O Adorador

O Jovem e a Música Secular

por: Carlos Renato de Lima Brito

Trabalho como pastor há oito anos, mas já antes do seminário, tenho sido questionado em várias áreas do conhecimento bíblico, doutrinário e de prática cristã. Uma das perguntas que mais têm se repetido no assunto para mim é a seguinte: “O crente pode ouvir música mundana?”.

Confesso que esta pergunta sempre foi ponto de partida de lutas interiores em que exércitos de grandes potências mundiais brigavam no campo de batalha do meu coração, da minha mente e da minha vontade. O exército vermelho brigava pela causa da total aceitação da música mundana na minha vida. Era um exército de formação mais liberal, que aceitava todo tipo de música como uma manifestação artística autêntica e digna da apreciação de um jovem crente. O exército azul brigava pela rejeição completa da música mundana na minha estante de CDs. Os azuis fazem parte daquele exército que considera toda produção cultural realizada fora dos meios cristãos indigna de ser apreciada pelos cristãos. “Uma música que não fale de Cristo” – dizem os soldados do exército azul – “não pode ser ouvida por um discípulo de Cristo que decidiu abandonar tudo para seguir o Mestre”. O exército verde lutava pela aceitação parcial de músicas mundanas em casa, mas não parecia ter muita definição política, ora lutando aliado com o exército vermelho ora aliado do exército azul.

Talvez esta mesma guerra esteja sendo travada dentro de você ainda hoje e talvez seja este o motivo principal por que você está aqui. Você deseja saber se você, como jovem que quer servir ao Senhor, pode ou não ouvir as músicas que tocam nas rádios, que seus amigos da escola trazem nos celulares ou nos iPods e se você pode ir a um desses shows que cantores de música popular fazem nas salas de concerto, nos eventos culturais, veiculados nos DVDs e nos programas de televisão.

A nossa argumentação será pautada na solução de quatro questões:

  1. O que é música secular?
  2. O que a Bíblia diz sobre o assunto?
  3. Que conclusões nós poderíamos tirar das informações bíblicas?
  4. Que conselhos poderíamos dar para que os jovens possam entrar em contato com a música secular sem comprometer a sua fé?

Vamos começar o nosso estudo definindo música mundana e secular, para que não haja nenhuma comunicação defeituosa a respeito do que será dito aqui. Gostaria de dizer que o que será exposto aqui faz parte de uma posição muito pessoal, mas que buscou, por meio de lutas, por meio de muita reflexão e por meio de uma busca intensa de informação, achar a verdade a respeito do assunto. Peço, portanto, a sua atenção e sua sensatez para que você não tire conclusões erradas e nem interprete mal a posição que será aqui apresentada.

Vamos, finalmente, a nossa primeira questão.

I. O que é música secular?

A. O que é música?

1) Música é a arte de combina bem os sons de modo lógico e agradável de modo que o compositor possa expressar ideias, sentimentos, princípios morais e comportamento social.

2) A música possui seis elementos, que são:

a) Melodia, A seqüência de notas que tem o pensamento principal da música;

b) Ritmo, as batidas ordenadas da música no tempo;

c) Harmonia, o grupo de notas que providencia o ambiente da melodia;

d) Andamento, a velocidade com que o ritmo se dá;

e) Dinâmica, a variação de energia que a música emprega na sua estrutura;

f) Timbre, a cor peculiar do som produzido por cada instrumento ou pessoa.

3) A música é capaz de provocar nos seres humanos um comportamento compatível com a sua mensagem. Ela pode provocar emoções, pode nos educar profundamente, pode mover a nossa vontade, pode nos influenciar moralmente, pode fazer com que nos associemos a um determinado grupo de pessoas e age diretamente nos nossos corpos fazendo-os reagirem de acordo com a música que estivermos produzindo ou ouvindo.

B. O que a palavra “secular” significa?

1) De acordo com o dicionário, a palavra secular é relativa a século. Que se faz de século a século. Que existe há séculos; muito antigo. Diz-se do clero, ou do padre, que não pertence a ordem ou congregação religiosa. Que vive no século ou que não fez votos monásticos. Relativo ou pertencente ao Estado, em contraposição ao que se refere ou pertence à Igreja; temporal, civil, mundano.

a) Na definição do dicionário podemos notar que secular tem o caráter temporal. Pode ser uma palavra usada que se relaciona ao tempo.

b) Ela diz respeito também àquilo que não é pertinente a uma separação de coisas ou pessoas da vida comum para uma vida religiosa.

c) Esta palavra pode também ser usada no sentido de mundano, mas mundano aqui não parece se relacionar a algo que é necessariamente ruim.

2) Na Bíblia a palavra mundo pode ser usada pelo menos em dois sentidos. Na Bíblia, a palavra mundo pode ser usada num sentido negativo e num sentido positivo que gostaríamos aqui de destacar:

Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente.” (1 João 2:15-17 RA)

a) Neste texto notamos que a palavra mundo diz respeito a algo ruim, diz respeito a um estilo de vida que desagrada a Deus e que deve ser radicalmente rejeitado pelos crentes.

i) Não podemos ter nenhuma afeição pelas coisas do mundo.

ii) Quem ama o mundo mostra que nunca passou por uma experiência autêntica de salvação.

iii) O mundo é caracterizado pela imoralidade, pela cobiça e pelo orgulho. Nada disso faz parte da natureza de Deus.

iv) Este sistema de vida pecaminosa tem seus dias contados. Ele passará. Deus julgará este mundo e o fará cair com todos aqueles que se apegarem a Ele. O que rejeita este mundo viverá para sempre com Deus.

b) Há outros textos que usam a palavra mundo num sentido positivo, de algo que faz parte do nosso tempo, foi criado por Deus essencialmente bom, mas que tem os seus dias contados, por causa da nova criação que Deus fará, quando todo o seu plano de salvação for cumprido (I Coríntios 7:25-35):

25 Com respeito às virgens, não tenho mandamento do Senhor; porém dou minha opinião, como tendo recebido do Senhor a misericórdia de ser fiel.
26 Considero, por causa da angustiosa situação presente, ser bom para o homem permanecer assim como está.
27 Estás casado? Não procures separar-te. Estás livre de mulher? Não procures casamento.
28 Mas, se te casares, com isto não pecas; e também, se a virgem se casar, por isso não peca. Ainda assim, tais pessoas sofrerão angústia na carne, e eu quisera poupar-vos.
29 Isto, porém, vos digo, irmãos: o tempo se abrevia; o que resta é que não só os casados sejam como se o não fossem;
30 mas também os que choram, como se não chorassem; e os que se alegram, como se não se alegrassem; e os que compram, como se nada possuíssem;
31 e os que se utilizam do mundo, como se dele não usassem; porque a aparência deste mundo passa.
32 O que realmente eu quero é que estejais livres de preocupações. Quem não é casado cuida das coisas do Senhor, de como agradar ao Senhor;
33 mas o que se casou cuida das coisas do mundo, de como agradar à esposa,
34 e assim está dividido. Também a mulher, tanto a viúva como a virgem, cuida das coisas do Senhor, para ser santa, assim no corpo como no espírito; a que se casou, porém, se preocupa com as coisas do mundo, de como agradar ao marido.
35 Digo isto em favor dos vossos próprios interesses; não que eu pretenda enredar-vos, mas somente para o que é decoroso e vos facilite o consagrar-vos, desimpedidamente, ao Senhor.

c) Neste texto notamos que o casamento é algo deste mundo.

i) Em primeiro lugar, a Palavra de Deus aconselha aos solteiros que permaneçam solteiros por três razões.

(1) O tempo presente é de muitas angústias. É mais fácil passar pelos problemas quando se é solteiro do que quando se é casado.

(2) A realidade tal como a conhecemos vai mudar completamente. Deus vai julgar este e vai criar um novo céu e uma nova terra. Nesta nova realidade, que será permanente e melhor do que a realidade em que vivemos, não haverá casamento.

(3) O solteiro tem mais tempo para se dedicar a obra do Senhor do que o casado, porque o casado deve se dedicar a sua família.

ii) Apesar da Palavra aconselhar o solteiro a permanecer solteiro, ela não afirma que o casamento é algo errado e nem diz que quem procura casar está cometendo um pecado ( I Coríntios 7:29).

iii) Deixando claro que casar não é pecado, a Bíblia afirma que o casado que cuida do seu cônjuge, cuida das coisas do mundo (I Coríntios 7:33-34).

iv) Podemos concluir que a palavra mundo pode ser usada nas Escrituras pelo menos em dois sentidos:

(1) Sentido negativo: o modo de vida pecaminoso que se opõe a Deus e que deve ser rejeitado completamente pelo cristão.

(2) Sentido positivo: algo que faz parte do nosso tempo, que foi criado por Deus essencialmente bom, mas que tem os seus dias contados, por causa da nova criação. Dessas coisas o crente pode se utilizar, porque são legítimas, mas se ele as deixar de lado, tendo dom e oportunidade para fazê-lo, poderá se dedicar mais a Deus de modo desimpedido.

C. Existe alguma diferença entre secular e mundano?

1) Assim, eu gostaria de propor um ajuste mais específico das definições de mundano e secular para que possamos abordar o nosso assunto principal com mais propriedade.

a) Mundano é tudo aquilo que é pecaminoso, que se opõe a Deus, que se propõe a ser um estilo de vida que contradiz o que o Cristianismo bíblico afirma e que, portanto deve ser plenamente rejeitado pelo jovem crente.

i) Pensado nesta definição que resposta nós daríamos a pergunta: “o crente pode ouvir música mundana?”.

ii) A resposta seria indiscutivelmente não.

iii) Se há uma música cuja letra, melodia e ritmo refletem valores que não são cristãos, opondo-se a Deus, manifestando uma filosofia de vida ligada às paixões imorais dos filhos da desobediência, sob a influência de Satanás, então esta música não pode ser ouvida pelo cristão. [*]

b) Secular é tudo aquilo que não diz respeito a uma dedicação direta a Deus no culto, na adoração ou no serviço, mas que não é necessariamente errado, dependendo se a pessoa coloca estas coisas no seu devido lugar, sempre numa ordem menos prioritária da vida em relação àquilo que é sagrado, que é pertinente as coisas de Deus.

i) Algumas áreas da vida poderiam ser incluídas na área do secular:

(1) Diversão

(2) Esportes

(3) Sexualidade

(4) Família, que tem seu aspecto sagrado também

(5) Política

(6) Economia

(7) Ciências

(8) Artes, em que a música está incluída

ii) Nenhuma dessas áreas é errada. Deus criou todas elas essencialmente boas quando nos dotou de personalidade e criou o mundo em que vivemos.

iii) Estas áreas da vida devem ser colocadas sempre numa prioridade mais baixa do que a área da religião cristã e devem ser diretamente influenciadas pela religião verdadeira.

iv) Estas áreas prestam sempre um auxílio a área da religião providenciando para a religião aquilo que estas áreas possuem de melhor, mas grande parte do seu conteúdo e da sua atividade só são apropriados no seu próprio campo de ação. A arte, por exemplo, pode providenciar ao cristianismo o que ela tem de melhor em sua música, mas só pode alcançar os ideais mais elevados de beleza que ela se propõe a alcançar se for uma esfera emancipada da vida e não precisar de qualquer outra área da vida para se justificar.

v) Quando procuramos misturar o secular com o sagrado, nós tornamos tanto o secular quanto o sagrado mundanos, porque este mundo procura desfazer a distinção entre o secular e o sagrado para desrespeitar o Deus Santo. Um bom exemplo desta mistura errônea é o uso da sexualidade nas religiões pagãs. Parte do ritual da religião grega era a adoração por meio de orgias e por meio da consagração de pessoas a serem usadas nos templos em atos de prostituição. Isto é misturar a sexualidade que é secular com o sagrado e desvirtuar tanto a sexualidade quanto a religião que possuem suas áreas de ação e áreas que, se funcionarem apropriadamente, promovem a santidade e a verdadeira adoração.

c) No gráfico abaixo, procuramos diferenciar com clareza as definições estabelecidas:

i) Secular não é igual a mundano.

ii) Há coisas que são seculares e que são cristãs. Há coisas que são sagradas e que são mundanas.

iii) O secular é diferente do sagrado e esta diferença deve ser mantida.

iv) O secular está em submissão ao sagrado e pode até ser deixado de lado para que haja uma dedicação maior ao Senhor.

v) O mundano deve ser completamente rejeitado pelo cristão, inclusive a falsa religião que se propõe a ser sagrada.

2) Diante de tudo que falamos, podemos estabelecer uma definição de música secular e notar que tipos de música secular nós temos em nossa cultura.

a) Música secular seria aquela música que não fala diretamente de Deus ou das verdades do evangelho, mas que não possui nenhum ataque declarado aos valores do Cristianismo. Esta música destaca áreas da vida que foram criadas por Deus essencialmente boas, mas que, por conta do pecado do homem, têm sido deturpadas e corrompidas pelo homem. É a música que trata de áreas da vida como diversão, esportes, política, História, cultura e arte em si mesma.

b) Notemos alguns tipos de música eminentemente seculares, mas que não são mundanas.

i) Na área da diversão: as cantigas de roda, os divertimentos, as serenatas, as canções populares, as valsas, as suítes, os concertos, as sinfonias, as óperas, etc.

ii) Na área dos esportes: os hinos dos times de futebol, os refrões das torcidas, as músicas ligadas às aberturas de eventos esportivos, etc.

iii) Na política: os hinos pátrios (nacional, à bandeira, da independência, do aviador, do Estado do Ceará), as músicas das candidaturas, os hinos dos partidos, etc.

iv) Na História: os grandes poemas que narravam o nascimento de uma nação ou os feitos dos grandes heróis da nação.

v) Na sexualidade: a música romântica que fala do amor entre um homem e uma mulher nos moldes da família e do casamento cristão.

D) Diante dessa definição de música secular, a música que não é escrita para os cultos, mas que não contradiz as ideias do cristianismo, que deve ser usada apropriadamente, e que não tem maior importância na nossa vida do que a música sacra, vamos à segunda pergunta do nosso estudo.

II. O que a Bíblia diz sobre o assunto?

A.A Bíblia afirma que devemos fazer distinção entre o sagrado e o secular.

1) Os sacerdotes tinham obrigações mais pesadas que os distinguissem do povo em geral (Levítico 10:8-11).

2) A música que feita para uma diversão sadia não é errada quando utilizada na diversão sadia. Quando aquele formato de música de diversão é utilizado no culto, misturamos o sagrado com o secular e desvirtuamos os dois.

3) Em certas reuniões de jovens, presenciei no passado os músicos tocando aquela música da abertura da família Adams. Isto não é correto.

B. A Bíblia ensina que o que é sagrado tem maior importância do que o secular (Filipenses 3:17-21; Colossenses 3:1-4).

C. A Bíblia possui exemplos de música secular. Estas passagens nos mostram que a música secular faz parte da realidade das culturas bíblicas e que este tipo de música não é condenável por si só.

1) Jubal, um descendente de Caim, que fazia, portanto, parte de uma linhagem que se afastou de Deus, foi reconhecido como pai dos que harpa e flauta (Gênesis 4:21). Apesar disso, a música não pode ser considerada intrinsecamente má, porque nos salmos e no Novo Testamento somos exortados a adorar a Deus com cânticos.

2) Labão argumentou com seu genro que era necessário haver uma despedida com música e não uma fuga (Gênesis 31:27).

3) O povo de Israel entoou um cântico que falava a um poço que desse água (Números 21:17).

4) As filhas de Israel lamentavam de ano em ano o sacrifício da filha de Jefté (Juízes 11:40).

5) As mulheres de Israel exaltaram as vitórias de Davi (I Samuel 18:7).

6) Barzilai rejeitou a hospitalidade de Davi, porque sabia que não podia, entre outras coisas, desfrutar mais da música por causa da sua idade avançada (II Samuel 19:35).

7) Jesus usou a ilustração dos gritos dos meninos nas praças para mostrar como sua geração era incrédula a respeito da chegada do reino de Deus (Mateus 11:17).

8) Paulo usou como ilustração a música utilizada para fins militares (I Coríntios 14:7).

III. Que conclusões nós podemos tirar dos dados bíblicos?

A. A música secular não é necessariamente errada e condenável para separação do jovem crente. Quando esta música trata de áreas da vida que não são necessariamente religiosas, ou seja, não estão ligadas de modo direto ao culto cristão, sem contradizer os padrões bíblicos estabelecidos para estas áreas, o cristão pode entrar em contato com esta música, contato que não coloque em uma posição de maior prestígio do que a música sacra.

B. Para que uma música secular possa ser ouvida ela deve atender a três critérios importantes: edificação na fé, uso apropriado e amor fraternal.

1) Edificação na fé – a música secular deve se posicionar sempre numa ordem de importância inferior a importância que eu dou a música religiosa.

2) Uso apropriado – a música secular, quando utilizada, deve se restringir aos seus propósitos e ser utilizada em ambientes sadios que não vão comprometer o meu testemunho.

3) Amor fraternal – o uso da música secular na minha vida não pode ferir a consciência dos meus irmãos em Cristo. É melhor deixar o seu uso de lado se isto prejudicar qualquer relacionamento pessoal ou provocar escândalo ao evangelho.

IV. Que conselhos poderíamos dar para que os jovens possam entrar em contato com a música secular sem comprometer a sua fé?

A. O jovem está em franco processo de formação.

1) Procure os meios de obter educação musical. Quanto mais você conhecer os processos musicais, mais você terá condições de escolher melhor as músicas que você ouve.

2) Sugiro dois meios de educação musical muito bons:

a) Procure os cursos formais de aprendizado de instrumentos musicais.

b) Procure ouvir e procurar entender a Musica Clássica.

B) Sujeite-se a opinião de pessoas mais experientes do que você (I Pedro 5:5).


[*] Nota: Os editores do Música Sacra e Adoração gostariam de lembrar neste ponto o conselho de Paulo em Filipenses 4:8: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.


Fonte: ViolaBrito

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