O Adorador

Um Adorador Diante do Trono

por: Pr. Elcio Lourenço [*]

Introdução

O que Deus espera de nós? Grandes realizações no campo do trabalho evangelístico? Contribuições generosas para a igreja? Jornadas de oração e jejum? Obras de caridade para com os necessitados?

Considero que todas essas ações sejam desejáveis e válidas perante Ele, mas seria possível para o Senhor do Universo torná-las realidade com muito pouco da nossa colaboração.

Há, porem, um elemento que depende totalmente de nós e que somente pode ser tributado ao Altíssimo de livre e espontânea vontade: adoração.[1]

Será que você já avaliou exatamente o que está envolvido em tal atitude? Não seria possível que outros elementos [estranhos à Palavra de Deus] estejam envolvidos naquilo que você pensa ser adorar, prejudicando sua pureza?[2]

Bem, essa meditação não pretende oferecer uma resposta completa a tal importante assunto, mas somente ponderar, à luz da Palavra, alguns aspectos bíblicos envolvidos no que se faz nos dias de hoje.

Uma Retrospectiva

Deus me concedeu várias oportunidades para apreender ao longo de uma vida bastante ativa.

Uma experiência interessante foi aquela de ter sido um dos primeiros produtores de discos evangélicos no Brasil, tendo, inclusive patrocinado o primeiro Long Play Evangélico, nos idos de 60, com o cantor Luiz de Carvalho no selo Músicas Sacras, criado pelo Missionário Virgil Frank Smith, já falecido.

Não é, pois, sem surpresa que tenho presenciado um fenômeno dos dias atuais onde todo “cantor crente” quer gravar seu CD e muitos cantores populares, já não tão populares, querem agendar uma visita as igrejas para mostrar seu “talento”.

É importante avaliar este contexto, para que não sejamos envolvidos em práticas que tomam o lugar da Palavra de Deus e nos aproximam do mundo.

A questão tem efeitos práticos, pois as atitudes isoladas por nós assumidas na busca de agradar a Deus podem, todavia, a médio e longo prazo, fragilizar [o crescimento espiritual da igreja], pois o que nos dá força é a assimilação das vitaminas e proteínas [espirituais] e não o mero comer.

Se quisermos tomar um exemplo da avaliação bíblica poderemos escolher Efésios 5:15-21, a respeito do qual tenho ouvido pregações, mensagens, estudos e exortações desde minha infância, sempre com o enfoque centrado no verso 18 que nos adverte sobre os males da embriagues, deixando de lado tantas lições ótimas da mensagem de Paulo, principalmente aquela relacionada com a importância de sermos cheios do espírito de Deus. [3]

Observe que esse texto nos orienta muito bem sobre a questão do louvor, com cânticos de qualidade espiritual, saídos do coração, em um intercambio entre os salvos que se amam e por isso se sujeitam uns aos outros.

O Louvor e a Adoração Pertencem a Deus

Deus é digno de todo louvor e principalmente de adoração exclusiva, o que acontece hoje através de Jesus, que, certamente, partilha dessa glória. Podemos observar nos seguintes textos bíblicos:

  • Número incalculável de seres (terrestres ou eternos) envolvidos no contexto de quem louva: II Samuel 22:4; Apocalipse 5:12
  • O verdadeiro ato de louvar (que [, como veremos,] equivale à adoração) tem um custo e se torna patente diante de todos: João 12:3; Hebreus 13:12-15

Esse ato de louvar e adorar não deve ocorrer somente em lugares consagrados, situações ideais ou em um momento reservado. Adorar a Deus, além de agradá-lo, tem a função de mostrar aos outros que nos cercam que Ele é Deus, aconteça o que acontecer. [É, também, portanto, um ato de proclamação!]

Um exemplo extraordinário desse comportamento, isento de motivações pessoais, gerado pelo simples fato de que a adoração é tributada exclusivamente pelo respeito que temos para com o Senhor nos é trazido por Jó:

Então Jó (depois de receber notícias devastadoras) se levantou, e rasgou o seu manto, e raspou a sua cabeça, e se lançou em terra e adorou“.(Jó 1:20).

