A Adoração

Adoração, Músicos e Músicas

por: Rodolpho Gorski

Quando ocorreu pela primeira vez, a cena deve ter sido mais ou menos assim: Alguém se levanta e diz: “E agora, para a honra e glória de Deus, ouviremos um solo vocal que será apresentado pelo irmão…”. O irmão se encaminha à plataforma, posta-se junto ao microfone. A congregação, por não ver nenhum acompanhante, seja ao piano, ou órgão ou outro qualquer instrumento, deduz que ele vai cantar sem acompanhamento.

Nesse instante, o solista olha para a técnica de som e com a cabeça faz um sinal de assentimento, e imediatamente ouve-se o inicio da música gravada que passa a ser o acompanhamento do solo. Era o início da era do play-back.

Na mente dos adoradores, diversas perguntas começaram a surgir: O louvor a Deus é o solo vocal ou a música toda? Por que a música não é ao vivo? Deus aceita o louvor por “procuração”, isto é, um grava e o outro apresenta? E as pessoas que gravaram, o fizeram para louvar a Deus ou só porque eram profissionais da música? Esse acompanhamento condiz com o espírito de louvor?

A cena descrita já se repetiu por tantas e tantas vezes que a esta altura muitos já a aceitam como consagrada pelo uso e poucos se detêm a pensar sobre o verdadeiro significado da participação dos músicos e suas músicas no contexto da verdadeira adoração. Há ainda um outro importante elemento a ser considerado, que é a coerência que deve existir entre letra, música e intérprete.

A seguir, de forma desprendida de qualquer preconceito e objetivando unicamente contribuir para um melhor louvor e adoração a Deus, analisemos os princípios básicos que alguns poucos textos bíblicos nos dão sobre a questão.

Espírito de adoração

“Deus é espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito” (João 4:24). A adoração efetiva é aquela em que o adorador entra em sintonia com o objeto da adoração, que é Deus. A comunhão é, pois, indispensável, e sem ela não pode haver adoração e louvor. A comunhão é uma via de duas mãos. Deus Se comunica conosco e nós nos comunicamos com Ele. Isso é encontro, identificação e sintonia, em espírito, entre Deus e o adorador.

Viver a verdade

Jesus disse: “Importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade” (João 4:24).

Uma das bases da comunhão e da sintonia entre Deus e o Homem é a Verdade. A mentira levou o homem a separar-se de Deus, mas a Verdade, personificada em Jesus, uniu-nos de volta a Deus.

A aceitação intelectual da verdade é importante, pois é o ponto de partida para todas as mudanças da vida. Entretanto, é na pratica da verdade que se consolida a comunhão entre Deus e o homem. A verdade interiorizada em nós, pela graça de Cristo, exterioriza-se em nosso dia-a-dia através de todos os nossos atos.

Assim, pois, o adorador deve apresentar-se humildemente diante de Deus com lábios e ouvidos purificados; com mãos consagradas e o coração pronto para ouvir e seguir unicamente a verdade. O louvor de quem não vive a verdade, não é autêntico.

Santidade divina

“Adorai ao Senhor na beleza da Sua santidade” (Salmo 29:2). Sendo que a nossa adoração é prestada a um Deus que reconhecemos ser Santo, temos que ter em mente que tudo o que fizermos no sentido de prestar-Lhe culto, deve ser tributário a reverencia e à santidade do Deus que adoramos.

Além da adoração direta que prestamos, temos também que levar em conta o lado pedagógico do culto. Ali estão presentes crianças, visitas e novos conversos, e estes devem aprender de tudo aquilo que vêem e ouvem. E, como no Santuário do deserto, a expressão “Santidade ao Senhor” deve estar presente no pregador, na mensagem, nos cantores, nos músicos e nas músicas com suas melodias, harmonias e ritmos. O culto de adoração a Deus não é o lugar de imitações daquilo que é veiculado no radio ou televisão. É lugar de coisas santas para um Deus Santo.

À luz desses princípios, fica relativamente fácil, para os fiéis e sinceros, estabelecerem um critério para a adoração e o louvor. Entretanto, embora a questão seja simples, tem que merecer de nossa parte constante atenção e vigilância, porque se trata de assunto sumamente relevante – a Santidade de Deus.

Orientações

O Manual da Igreja, nas páginas 110 e 111, traz algumas orientações muito precisas sobre a música:

“O canto é feito em geral por impulso ou para atender a casos especiais, e outras vezes deixam-se os cantores ir errando, e a música perde o devido respeito…”.

“Em seus esforços para alcançar o povo, os mensageiros do Senhor não deverão seguir os caminhos do mundo”.

“Não nos devemos opor ao uso de instrumentos de música em nossa obra”.

“Grande cuidado deve ser exercido na escolha dos diretores do coro e na dos encarregados da música nos cultos da Igreja”.

“A música profana ou que seja de natureza duvidosa ou questionável, nunca deve ser introduzida em nossos cultos”.

E, quanto a quem deve participar, conclui: “Devem ser membros da Igreja, da Escola Sabatina ou da Sociedade de Jovens Adventista e, em sua aparência pessoal e em sua maneira de vestir, conformar-se com as normas da Igreja, estabelecendo um exemplo de modéstia e decoro”.

Conclusão

A Igreja Adventista tem sido conhecida como a igreja da boa música. Embora precisemos preservar esse conceito, temos que cuidar com dois perigos que rondam os arraiais nestes dias. O primeiro é o de nos encastelarmos no alto do pedestal e não admitimos o surgimento de novas expressões de louvor, achando que a única inspiração legitima é aquela calcada nos padrões já existentes. Já o segundo, vem do outro extremo que descamba para a vulgaridade ou secularização da música sacra. Temos que estar atentos, pois rótulo e embalagem não dão autenticidade ao produto, ou seja, não é prova de legitimidade. O trinômio origem ou fonte, música e letra é que compõe o quadro completo.

Há uma conhecida história que ilustra bem esta questão. Diz-se que certo missionário, após um longo período de ensino religioso aos nativos, chegou ao ponto culminante quando realizou o batismo dos novos conversos. Na cerimônia batismal, ele achou por bem trocar os nomes pagãos dos nativos por nomes que ele achava serem cristãos. Um bom tempo depois, o missionário voltou À aldeia e ficou muito decepcionado quando notou que os nativos haviam voltado a comer carne de porco. Ao pergunta-lhes sobre o porquê deste ato, ficou surpreso com a resposta: “Nós resolvemos o problema de maneira bem simples, batizamos os porcos e lhes demos novos nomes”. Nós não podemos ser ingênuos.

Não basta batizar a música chamando-a pelo novo nome de “música sacra”. O rótulo externo com um novo e atrativo nome, nada diz. O que realmente diz é a natureza do produto, a sua fonte e a sua identificação. Identifica-se com o Céu ou com o mundo? É apropriada para ser cantada por alguém que está andando com Jesus, ou seria sucesso numa casa noturna ou numa emissora FM comum?

Todos sabemos que alguns artistas da música têm-se servido do louvor e da Igreja, objetivando o consumo de seus produtos. Estes, por vezes, visando a vendas e lucros, têm permitido que seus produtos tenham excelentes qualidades técnica ao passo que têm caído na qualidade e pureza do verdadeiro louvor. Entretanto, há outros que, como bons cristãos, criteriosos e consagrados artistas, têm colocado a sua arte inteiramente a serviço do louvor autêntico. Têm produzido coisas novas, boas e dignas do louvor a Deus. A estes, parabéns!


Anexo:

I. Como expressar adoração

1. Pela música cantada e instrumental:

“Apresentai-vos a Ele com canto.”

“Entrai pelas portas dEle com louvor e em Seus átrios com hinos” (Salmo 100:2 e 4).

“Louvai-O com som de trombeta. louvai-O com saltério e a harpa. Louvai-O com adufe e a flauta. Louvai-O com instrumentos de corda e com harpa” (Salmo 150:3 e 4).

2. Pela oração

“Ó, vinde adoremos e prostremos-nos; ajoelhemos diante do Senhor que nos criou” (Salmo 95:6).

3. Pelos testemunhos de gratidão

“Louvem ao Senhor pela Sua bondade, e pelas Suas maravilhas para com os homens. E ofereçam sacrifícios de louvor e relatem as Suas obras com regozijo” (Salmo 107:21 e 22).

4. Pelas oferendas

“Daí ao Senhor a glória devida ao Seu nome; trazei oferendas e entrai nos Seus átrios” (Salmo 96:8).

II. Bênçãos para os adoradores

“Bem-aventurados os que habitam em Tua casa; louvar-Te-ão continuamente” (Salmo 84:4).

“…há um memorial escrito diante dEle, para os que temem ao Senhor e para os que se lembrem do Seu nome. E eles serão Meus, diz o Senhor dos exércitos, naquele dia que farei serão para Mim particular tesouro; poupa-los-ei como um pai poupa a seu filho, que o serve” (Mal. 3:16 e 17).


Fonte: Revista Adventista, Dezembro 93, páginas 9 e 10.

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