correndo desvairadamente e que Arão havia permitido que eles ficassem fora de controle e se tornassem alvo de zombaria para seus inimigos” (Ex 32:25).

Quando Moisés Chegou. “Correndo desvairadamente.” “Fora de controle.” “Alvo de zombaria para seus inimigos.” Quando Moisés chegou repentinamente nesta cena, ele descreveu a situação até mais rigorosamente. Ele ficou tão enfurecido com o que viu que em frente de todos quebrou as tábuas inscritas que carregava, demonstrando que o povo havia quebrado sua relação especial com Deus. Então disse a Arão exatamente o que pensava sobre todo aquele assunto.

Rapidamente ficou aparente para o irmão mais velho que Moisés não tinha palavras brandas para a sua nova forma de liderança. Quanto à sua racionalização, Deus simplesmente não aceitou.

Andando vigorosamente através da multidão repentinamente emudecida, Moisés colocou um ponto final na celebração ordenando que a imagem fosse derretida. Então fez com que o ouro fosse moído e transformado em pó, misturado com água, e compeliu os Israelitas a beberem esta mistura. Em seguida, convocou todos que não haviam adorado o bezerro de ouro para que ficassem ao seu lado. Após este grupo especial ter sido reunido, ele autorizou-os a saírem pelo acampamento matando todos, até mesmo um parente, que persistisse em defender a nova e pecaminosa forma de adoração.

Arão, orgulhoso e defensivo inicialmente, teria morrido também. Deus estava particularmente descontente com ele (Deut 9:20). Mas ele prontamente arrependeu-se, e Moisés orou em seu favor.

Que Grande Deus Nós Somos Convidados a Adorar! Por favor note que Deus não somente aceitou o arrependimento de Arão, perdoando sua grave ofensa, mas, uns meses mais tarde, escolheu-o para ser alto sacerdote. Aproximadamente um ano depois, quando Corã, Datã e Abirã desafiaram o direito de Arão ao sacerdócio, Deus defendeu este irmão mais velho de Moisés e de forma dramática puniu os rebeldes.

Que Deus paciente, bondoso e complacente nós temos! Não foi até que Arão uniu-se a Moisés em colérica raiva batendo na rocha quase quarenta anos depois, que Deus o puniu publicamente. Mesmo neste momento, ao ver o arrependimento sincero de Arão, Deus assegurou-o completo perdão e um lugar na eterna Terra Prometida. Deus até inspirou o salmista a cantar sobre ele “Arão o santo do Senhor” (Sal 106:16).

Certamente, um Deus como o nosso merece ser adorado das formas que Ele mesmo prefere!

Conclusão sobre Líderes. Enquanto isso, o que podemos concluir sobre líderes? Gostaria de sugerir três aspectos: (1) Líder nunca deveriam pensar que eles estão acima da possibilidade de cometer sérios erros, e quando o cometem, devem arrepender-se rapidamente; (2) Líderes deveriam ser muito cuidadosos para nos guiar de formas que Deus aprova; e (3) Quando líderes de igreja tentam guiar-nos para práticas erradas, nós não devemos seguí-los em pecado.

Epílogo: O Que Seria Se…? O que teria acontecido no Sinai se Arão tivesse permanecido firme na Palavra de Deus e dito ao povo que nunca, em nenhuma circunstância, ele permitiria que um ídolo fosse construído?

Patriarcas e Profetas, p. 323, nós traz a resposta: “Se Arão tivesse tido coragem de permanecer firme ao lado da verdade, independente das conseqüências, ele teria evitado aquela apostasia. Se ele tivesse mantido firme a sua submissão a Deus, se ele tivesse intimado o povo dos perigos do Sinai, e tivesse relembrado o povo de sua solene aliança com Deus de obedecer a Sua lei, o mal haveria sido detido. Mas a sua condescendência com os desejos do povo e calma segurança com a qual ele prosseguiu nos seus planos, encorajou-os a irem mais fundo em pecado do que havia inicialmente em suas mentes.”

Chegando tarde demais na cena, Moisés colocou-se ao lado do que é certo independente das conseqüências, e a idolatria foi notavelmente encerrada. Moisés emergiu desta experiência como um verdadeiro defensor da força espiritual. Arão, alas, como um fraco, ainda correndo em segundo lugar.

Notamos com tristeza que Ellen G. White lamenta que “há ainda Arões maleáveis, que, enquanto ocupam posições de autoridade na igreja, irão ceder aos desejos dos sem consagração, assim encorajando-os ao pecado” (Patriarcas e Profetas, p. 317).

Em contraste, ele diz em outro lugar, “Homens são necessários para este tempo que não temam levantar suas vozes pelo que é certo, não importa quem os faça oposição. Eles devem ser de forte integridade e coragem testada. A igreja clama por eles, e Deus irá trabalhar com seus esforços para preservar todos os ramos do ministério evangélico” (Testimonies for the Church, 4:270).