A Adoração

Que Deus Adoramos?

por: Guilherme Kerr

Nossa fé, cristã e evangélica, tem profundas raízes no judaísmo. Jesus, o Messias, filho de Deus e Salvador do mundo é também o prometido e esperado de Israel e das nações. Deus é o Pai eterno e Criador de todas as coisas (“do mundo e tudo o que nele há” (Atos 17:24)), mas também é claramente identificado como o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. É muito importante manter esta identidade. Digo porque:

Vivemos num mundo pós-moderno onde a verdade tornou-se relativa – não existe mais, para muitos hoje em dia, uma verdade absoluta – apenas a minha verdade ou a sua verdade. Onde o mais importante é ser “politicamente correto” (respeitar todas as versões, não pisar no “calo” de ninguém). Um mundo onde o maior valor de todos é a tolerância (entendida como a aceitação pura e simples de todas as fés, credos, filosofias e estilos de vida). Um mundo onde a própria fé é relativa – onde o mais importante é “ter fé”, e não questionar fé em que ou em Quem?

Neste sentido, “crer em Jesus” passou a significar qualquer coisa. Porque “Jesus” é qualquer coisa: tem gente conversando com “Jesus” em viagens extra-corpóreas como nas ficções do bruxo [Paulo] Coelho; tem menino vendo “Jesus” no Brejo da Cruz como nas letras do Chico Buarque; tem espírita que lhe dirá que também crê em “Jesus” e que Ele é o mais iluminado de todos os espíritos, o mais aperfeiçoado (entenda-se mais re-encarnado em direção à perfeição), o mais próximo do Pai. Tem gente re-interpretando Jesus e os evangelhos e mostrando como Ele seria na verdade um homem tão semelhante a nós, e o teatro e cinema não cansam de mostrá-lo bem humano (mas “bem humano mesmo”!), às vezes inflamado sexualmente por Maria Madalena, às vezes até como um homossexual no meio de outros homossexuais.

Conheço inclusive muita gente boa e assumidamente evangélica que, diferente das aberrações acima, crê sim em Jesus, mas um Jesus só do Novo Testamento. Gente que vê (e não sei se lê) o Antigo Testamento apenas como uma coleção de livros históricos que tem valor como registro sagrado, mas não com a nossa jornada de fé hoje. Gente que vê um Deus irado e legalista no AT e um Deus de graça e de bondade no NT. Um Deus que mudou.

Quão diferente do ensino de Jesus que afirmou ser “um com o Pai” (João 10:30) e não fazer nada que não tenha visto o Pai fazer (João 5:36); que não tinha outra comida ou bebida senão fazer a vontade dAquele que O enviou (João 4:34). Quão diferente do apóstolo Paulo que com toda perseguição que sofreu dos próprios conterrâneos judeus, jamais abriu mão de identificar Jesus como o Messias de Israel, o filho e semente de Davi (II Timóteo 2:8), o prometido descendente de Abraão (pai de todos os que tem fé (Gálatas 3:7)). Paulo que percebia toda a escritura (referindo-se principalmente ao Antigo Testamento) como sendo inspirada por Deus, útil para a correção e para o ensino (II Timóteo 3:16).

Você que é meu colega no ministério da adoração – cuidado com as novas teologias, os novos ventos de doutrina, com as letras que descrevem só a subjetividade da relação com Deus; porque embora a experiência de qualquer pessoa seja importante e deva ser respeitada, não é a experiência que determina a nossa fé. A fé verdadeira vem de conhecer o caráter de Deus, que se revela sim na Natureza criada, que se revela sim pelo Espírito na subjetividade do nosso coração; mas acima de tudo, na Sua palavra escrita e guardada sobrenaturalmente para nosso proveito.

Seja cauteloso com as letras que só refletem “a minha experiência de Deus ou com Deus”. Já imaginou se Paulo, o apóstolo, fizesse o mesmo e colocasse como norma para todos os que se convertem passar por uma experiência como a dele? Você só poderia “sentir-se” salvo se:

(1) estivesse perseguindo cristãos,
(2) a caminho de Damasco, capital da Síria,
(3) visse uma luz no céu mais clara do que o sol do meio-dia;
(4) ouvisse uma voz do céu dirigida a você e falando hebraico (vamos ter que supor que você obviamente entenderia hebraico!);
(5) ficasse cego por uns dias …. e por aí vai.

Ia ficar muito difícil se converter “direitinho”, não é mesmo?

Lembre-se: testemunho deve ser dado como testemunho e não como doutrina. Já a Palavra é eterna e soberana. “O mundo pode passar – as minhas palavras não passarão”. Essa é nossa regra de fé e de prática. Assim se revela o nosso Deus. O que passar disso ( ou ficar aquém disso) é de procedência maligna.

Deus nos abençoe!


Guilherme Kerr, é músico, compositor e pastor, morando hoje nos Estados Unidos


Fonte: Publicado originalmente em http://www2.uol.com.br/bibliaworld/amc/reflex.htm

Tags: