A Adoração

Colocando o Ministro em Seu Devido Lugar

por: Jorge Luis Jesuino

Umas das perguntas mais difundidas dentro de nossos ministérios musicais é a de qual a verdadeira função e lugar de quem ministra o Louvor & Adoração congregacional. Temos várias linhas de pensamentos sobre este assunto, mas infelizmente temos poucos livros e estudos que falem abertamente sobre isto. Este é um assunto altamente divergente e perigoso, pois traz a tona pensamentos e argumentos altamente apaixonados.

Tenho o sonho de trazer neste estudo algo que nos faça, pelo menos, pensar a respeito deste assunto tão polêmico. Sei que não terei unanimidade no que vou colocar aqui, pois tenho uma postura em relação ao ministro que pode desagradar a muitos, por isso peço que leia todo o texto, antes de originar algum tipo de julgamento.

“Mas tu põe os levitas sobre o tabernáculo do testemunho, e sobre todos os seus utensílios, e sobre tudo o que pertence a ele; eles levarão o tabernáculo e todos os seus utensílios; e eles o administrarão, e acampar-se-ão ao redor do tabernáculo.” (NM 1:50)

Aprendi uma definição de ministro musical um pouco diferente, mas bem simples: Ministrar Louvor, assim como ser o ministro, é sinônimo de puro trabalho, e muitas vezes árduo. Temos que lutar contra vários problemas e limitações, tanto pessoais como coletivos semanalmente, assim como também temos que nos relacionar com o grupo musical que temos a nossa disposição.

Os levitas no antigo testamento tinham um intenso trabalho em seu ministério – fico cansado toda vez que leio a lista de afazeres que tinham de cumprir diariamente – apesar de não querer entrar na questão de que se é certo ou não sermos chamados de levitas, creio que eles têm muito a nos ensinar, sobre adoração, serviço e missão.

Podemos aprender com esses homens (e também com outros), as qualidades necessárias que precisamos para cumprir a missão que nos é dada hoje, dentro de ministérios musicais complexos e muitas vezes confusos. Principalmente porquê quando se trata de Adoração congregacional, nosso ministério sempre nos traz uma dupla-responsabilidade que nunca pode ser negligenciada.

Como ministros musicais, devemos ter uma vida de adoração com o Deus que cantamos, além de precisarmos auxiliar o povo em suas necessidades de adoração. Temos na Adoração & Auxílio nossa missão, tão esquecida nos últimos anos.

Temos a missão de adorar a Deus

“O SENHOR veio salvar-me; por isso, tangendo em meus instrumentos, nós o louvaremos todos os dias de nossa vida na casa do SENHOR.” (IS 38:20)

Quando digo que a adoração é uma missão, é porque o que devemos fazer por um Deus que nos ama de tal forma, a ponto de elaborar e executar um projeto para nos salvar do pecado que dominava nossas vidas, não pode ser outra coisa além disso. Mas deve ser feito em total liberdade, sem nenhum tipo de constrangimento.

Creio que o único elemento indispensável para se determinar um ministro musical, seja o fato que ele necessite ser, antes de qualquer coisa, um adorador. Nunca conseguiremos cumprir alguma coisa dentro de nosso ministério se não tivermos intimidade com Deus e Sua adoração. O único fruto que um ministério musical terá, se for ministrado por alguém que não tenha uma vida de adoração, será a catástrofe.

Ter momentos de adoração pessoal, além de estudos da palavra, mais uma vida diária de oração e intercessão, são alguns dos principais fatores que nos levam a ter uma vida de adorador. Sei que, música & canto, são extremamente importantes, pois precisamos ser excelentes em nossas músicas. A igreja local nos dias de hoje precisa de bons músicos e cantores para ensinar as verdades da palavra de forma criativa. Mas também necessitamos de pessoas que tenham uma vida de adorador, para que com isso possamos dar consistência as verdades que queremos transmitir.

Ser um adorador fiel é de extrema importância, porque o que fazemos sobre a plataforma, sempre será o resultado daquilo que vivemos em nossa vida cotidiana. Você deve ser ministrado e tocado por aquilo que vai estar ministrando ao povo no culto. Todos devem receber algo que já foi provado e saboreado por você, algo que transformou sua vida e assim, transformará a deles.

Por isso a adoração a Deus é tão importante para o ministro – não poderemos administrar algo que não conhecemos, nem orientar alguém para um lugar onde nunca fomos. A ministração do culto de domingo a noite deve começar na segunda feira de manhã (quando a maioria de nós vai para o trabalho) e terminar no domingo à noite (quando efetivamente estamos ministrando para o povo). Se conseguirmos compreender isso, então estaremos cumprindo a primeira parte de nossa missão de forma correta.

A adoração a Deus sempre deve ser a prioridade absoluta de nossos ministérios, assim como de nossas músicas, temos que louva-lo por tudo que já fez por nós e pela congregação, precisamos lembrar que nossa vida de adoração pessoal é mais importante que qualquer outra coisa neste mundo, até que nossas músicas.

Temos a missão de auxiliar o povo

“Então entraram Moisés e Arão na tenda da congregação; depois saíram, e abençoaram ao povo; e a glória do SENHOR apareceu a todo o povo. Porque o fogo saiu de diante do SENHOR, e consumiu o holocausto e a gordura, sobre o altar; o que vendo todo o povo, jubilaram e caíram sobre as suas faces.” (LV 9:23-24)

Sei que o livro de Levíticos, é um dos mais esquecidos da Bíblia, principalmente por seu conteúdo altamente chocante e controverso. Mas temos no capítulo nove um grande exemplo de auxílio que não podemos deixar a margem. Moisés e Arão entram na tenda da congregação, têm momentos de adoração pessoal, e quando saíram levaram o povo a uma adoração congregacional sem precedentes na história.

O auxílio na adoração congregacional é a segunda parte de nossa missão, é a continuação lógica de nossa adoração pessoal, ela não é nem menor ou maior que a primeira. Creio realmente que, ambas as partes (Adoração & Auxílio) se confundem muitas vezes, e em outras até se completam. Como ministros musicais devemos ter esses elementos em total sintonia e igualmente motivados em nossa vida, assim como na vida de nossos grupos.

Quando se trata de ministração congregacional, devemos nos posicionar de forma que não fiquemos no caminho do que Deus quer fazer com a congregação naquele dia. Temos que ter em mente que somos os responsáveis (não os intercessores) por aqueles momentos de adoração. Sempre tendo em mente que Deus é a fonte e somente por sua intervenção é que poderemos cumprir o chamado de Adoração, por isso, devemos preparar a congregação com textos, orações e músicas, para que compreendam esta intervenção divina em suas vidas.

Sei que corro o risco de ser chamado de “manipulador”, mas, na verdade, quando se está interessado em ministrar Louvor & Adoração de forma correta, estaremos muito próximos disso. A linha que separa a Manipulação da Ministração, muitas vezes é extremamente fina e delicada, por tanto, para que não erremos, nossa ministração deve ser baseada em um relacionamento saudável entre a congregação e seu ministro. Se mostrarmos o caminho para alguém e não irmos com ele, isso não será relacionamento e sim manipulação, por isso temos que caminhar juntos com a congregação.

O povo deve ter a confiança necessária para se deixar levar por alguém que diz que se importa com suas necessidades. Precisamos de ministros que se alegrem juntamente com o povo, chorem com eles e saltem com todos. A adoração deve partir da plataforma, e contagiar a congregação, mas o inverso também pode acontecer.

Tenho comigo que quando o povo não responde ao chamado de adoração, com algumas raras exceções, é total responsabilidade do ministro. A congregação não tem obrigação de ser massacrada por pessoas que não tenham amor por ela, e nem se importem com suas necessidades. Não lemos na bíblia, nada que obrigue alguém a cantar as músicas que escolhemos para aquele momento do culto. Os ministros precisam, antes de qualquer coisa, buscar ter uma comunhão com a congregação e passar a confiança que todos necessitam para ter uma adoração segura.

Mas, eles não podem ficar sem liderança, sempre devemos ter alguém os “guiando” para onde Deus quer. Esse trabalho deve começar em nós, pois somos nós os maiores interessados em que todos na congregação tenham uma experiência de adoração com Deus. Pelo menos aqueles ministros que realmente compreendem sua missão, e tentam cumpri-la.

Conclusão

“Porque Deus não é injusto para se esquecer da vossa obra, e do trabalho do amor que para com o seu nome mostrastes, enquanto servistes aos santos; e ainda servis.” (HB 6:10)

Adoração, assim como nosso ministério, é uma avenida de mão dupla, ela sai de Deus e deve voltar para Ele. Nossa missão é também dupla, porque devemos adorar a Deus e auxiliar no processo de adoração congregacional.

Conheço alguns argumentos contrários a tudo o que escrevi aqui, o principal deles é o que diz que “devemos Adorar a Deus somente, e não devemos nos preocupar com mais ninguém, além de nossa intimidade com Deus.” Apesar de uma certa aparência espiritual, este argumento esconde um tremendo egoísmo ministerial por parte de quem defende esta ideia.

Concordo quando dizem que Deus é a prioridade máxima de nossas vidas, mas quando abordamos os elementos de um ministério, querendo ou não, nós somos os responsáveis em canalizar toda uma congregação para as “Bênçãos” decorrentes da adoração. Sendo assim, creio que Deus está sendo adorado por mim quando a função e responsabilidade que Ele me deu sobre o povo dEle, está sendo cumprida da maneira correta.

Outro argumento muito usado para nós ministros musicais não nos envolvermos com a adoração congregacional, é o de que somente o Espírito Santo tem a Habilidade e Santidade necessária para “levar alguém a adorar a Deus”. Portanto não podemos interceder por ninguém. Temos é que cantar nossas músicas e preocupar com a adoração pessoal.

Isso é a mais pura verdade, somente o ES é quem intercede pelo povo, só Ele tem a capacidade necessária para fazer com que toda uma congregação adore a Deus. Apesar de aparentar estar me contradizendo, quero dizer inicialmente, que acredito que Deus nos usa como canal (caminho) inicial, para o processo de Adoração que quer trazer ao povo.

Nunca disse que temos de retirar o ES deste processo, quero mostrar que devemos assumir nossa responsabilidade ao lado dEle, e nunca sobre Ele. Foi o próprio Cristo quem disse: “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.” Jesus nos deu uma obrigação, nós não faremos nada sozinhos, mas devemos querer cumprir aquilo para qual Deus nos separou, juntamente com Ele.

Colocar o Ministro em seu devido lugar, é definir de forma clara suas responsabilidades frente à congregação, reconhecer de onde vem seu ministério e principalmente que sua missão deve ser à Adoração a Deus & o Auxílio ao povo dEle.

É incrível, mas quando nos preocupamos com as necessidades da congregação e buscamos leva-la a uma experiência única de adoração, todo esse trabalho é “transformado” automaticamente em uma forma de Adoração pessoal. Nós auxiliamos o povo, e Deus nos auxilia… Lembra da via de mão dupla? Isso é adoração congregacional.

Até a próxima…

Jesuino
Projeto Ágape – Vila Mariana/SP


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