Todos Devem Tributo De Louvor ao Senhor

Todo o universo e todas as criaturas têm a “responsabilidade” de louvar, mas eles tributam o louvor mais por motivação, gerada pelo próprio Deus, do que por obrigação:

Davi, através dos Salmos que compôs e remeteu aos levitas para que adquirissem a condição de cânticos, nos dá o maior exemplo bíblico de uma sistemática de louvor. [Como exemplo, podemos citar o Salmo 85, escrito e enviado “ao cantor mor”].

Seu procedimento, um tanto incomum entre reis e guerreiros, não derivou simplesmente do prazer que tinha em escrever poesias, mas sim porque ele “amava a Deus de todo coração” e isso fazia com que sua adoração fosse aceita pelo Senhor. [Vemos, portanto, que um coração entregue ao Senhor é um dos elementos principais da verdadeira adoração!]:

Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor“. (Salmos 122:1)

Cantar, Louvar ou Adorar?

Nesse instante cabe uma avaliação entre os atos e conceitos de “cantar”, “louvar” e “adorar”, que muitas vezes são colocados como idênticos, embora não sejam.

O “cantar”, diferentemente de muitas das práticas que marcam a vida do cristão – como orar, jejuar, ler a Palavra – é algo que não exige uma determinação, um esforço espiritual, pelo fato de ser compatível com a rotina normal de ser humano. Cantar é algo que praticamente faz parte da bagagem que nos acompanha no nascimento, sendo comum ver crianças muito novas cantando qualquer toada que lhe foi transferida pelo ouvir. O cantar, ou tocar músicas, precede, portanto, as práticas religiosas formais.

Nos dias de hoje é muito fácil identificar certas realidades:

1 – Praticamente todos nós somos “induzidos” por nossa mente e levados a cantarolar alguma música, debaixo do chuveiro ou quando estamos sozinhos.

2 – Nos programas de rádio, há alguns anos atrás, e hoje nos shows de calouros, centenas de pessoas fazem filas, esperam por meses e passam por situações ridículas para mostrar que podem cantar.

3 – Nos cultos, via de regra, aparece um cantor que está lançando seu CD e que considera sua mensagem musical “uma benção”.

4 – Artistas que já foram famosos como cantores e que hoje estão sem público buscam se apresentar em igrejas sob a proposta de que são grandes instrumentos de louvor.

5 – A música evangélica, já há algum tempo tem se tornado bastante ligada à música profana, quando se utilizam famosos temas, com a troca da letra, para “cantar ao Senhor”.

6 – Dentro dessa sistemática temos os hinos/rock, hinos/xaxado, hinos/samba, hinos/reagge, em composições que em muito carecem de harmonia e cujas letras, encaixadas à força, não têm consonância com a Palavra.

7 – A ideia de que qualquer música apresentada na igreja, e que toca no nome de Deus, produz uma forma de unção divina não tem fundamento, pois reações emocionais a música são comuns em qualquer show de música pop. (…)

Durante a montagem deste estudo está acontecendo em Brasília um festival de música pop com a presença de conjuntos que não são os mais famosos do mundo, mas que prevê público diário entre 45.000 e 60.000 “fãs”, que virão de várias localidades do Brasil, gastando boas quantias para isso. Onde está a ação espiritual nesse caso? [Não estamos correndo o risco de apenas reproduzirmos os grandes shows profanos de música? Qual é efetivamente a ação de Deus nisso tudo?]

Isso nos adverte que, embora o cantar possa ser uma base para o louvor, ele não é, necessariamente, a mesma coisa. [Portanto, “Canto” e “Louvor” são elementos diferentes entre si].

A Bíblia, em Salmos 69:12 e Amós 5:23; 6:5; 8:10, nos adverte sobre “cânticos não aceitos pelo Senhor”.

Observe como Paulo trata da questão do louvor em Efésios 5:18-19 e também em Colossenses 3:15-16, onde nos diz: “Que a paz de Cristo habite…”:

[Destacamos o trecho:] “Que a palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros com salmos e hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração”.

Paulo nos mostra que existe um caminho a ser percorrido entre o cantar e o louvar, que tem por base a Palavra, a convivência de amor para com os irmãos, pois fomos chamados em um só corpo.

Isso tem implicações práticas na atualidade, pois as reuniões dos que criam em Jesus no tempo dos Atos dos Apóstolos eram destinadas à comunhão, tendo cada salvo uma função de compor o “culto” a ser prestado a Deus, devendo tudo ser pautado pela “ordem” e a decência, como nos deixou registrado o mesmo apóstolo Paulo em I Coríntios 14:26-40.

Essa “ordem” [implica, portanto, um culto programado,] (…) não sendo válido deixar que as coisas aconteçam de forma “aleatória”, permitindo que longos períodos de cânticos conduzidos por conjuntos, sendo seguidos pela apresentação do coral, seguidos dos “artistas” convidados, de tal maneira que (…) [a exposição da Palavra de Deus] acaba ficando para um final tardio, quando as pessoas já estão pensando [no almoço], ou na “caminha” que o espera em casa.

Isso pode parecer um radicalismo contra os cânticos, ou uma pretensão de querer ensinar ministros a forma de conduzirem suas igrejas, mas nada mais representa que uma análise do enfoque particular e geral deste tema na Bíblia.

Jesus, o mais objetivo de todos os [pregadores], pois só Ele tinha a palavra de vida eterna, desprendeu muito de seu tempo para orientar, curar, orar, mas foi extremamente conservador no que tange aos cânticos, não havendo menção a essa prática, a não ser nos relatos de Mateus 26:30 e Marcos 14:26:

E tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras“.

O louvor válido deve respeitar certos princípios:

Requisitos do bom Louvar Referência Bíblica
Com entendimento Salmos 47:7
Com a Mente I Coríntios 14:15
Com o Coração (sentimento do espírito, entrega do coração a Deus) Salmos 119:7; Salmos 63
Com a Alma Salmos 103:1; Salmos 104
Com alegria(*) Salmos 63:5; Salmos 98:4; II Crônicas 29:30; Jeremias 33:11

(*) Quando falamos em alegria não estamos reeditando o provérbio: “Quem canta seus males espanta” . O louvor válido nasce de um coração alegre no Senhor, o que não elimina a necessidade de que o louvor dirigido a Deus tenha que ser cuidadosamente preparado, com som harmônico, suave e agradável aos ouvidos de todos que o ouvem.

O verdadeiro louvor não é algo cuja origem é a capacidade humana, produzido a partir de ótimos cantores, instrumentos sofisticados, efeitos sonoros, ambiente de palco, roupas bonitas e elegantes, maquiagem e outros elementos comuns aos shows do mundo. (…)

Quem “abre nossos lábios” para o louvor é o próprio Deus, que transforma algo externo que meramente emociona, em um contato com o Eterno que gera milagres.

Abre Senhor, os meus lábios, e a minha boca entoará o teu louvor“. (Salmos 51:15);
Sete vezes no dia te louvo pelos juízos da tua justiça.” (Salmos 119:164).

Pare um pouco para avaliar o episódio vivido por Paulo e Silas:

E perto da meia noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam. E de repente sobreveio um tão grande terremoto, que os alicerces do cárcere se moveram, e logo se abriram todas as portas, e foram soltas as prisões.” (Atos 16:25-26).

Não é possível deixar de observar que os cânticos foram acompanhados de orações e que Paulo e Silas não pretendiam mostrar a si mesmos para ninguém, embora estivessem sendo observados por outros presos. Seu cântico não tinha ambiente nem motivações comuns, era o louvor que se torna adoração e, por isso, chega até ao Senhor.

Sabendo que existe diferença entre “cântico e louvor” devemos considerar, também, que o louvor, mesmo que de ótima qualidade, não é, ainda, a adoração. Temos que evitar a armadilha da similaridade, que quer passar do básico para o sublime, sem percorrer o caminho definido como correto por Deus.

O louvor devotado a Deus tem que ser único. Uma vez que não nos é possível servir a dois senhores, não cabe tributar ao Senhor do Universo algo que também ofereço a qualquer outro. Deus tem direito exclusivo à adoração, que não pode ser oferecida nem mesmo aos anjos, cujo poder e santidade são garantidos pelo próprio Senhor (Mateus 4:10; Apocalipse 9:20).

Jesus, através do relato de João 4:24, deixa bem clara a natureza da adoração:

Deus é espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e verdade“.

Cantar é algo ótimo, principalmente se você possui habilidade vocal ou de tocar instrumentos. Isso pode ser transformado em louvor, que é um “catalisador” da adoração, mas isso deve ser feito de acordo com a orientação da Palavra.

Ao concluir, gostaria de apresentar algumas considerações práticas àqueles que desejam fazer do cântico um louvor e do louvor a adoração, algo que infelizmente [os artistas mundanos, por mais famosos que sejam, nunca conseguirão,] pois sua música não possui os requisitos necessários para que entrem na sala do trono de Deus.

Aos que participam:

  • Participe dos cânticos de sua igreja sempre com alegria.
  • Tenha o louvor como algo presente em seu coração, praticando-o em todo tempo e lugar, mesmo que em silêncio.
  • Louve com sabedoria e com conhecimento da Palavra.
  • Não se preocupe com quem, onde, ou quando se ministra o louvor, mas com o sentido espiritual da ministração.
  • Utilize o louvor como uma forma de entrar na presença do Senhor e adorá-lO. [Somente um coração puro e cheio do Espírito de Deus poderá adorar o Altíssimo na Beleza da Sua Santidade!]

Aos que ministram:

  • Seja um servo e nunca um ídolo
  • Cante para o Senhor e não para a audiência ou para você [mesmo].
  • Saiba que (…) não há um dom [especial] de cânticos ou de louvor, mas sim a habilidade natural das pessoas, que deve ser colocada sob o comando de Deus, para um fim espiritual útil e aceitável a Ele.
  • Prepare seu repertório com hinos cuja música seja agradável para todos que estiverem ouvindo, salvos ou não salvos, jovens e mais velhos, e não somente para você ou para um certo grupo. [Ore a Deus para saber qual música deve fazer parte de seu repertório. E tenha coragem de retirar aquelas que Deus mostrar a você que não são adequadas à adoração coletiva em sua comunidade religiosa.]
  • Que esse repertório contenha em suas canções mensagens segundo a Palavra de Deus e que apresentem um sentido coerente, fácil de ser entendido e guardado no coração. Um refrão pode ser marcante e motivar repetição, mas isso também acontece com a música comum. Seja cuidadoso com o português, o erro de concordância nas músicas sacras não nos ajudam em nada em relação ao influenciar os não salvos.
  • Ore mais do que as outras pessoas [que também têm atividades na igreja. Não é de hoje que sabemos que o ministério musical é atacado de forma especial por Satanás].
  • Santifique sua vida.
  • Seja extra-humilde.
  • Ame seus irmãos de todo coração.
  • Procure envolver sua imagem com aquela de Jesus, você é objeto da atenção de muitas pessoas (Hebreus 12:1).

Notas:

[*] – O título original foi alterado para publicação no Música Sacra e Adoração

[1] A Adoração é realmente uma atitude que depende do reconhecimento da soberania de Deus pelo adorador. Todavia, não podemos nos esquecer de que todo ato santificado executado pelo homem não brota dele, mas da influência de Deus, conforme Filipenses 2:12-13 – “Assim, meus amados, como sempre vocês obedeceram, não apenas na minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor, pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dEle. (NVI)”. (Nota dos editores do Música Sacra e Adoração).

[2] Todos os termos entre [colchetes] são adições dos editores do Música Sacra e Adoração e não constam do artigo original.

[3] Os textos das referências bíblicos utilizadas neste artigo, são adições dos editores do Música Sacra e Adoração.


Fonte: Publicado originalmente em http://www.netgospel.com.br/php/artigos/view.php?codigo=437&secao=13&colunista=36″>.

Tags: